Página acrescentada em 22 de maio de 2005. Atualizada novembro
de 2020. Luiz Américo Margarido por Paulo Roberto Peralta Clique aqui e veja uma entrevista com esse ex-piloto, em 1958
Nasceu no dia 2 de novembro de 1920 em São Paulo no bairro de Vila Medeiros quando este ainda era um bairro rural e distante do centro, lá passou toda infância e adolescência ajudando o pai na lavoura. Aos 21 anos mudou-se para a casa da irmã, já casada, que morava no centro da cidade perto do Mercado Municipal e foi trabalhar numa transportadora como ajudante, mas logo percebendo que os motoristas ganhavam mais, tratou de tirar carta de habilitação e começou a "choferar" os caminhões. Casou-se com Maria Piedade e tiveram três filhos, duas meninas e um menino. Comprou um táxi e trabalhando diuturnamente logo conseguiu comprar outro, e mais outro, e mais outro e assim montou uma frota, para depois comprar um posto de gasolina localizado no bairro da Bela Vista, o famoso “Bexiga” que passou a ser sua base operacional, seus táxis faziam ponto na Praça da Republica, então o centro nevrálgico de São Paulo, e foi ai que conheceu e criou amizade com o radialista Wilson Fittipaldi, o "Barão". Este, conhecendo suas habilidades ao volante e estando envolvido na organização e realização da primeira “Mil Milhas Brasileiras” em 1956, o incentivou a participar. Margarido então começou a dar umas voltas pela pista, uma vez disputou um pega com o então jovem Eduardo Suplicy.
Como foi tomando gosto, comprou uma carretera de Caetano Damiani, um Chevrolet 1930 com motor 6 cilindros 235” de caminhão equipado com 3 carburadores, e logo fez sua estréia em uma prova antes da “Mil Milhas”, foi 3º colocado por causa de uma derrapada quando estava em primeiro, isso já com quase 36 anos de idade, casado e com 3 filhos, morando no bairro de Perdizes. Participou dois meses depois da "I Mil Milhas Brasileiras". Em seguida da “Mil Milhas” percebeu que com uma carretera 6 cilindros não faria frente às equipadas com motor Corvette V8 e depois de poucas provas a levou à oficina de Victor Losacco para trocar o motor por um Corvette V8 e prepará-la para poder disputar de igual com os outros pilotos. Com ela foi vice-campeão no ano seguinte (1957) numa disputa acirrada com Alfredo Santilli. Uma quebra lhe tirou a chance de disputar o titulo, mas estabeleceu novos recordes de volta, tanto para a pista completa como para o anel externo.
Consagrado na categoria das carreteras (Turismo Força Livre),
comprou um chassi monoposto Maserati de José Gimenez Lopes equipado
com motor Corvette V8 e mandou prepará-lo na Oficina Lourenço
Santinni no Canindé para disputar o primeiro “500 Quilômetros de
Interlagos” em 1957 na categoria Mecânica Nacional, mas antes a
estreou na prova "II Prova Cinquentenário do A.C.B."., não terminou
a prova por problemas mecânicos. Disse ter
decidido entrar na categoria Mecânica Nacional por raiva,
adversários comentavam que “o
taxista” só sabia pilotar carreteras.
Como seu carro ficou pronto em cima da hora não pode treinar, mas
mesmo assim chegou em 6º lugar.
No dia-a-dia do automobilismo desenvolveu grande amizade com Celso Lara Barberis, um dos mais consagrados pilotos da época, e numa camaradagem de um tempo em que os adversários só eram rivais na pista e fora dela eram amigos, Margarido cedeu sua carretera nº 50 para o amigo Celso fazer dupla com Chico Landi, numa prova em Porto Alegre (RS) em junho de 1958. Ele ia participar em dupla com Celso, e Chico em dupla com José Gimenez Lopes que num acidente nos treinos “detonou” a carretera. Como Chico era uma das atrações da prova não podia deixar de correr, e Celso já tinha um "nome" no automobilismo nacional, então Margarido cedeu sua carretera ficando de fora da disputa. Dividiu com Celso Lara Barberis o volante do Mecânica Nacional Talbot/Cadillac no “II 500 Quilômetros de Interlagos” de 1958 e na carretera Chevrolet/Corvette na “IV Mil Milhas Brasileiras” de 1959, antes dessa prova Victor Losacco fez uma reforma na carretera e Margarido foi, acompanhado de Orival (irmão de Victor), à Igreja de São Cristóvão levar o carro para seu amigo, Pe. Guimarães, benzer (Margarido, empresário bem sucedido, doava tudo o que ganhava nas corrida à Igreja). Mesmo assim não terminou a prova, de madrugada e disputando os primeiros lugares capotou, um de seus raros acidentes, outro já havia acontecido em 1958 na prova de inauguração do Circuito da Barra da Tijuca (RJ), quando correndo com o Talbot/Cadillac ao desviar de outro competidor que havia rodado na pista derrapou, saiu da pista e capotou, como ainda não se usava cinto de segurança foi projetado para fora do carro, que acabou tombado na areia. Esse foi o primeiro acidente no circuito recém inaugurado. “- Eu levei um baita susto na Barra da Tijuca, estava a 150 Quilômetros e fiquei sem freios, fui direto na curva, mas nada me aconteceu. A segunda foi em Interlagos numa capotagem que não sei explicar.” (FSP - 7/8/60)
Em 1960 adquiriu uma Maserati 250F de um lote de três trazidas da Itália por Ângelo Juliano, do Automóvel Clube, Ciro Cayres e Antonio Mendes de Barros compraram as outras duas, levou à Oficina Losacco para equipar com um motor Corvette e fez sua estréia numa prova em Piracicaba, mas não terminou, depois correu o “GP Juscelino Kubitschek“ na inauguração de Brasília, realizada junto com a categoria esporte, também não terminou, fez as provas do “II Torneio Triangular Sul-Americano”, em Interlagos, Buenos Aires, onde chegou a ser advertido por andar pela pista em velocidade não compatível com os demais carros. e na de Montevidéu onde o motor de seu carro explodiu, abrindo um buraco na pista. “- Já senti medo, pavoroso, foi em Montevidéu, onde aconteceu então a “desintegração” do motor, óleo, água quente e gasolina saíram do motor caindo sobre meu peito e meu capacete.” (FSP - 7/8/60)
Depois
de trazer o carro para o Brasil e feito a troca do motor por um novo
pretendia correr o “III 500 Quilômetros de Interlagos”, novamente em
parceria com o Celso, mas durante os treinos para essa prova um pneu
estourado a mais de 180 Km/h provocou uma capotagem espetacular no
retão (reta oposta do circuito antigo), nessa época não havia “Santo
Antônio” (barra de segurança), e nem cinto de segurança se usava,
mas mesmo assim Margarido não foi lançado fora do carro e uma batida
forte na lateral do cockpit causou uma fratura muito séria em sua
perna direita afastando-o definitivamente das corridas. Só poderia
guiar carros de passeio automáticos após a recuperação. Depois do capotamento seu carro foi parar no meio do mato, e naquela época era
“muito” mato e “muito” alto, Luiz Valente que vinha logo atrás viu o
acidente e parou, sabia que não poderia fazer quase nada, mas pelo
menos sinalizar para a equipe de socorro onde estava o carro de
Margarido, que estava ferido no carro. "- Essa lembrança da prova pertence a Luiz Américo Margarido!".
Essa miniatura sempre foi guardada com muito carinho, estava na estante de troféus em sua casa de Itanhaém (SP), e em fins de 2005 quando se mudou para Araras no interior de São Paulo a levou junto, é claro.
Sua carreira foi curta mas intensa, recheada de excelentes resultados,
e se não fosse dramaticamente interrompida teria conseguido muitas
outras
vitórias e glórias.
Participações em provas
(com a colaboração do sobrinho Laércio - laerciorodrigues@globo.com ) |
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