Página
acrescentada em 1 de julho de 2012.
Francisco...
Chico... Chiquinho Lameirão
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Chiquinho
e Peralta na "Semana Cultural da Velocidade" em 2010 |
Um
dos mais importantes nomes do automobilismo brasileiro nas décadas de
60 e 70, o piloto Francisco Lameirão, nasceu em São Paulo no dia
1 de julho de 1943, filho de Teófilo Lameirão, e correu em
praticamente todas as categorias brasileiras da época.
Na
juventude Chiquinho praticava esqui aquático no Clube de Campo de São
Paulo, perto do circuito de Interlagos, não demorou muito para que o
ronco dos carros o atraísse, e
incentivado pelo amigo Geraldo
Meireles, fez sua corrida de estréia,
no “Prêmio Victor Losacco” em 25/02/1962, na prova reservada para
carros Volkswagen.
As coisas naquela época aconteciam muito devagar. Quase um ano
depois foi que ele voltou a correr, foi uma corrida longa de 12 Horas,
em Interlagos, em parceria com Luiz Pereira Bueno e José Ricard, pela
Equipe Torke de Luizinho e Franklin Martins.
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Equipe
Willys em 1964
Livro: “Interlagos - 1940 a 1980” de Paulo Scali |
“- Depois, comecei
na Escuderia Willys, foi nas 12 Horas de Brasília em dupla com o
Luiz
Pereira Bueno. Tiramos 3º lugar na geral. Nessa prova, todos os
carros da Willys quebraram. Eram três Berlinetas e 3 Renault 1093. O
único que terminou a prova foi o nosso, com uma particularidade, era
minha a última tocada, mas nosso chefe de equipe,
Christian
Heins,
que também era piloto e guiava uma barbaridade, quis participar desse 3º
lugar e assumiu em meu lugar levando o carro até o final. Essa
foi a última corrida dele no Brasil, depois foi correr nas 24 Horas
de Le Mans e sofreu um acidente fatal.”
- Chiquinho por telefone.
Sempre foi um piloto muito forte e participou do recorde de resistência
do Gordini em 1964 quando foram quebrados 133 recordes, dos quais 25
internacionais. Chiquinho e toda a equipe Willys participaram durante
22 dias ininterruptos se revezando numa verdadeira maratona que teve inicio em 26 de outubro
e terminou em 17 de novembro.
Na Equipe Willys, que era comandada por Luiz Antonio
Greco, ficou 1963
e 64 e dividiu carros com, além de Luizinho e
Christian:
Carol
Figueiredo, Bird
Clemente, Wilsinho Fittipaldi, José Carlos Pace e
também correu em diversas provas sozinho obtendo vários bons
resultados com os carros: Gordini, Renault 1093 e Berlineta
Interlagos.
Em 1965 foi para a Equipe Vemag, que era comandada por Jorge
Lettry, lá
correu com os DKW Vemag de turismo, mas principalmente com os Malzoni/DKW.
Sua estréia foi em Recife (PE), onde chegou em segundo lugar, depois
fez duas corridas em dupla com Mario Cesar de Camargo
Filho, o
“Marinho”.
No ano seguinte, 1966, retornou para a Equipe Willys onde correu os
meses de maio e
junho, e a partir de setembro voltou a correr com os Malzoni/DKW da
Equipe Luminari, a Equipe Vemag não existia mais, a fábrica da Vemag
havia sido comprada pela Volkswagen e Jorge Lettry já havia se
transferido para a Puma Veículos, ficando Miguel Crispim para dar
destino ao acervo da equipe. Foram três corridas, inclusive com uma
vitória e também com a quebra
do recorde da pista de Interlagos, nos treinos classificatórios para
o "GP Faria Lima" realizado em 2 de outubro de 1966, com
a espetacular
marca de 3'48"06, recorde para o circuito completo! Isso foi possível
graças à redução da bitola do eixo traseiro e a instalação de
uma barra estabilizadora na suspensão traseira, semelhante à da
dianteira, modificando a tendência do carro em sair de frente,
fazendo com que a traseira passasse a desgarrar um pouco, mais ao estilo e preferência de Chiquinho. A marca superada por
ele pertencia ao piloto
argentino
Juan Manuel Fangio que seis anos antes conquistara
3’50” a bordo de uma potente Maserati 2,5 litros!
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1965
- Equipe Vemag
(da esq. para dir.):
Mário César de Camargo Filho,
Eduardo Scuracchio,
Jorge
Lettry, Francisco Lameirão,
Roberto Dal Pont e Anisio Campos
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1965
- Prefeito de Piracicaba (SP), Luciano Guidotti cumprimenta
Marinho e Chiquinho
Fonte: http://felipebitu.wordpress.com |
1966
- Chiquinho, a bordo do DKW Malzoni da Equipe Luminari no
antigo traçado de Interlagos.
Fonte: arquivo pessoal de Chiquinho Lameirão |
Ainda em 1966 ele correu pela Equipe Dacon, a “VIII Mil Milhas
Brasileiras” e a “Mil Quilômetros da Guanabara”, fazendo dupla,
em ambas, com seu amigo Anísio
Campos, pilotando um Karmann-Ghia/Porsche.
E em 1967, pela equipe ainda, correu o “III Mil Quilômetros de Brasília”
em dupla com Emerson Fittipaldi quando tiraram o segundo lugar.
Seu primeiro contato com um F-Vê aconteceu no “500 Quilômetros de
Interlagos” em 1967, fazendo dupla com Elvio Ringel, quando ficaram
com o quinto lugar.
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1968
- Mil Km da Guanabara, dezembro
acervo de Brito Cunha
http://blogdojovino.blogspot.com.br |
1968 - Alfa GTA no Mil Km da Guanabara em dupla com Wilsinho -
Reprodução revista 4Rodas |
Em dezembro passou a correr com as Alfas da Equipe Jolly-Gancia.
Com
Interlagos fechado para reformas nos anos de 68 e 69 fez algumas
corridas fora de São Paulo em parceria com Piero Gancia e
Emilio
Zambello, com quem venceu o “III 500 Quilômetros da Guanabara” em
4 de agosto de 1968, outra vitória pela equipe foi no “Mil Quilômetros
da Guanabara” em 08 de dezembro de 1968 quando fez dupla com
Wilsinho Fittipaldi. Decepcionado por não ser o escolhido dentro da
equipe para guiar a Alfa P33, um sonho para os pilotos na época,
Chiquinho deixou a Jolly-Gancia em 1969 para correr algumas etapas com
o novo protótipo de Anísio
Campos, ele ajudou no desenvolvimento do
novo protótipo pois sempre foi um grande acertador de carros, fez algumas
corridas com o AC/VW da “Marinho Veículos” de Marinho e
Eugenio
Martins, com patrocínio do “Arroz Brejeiro”.
No início do ano seguinte foi realizado o “Torneio BUA de F-Ford”,
Antonio Carlos Scavone ex-piloto e promotor do torneio foi à Europa
e conseguiu trazer vinte carros e alguns bons pilotos da F-Ford européia,
além do patrocínio da British United Airlines (BUA). O Torneio teve
cinco provas, sendo duas em Jacarepaguá, uma em Curitiba, outra em
Fortaleza e a final em Interlagos, entre os meses de janeiro e
fevereiro de 1970. Chiquinho participou com sucesso da ultima prova do
"Torneio BUA de F-Ford", quando teve atuação destacada a bordo de um
Merlyn alugado, quando conseguiu um ótimo 5º lugar em sua corrida de
estréia na categoria.
Em 1970, na esteira do sucesso de Emerson
Fittipaldi, já então na
F-2, Chiquinho vendeu o que tinha e com um pequeno auxilio da Freios
Varga e do Fundo Baluarte se mandou para a Europa. Lá chegando,
Inglaterra foi seu destino, comprou um chassi Royale RP3 semi-novo, um
motor Cortina com preparação de fábrica e uma perua Ford Cortina,
onde transportava e guardava peças e pneus reservas, mas toda a
preparação e manutenção eram feitas por ele mesmo.
"- Eu fui
para a Europa em 1970, sozinho, não tinha ninguém. Eu levava o carro
para a pista, alinhava no grid, corria e levava embora. Você
"curtir" bons e maus resultados sozinho não é fácil."
Começou a correr em abril e participou de corridas em: Snetterton,
Oulton Park, Brands Hatch, Silverstone e Thruxton, sempre com
resultados médios. Descendente de portugueses, Chiquinho resolveu se
inscrever na corrida de Vila Real, em Portugal, em julho. A corrida,
“XVII Circuito Internacional de Vila Real”, um circuito de rua de
quase 8 km era a principal do país. Correu com assistência de um
mecânico da Equipe Royale FF, tendo o português Jorge Pinhol como
companheiro de equipe, mas na corrida sofreu um grave acidente, estava
em terceiro lugar, próximo dos líderes, quando o tensor se quebrou,
em plena reta, o carro rodopiou bastante até parar.
“- Imagina
você estar a 210 ou 215 km/h
numa reta e suspensão traseira quebrar! Ela abriu e eu dei quatro 360º
naquele circuito de altíssima velocidade, passei a 20 cm. de uma árvore, mas não me aconteceu nada!”
Logo voltou à Inglaterra, mas o sucesso não foi o esperado, e ainda
para complicar teve sua perua Ford Cortina roubada com todas as
ferramentas, pneus e relações de marchas, foi um prejuízo de 4.000
dólares. Sem recursos para poder continuar correndo fez um acordo com
o gaúcho Rafaelle Rosito, ele pagou metade do preço do carro e dali
em diante foram se alternando na direção do Royale nas corridas. Além
do mais, Rosito levou consigo o mecânico e preparador Wilson
Drago,
um reforço técnico muito bem vindo para quem vinha fazendo sozinho a
manutenção do carro. Rosito, entretanto sofreu acidente num treino
em Thruxton, e com o carro semi destruído a saída para Chiquinho foi retornar ao
Brasil, quando desistiu da carreira internacional.
Para encerrar o ano de 1970, Chiquinho participou do “Torneio
Corcel” que teve duas etapas, São Paulo e Rio de Janeiro, chegando
em 6º lugar nas duas.
Em 1971 foi lançada a Equipe Z, formada por Anisio Campos e
Luiz
Pereira Bueno e com Miguel Crispim como Coordenador Técnico,
contrataram Chiquinho e Lian
Duarte, importaram um Porsche 908/2 e
Lian comprou o Porsche 910 do carioca Mario Olivetti. Pouco tempo
depois a Souza Cruz através dos cigarros Hollywood passou a
patrocinar a equipe. Chiquinho disputou o campeonato de viaturas
esporte de 1971 ao lado de Lian Duarte com o Porsche 910 e foram
vice-campeões brasileiros, sendo Luizinho e Anísio os campeões, com
o Porsche 908/2.
Nesse mesmo ano é criado o campeonato brasileiro de Fórmula Ford que
tinha pilotos como: Alex Dias Ribeiro, Clovis de
Moraes, Enio Sandler,
Lionel Friederich e Pedro Victor de Lamare, mas foi Chiquinho quem
venceu, com um Merlyn da Equipe Hollywood, o primeiro campeonato
brasileiro da categoria.
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1972
- Chiquinho de F-Ford
em Interlagos
www.imagensdaluz.com |
Avallone/Chrysler
Venceu a Cascavel de Ouro em 1973
Arquivo pessoal de Chiquinho Lameirão |
1973
Chiquinho e Troncon disputando posição
Livro
“Interlagos - 1940 a 1980”
de Paulo Scali |
Chico
Lameirão correndo de Polar na F-Ford,
Camp. Bras. F-Ford de 1974
Segundo colocado www.imagensdaluz.com |
Entusiasmado com as equipes profissionais que estavam surgindo no
automobilismo, como a Hollywood e a Brahma, do piloto Norman Casari, o
piloto montou em 1972, com Crispim e Jaime Levy, a
sua própria equipe, a Equipe Brasil, depois Motoradio. Na mesma época,
passou a ser o representante em São Paulo do fabricante de carros
Polar do Rio de Janeiro, comandada por Ricardo Aschar e Ronald Rossi.
A parceria permitiu que ele começasse a fazer experiências até então
nunca vistas no automobilismo, foi o primeiro piloto a usar calotas
nas rodas para melhorar o arrasto aerodinâmico.
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Chiquinho
e o F-Super Vê, no “Campeonato Brasileiro de Fórmula VW”, em 1976, ele equipou o carro com sobrecalotas aerodinâmicas.
Usadas na Fórmula Indy somente
sete anos depois |
“- Éramos um
verdadeiro laboratório da Polar”.
Disse.Terminou o ano como vice-campeão brasileiro de F-Ford após intensa
luta com Clovis de
Moraes, o campeão. Em 1973 a Equipe Motoradio
disputou os campeonatos de F-Ford Brasileiro, Paulista e Gaucho. E
Chiquinho sagrou-se campeão Paulista de F-Ford, mas também disputou
o torneio de divisão 4 (esporte de fabricação nacional), guiando um
Avallone/Crhysler V8 e venceu em Interlagos a ultima prova da
temporada. Em 1974, disputou a Divisão 4 com um Heve e ganhou a etapa
de Cascavel (PR).
Dirigir a Equipe Motoradio só não bastava. Chiquinho queria mesmo
era pilotar nas pistas. Foi vice-campeão da Super
Vê em 1974, torneio organizado pela Volkswagen. O campeão da
nova categoria foi Marcos Troncon.
“- Na equipe
Motoradio, teve época que eu corria em cinco categorias. Houve um ano
que foi Fórmula-Ford, Super-Vê, Divisão-4, Esporte Protótipo e
Estrangeiro com um Porsche 907”.
- Relembra.
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1975
- Lameirão prepara-se para uma corrida da F-Super Vê. No ano
seguinte, a categoria mudaria para Fórmula Volkswagen
1600.
www.imagensdaluz.com |
Em 1975 Chiquinho conseguiu conquistar o título mais importante de
sua carreira, foi campeão brasileiro e campeão paulista da Super Vê.
“- A Super-Vê
foi a melhor categoria do Brasil que existiu até hoje. Tinham 10 ou
12 pilotos com chances de vitórias, tais como: Alfredo Guaraná, Chateubriand, Nelson Piquet, Chulan,
Eduardo
Celidonio,
Tite Catapani,
Ingo Hoffman, Antonio Castro Prado e outros que me falha a memória.
Qualquer um deles poderia ganhar a corrida. As corridas eram curtíssimas,
em Interlagos eram seis voltas. A equipe Motoradio foi vice-campeã em
1974 e em 1975 fomos campeões paulista e brasileiro”.
- Por telefone.
Em 1976 ficou com o 3° lugar no campeonato brasileiro e o 4° no
paulista da categoria.
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No
final de 1977 a CBA organizou uma prova extracampeonato de Fórmula
Volkswagen. Objetivo: homologar Jacarepaguá para receber o GP
do Brasil de F-1
http://pandinigp.wordpress.com |
Em 1977, sem o patrocínio da Motoradio encerrou as atividades da equipe,
mas continuou a correr, e em parceria com o amigo Miguel Crispim abriu
a “Boxer Auto Mecânica”, sociedade que durou um ano. Em 1978 fez
sua ultima corrida pilotando um Polar, com o patrocínio da Marlboro,
encerrando sua brilhante carreira.
Ele se aposentou no final do ano, mas retornou por um breve período
em 1983, dividindo um Ford Escort com outro veterano, Jan
Balder,
convidados que foram pela Ford para desenvolver uma versão de competição
do modelo Escort, fizeram 3 provas de longa duração: “Mil Km de
Brasília”, “6 Horas de Tarumã” e “12 Horas de Interlagos”.
Diante da inexistência de uma categoria adequada para os garotos
vindos de kart evoluírem, ele está atualmente desenvolvendo o
projeto de um monoposto sem apêndices aerodinâmicos, com pneus
radiais e motor intercambiável, pode receber motores 1.0 ou 1.6, essa
fórmula serviria para formar pilotos para as categorias de fórmulas, e
que estejam almejando, é claro, a F1.
“- O garoto
inicia no kart, e quando ele estiver desistindo de correr ainda tem
que andar de kart. Após o kart, não pode usar
slick, nem aerofólio e nem spoiller, porque vicia, precisaríamos ter
uma categoria adequada”.
Chiquinho tem também opiniões bem definidas sobre o atual
(2012) automobilismo brasileiro:
“- Os
campeonatos estão todos errados. A meu ver eles têm que ser
regionais, fortes, e no final do ano, cada categoria sorteia uma pista
e lá num final de semana é realizado o campeonato brasileiro. Com
este esquema, os gastos são menores e o ano todo você está
correndo. Inclusive vai se ter mais pilotos correndo, porque eles vão
ter que se ater a uma viagem durante o ano. Só um vai ganhar, paciência,
mas haverá automobilismo durante o ano inteiro”.
- Disse sobre os campeonatos, ou a falta deles.
“-
Outra coisa que eu sou absolutamente contra, são as monomarcas. Elas
não desenvolvem absolutamente nada, só uma empresa mexe nos motores
e só uma é fabricante de chassi. Então na atual crise, você está
tolhendo empregos. Acho o cúmulo isso!”
- Sua opinião sobre as monomarcas.
Agradecimentos à Ricardo Cunha pelo levantamento dos resultados
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