Uma visão dos nossos históricos anos sessenta e um pouco antes

Voltar  para  Página Inicial

Ir  para  "Lendas e histórias"

Pilotos:
Agnaldo de Goes Aldo Costa Alfredo Santilli Amauri Mesquita Antonio C. Aguiar Arlindo Aguiar Aroldo Louzada Bica Votnamis
Bird Clemente Bob Sharp Breno Fornari Caetano Damiani Camillo Christofaro Carlos Sgarbi Catharino Andreatta Celso L. Barberis
Christian Bino Heins Ciro Cayres Domingos Papaleo Eduardo Celidonio Emerson Fittipaldi Emilio Zambelo Ênio Garcia Eugênio Martins
Francisco Lameirão Fritz D'Orey Graziela Fernandes Haroldo Vaz Lobo Henrique Casini Jan Balder Jaime Pistili Jayme Silva
José Tôco Martins Júlio Andreatta Luiz A. Margarido Luiz Carlos Valente Luiz Pereira Bueno Luiz Valente Marinho Nicola Papaleo
Nilo de Barros Vinhaes Norman Casari Orlando Menegaz Nastromagario Pedro C. Pereira Piero Gancia Raphael Gargiulo Ricardo Rodrigues de Moraes
Roberto Gallucci Roberto Gomez Salvador Cianciaruso Toninho Martins Victorio Azzalin Vitório Andreatta Waldemar Santilli Zoroastro Avon
Preparadores e/ou construtores:
Anísio Campos Jorge Lettry Miguel Crispim Nelson Brizzi Toni Bianco Victor Losacco    
Pioneiros:
Ângelo Juliano Benedicto Lopes Chico Landi Chico Marques Gino Bianco Hermano da Silva Ramos Irineu Correa João R. Parkinson
Manuel de Teffé Nascimento Junior Norberto Jung Sylvio A. Penteado Villafranca Raio Negro    

 

Página acrescentada em 09 de fevereiro de 2007.
 

Victor Losacco
por Paulo Roberto Peralta

Foto nº 01

Victor nasceu no Bairro do Braz, em São Paulo (SP), no dia 6 de Janeiro de 1914, filho do empresário Fillipo Losacco, natural de Gravina - Bari, na Itália, que veio para o Brasil como imigrante e depois de ter negócios de aluguel de carros e “jardineiras” e devido também às aptidões mecânicas de seu filho Nicola, acabou por abrir uma oficina mecânica.
Victor já aos 11 anos começou a trabalhar na “F.N. Losacco Officina Mechanica” de seu pai e seu irmão, que ficava na Rua Ribeiro de Lima, 43, Bairro do Bom Retiro, isso foi em 1925, mesmo ano em que Nicola participou pela primeira vez de uma competição automobilística disputada na então deserta Avenida Paulista.

Em 1938, aos 24 anos e já com bastante experiência, abriu uma oficina mecânica em sociedade com o irmão Nicola na Rua Augusta, Bairro da Consolação, onde ficaram por 5 anos.
Em 1942, aos 28 anos, casou-se com Felícia e tiveram 2 filhos: Felipe e Vinicius.

Durante a II Grande Guerra (1939-1945) no Brasil o racionamento de gasolina imposto pelo governo obrigou os motoristas a converterem seus carros para funcionar com gasogênio (gás obtido por meio da queima de carvão coque). Nessa época Victor foi um dos pioneiros, instalava um aparelho por ele desenvolvido que patenteou e fabricou até que a guerra e o racionamento terminaram.


Ano seguinte os irmãos mudaram a oficina para um prédio próprio, maior e melhor, na Rua 13 de Maio, 134, no  bairro da Bela Vista (o famoso “Bexiga”). Durante esse tempo todo, seu irmão Nicola além de trabalhar na oficina mecânica também corria com um Fiat Millecento preparado por eles, e chegou a campeão nos anos de 1948 e 1949 na categoria 1.100cc. (campeão aos 50 anos de idade).

Foto nº 02 

Foto nº 02 a

Foto nº 02 b

Em 1951 Victor comprou um Allard J2 equipado com motor Ford e após uma corrida pilotado por Ciro Cayres trocou o motor por um Cadillac, que foi preparado com a instalação de pistões especiais, por ele mesmo fabricados. No fim de 1953 mudou a carroceria (carenagem) e Ciro o re-estreou na prova “GP IV Centenário de São Paulo”, realizado em janeiro de 1954, mas não concluiu a prova. Esse carro acabou sendo vendido em 1956 para Aguinaldo de Góes Filho que com ele obteve sua primeira vitória.

Foto nº 03

Em 1955 construiu um carro para a categoria “Mecânica Nacional” com chassi tubular totalmente nacional, contando com suspensão dianteira independente, molas espirais de carga regulável e barra de torção também com pressão ajustável, motor Oldsmobile Rocket V8 com quatro carburadores duplos Solex, entre outros preparos. Foi o primeiro carro inteiramente construído por ele.
Em geral, na época, aproveitavam-se o chassi de um carro tipo “Grand Prix” (Fórmula) adaptando-se motores V8 de carros americanos, que eram mais fáceis de comprar e manter. Ciro o estreou em abril de 1956 na corrida de Abertura da Temporada do ACB, chegando em 8º lugar na geral, depois dessa prova o carro foi vendido para Alfredo Santilli que o estreou em agosto de 1956, prova “Prêmio Benedicto Lopes” em Interlagos, e depois de participar de duas temporadas e de correr o "GP Juscelino Kubitschek" em abril de 1960, em Brasília, o vendeu para Jaime Guerra.

Montou para Ciro Cayres uma Ferrari “Mecânica Nacional” com motor Corvette V8 alimentado por 3 carburadores duplos, e foi com esse carro que em 1957 Ciro estabeleceu o recorde de volta em Interlagos: 3’37’’, que permaneceu valendo por 10 anos, sendo batido somente em 1967 quando os irmão Fittipaldi estrearam o protótipo Fitti/Porsche na classificatória para  "Mil Milhas Brasileiras" daquele ano: 3’31,8’’.

Com essa Ferrari/Corvette e durante o “I 500 Quilômetros de Interlagos” em 1957, corrida pelo anel externo da antiga pista de Interlagos, uma roda se desprendeu e atingiu pessoas que assistiam a prova na Curva 3 (local proibido), uma moça faleceu e em função disso o Ministério Público apresentou denuncia na 22ª Vara Criminal contra o piloto, Ciro, e seu preparador, Victor, por homicídio culposo. Mas o relator, Sr. Hildebrando Dantas de Freitas, do Tribunal de Alçada, baseado no laudo do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) que concluía que o rompimento do eixo deveu-se à fadiga, em conseqüência da própria corrida, sendo portanto imprevisível, mandou arquivar o processo por inexistir justa causa para a denuncia.

Foto nº 04

Foto nº 05

Foto nº 06

Também em 1957 construiu a famosa carretera nº 82 para José Gimenez Lopes (veja aqui) que com ela disputou  a segunda edição da Mil Milhas Brasileiras ao lado de Chico Landi. Ainda em 1957 montou um carro da categoria “Mecânica Nacional” chassi Maserati com motor V8 Corvette para Luis Américo Margarido e também fez a troca do motor 6 cilindros da carretera de Margarido por um motor V8 Corvette, além de diversas outras modificações, deixando-a em condições de disputar com as melhores da época. 

Foto nº 07

Antes da “IV Mil Milhas Brasileiras” de 1959, Losacco fez uma reforma na carretera de Luiz Américo Margarido, e, inclusive, seu irmão mais novo, Orival, que também trabalhava na oficina, foi com Margarido até a Igreja de São Cristóvão (padroeiro dos motoristas) para benzer a carretera e depois amaciar o motor em Interlagos. Margarido havia sido vice-campeão em 1957 com essa carretera e queria deixá-la mais atualizada, mas não adiantou muito, na madrugada capotou a carretera num de seus raros acidentes..

Em 1960 fez a preparação da Maserati/Lancia V6 de Alcindo Ribeiro de Barros, carro que depois, em 1964, Alcindo vendeu para seu primo Ricardo Rodrigues de Moraes, o “Al Capone”.

Esta é apenas uma pequena amostra dos carros preparados e/ou construídos nas oficinas desses excelentes preparadores e construtores.

Em 1960 Victor transformou a oficina em uma Autorizada Vemag (fabricante dos carros DKW), e ao final daquele ano começou a construção de sua nova oficina, agora no Bairro de Pinheiros, à Rua Alves Guimarães, e em 1961 vendeu a concessão Vemag e alugou o prédio da oficina.

Impressionante foto: Nicola Papaleo desesperado, com as mãos na cabeça e Gimenez Lopes caído

Mas, fatalidade... em 7 de setembro de 1961, na prova “IV 500 Quilômetros de Interlagos”, estava nos boxes dando assistência à dois pilotos: Roberto Gallucci e Alcindo Ribeiro de Barros, quando na pista aconteceu um “quase” acidente na curva 3, os carros de Ciro e Jaime Guerra tocaram pneus, era uma corrida realizada pelo anel externo, prova muito veloz. Assustado Jaime entrou nos boxes e atropelou Victor e José Gimenez Lopes. Victor não resistiu aos ferimentos e faleceu aos 47 anos de idade, Gimenez teve a perna ferida gravemente, mas sobreviveu.
Ironia, Jaime pilotava o primeiro carro de Mecânica Nacional construído inteiramente por Victor.

Segundo explicações de Jaime, como ele havia capotado em uma prova anterior e quebrado o tornozelo não teve força suficiente para frear o carro (na verdade assustado com o "quase acidente") entrou rápido demais nos boxes (não havia limitação de velocidade e nem como controlar caso houvesse).
Muito querido por todos do meio automobilístico, foi homenageado pouco depois, em fevereiro de 1962, com uma prova que levava seu nome: “Prêmio Victor Losacco”.

Faleceu sem ver sua nova oficina concluída, mas anos mais tarde seu filho Vinicius abriu no local uma nova oficina dando continuidade à obra do pai. Atualmente ma oficina está no bairro do Butantã.

A família Losacco, como vimos, está no automobilismo desde 1925 e já tem uma longa tradição nas pistas, quer como preparadores, quer como pilotos, começou com Nicola correndo, com Victor preparando e construindo, e depois, seu filho Vinicius participou de provas como piloto nos anos 70 e também se tornou um excelente preparador, seu neto Giuliano, filho de Vinicius, foi uma das revelações do automobilismo brasileiro, tendo sido bicampeão da Stock Car, venceu em 2004 e 2005.

Foto nº 08 Foto nº 09  Foto nº 10

Legenda das fotos

01 - Victor ao lado do carro de José Gimenez Lopes
Acervo da família Losacco

02 - O carro Allard/Cadillac recém reformado, ganhou carenagem nova e diferente na oficina de Victor Losacco, que aparece à direita do carro, no final de 1953
Acervo: Napoleão Ribeiro

02 a - Ciro com o Allard/Cadillac em Pirajui (SP) em 1955. Carro já modificado por Victor em 1953
Foto cedida por Roberto Stoppa

02 b - "100 Milhas do IV Centenário" - Carro nº 8 o carro Allard original. Ao seu lado está o 44 que é o Allard modificado por Vivtor em fins de 1953.
Acervo: Napoleão Ribeiro

03 - Suspensão dianteira do "Eclipse Especial/Oldsmobile" construído por Victor em 1955
Detalhe de foto cedida por Guilherme Santilli

04 - Victor mostrando um comando de válvulas do motor Skoda sendo preparado, ao repórter da "Gazeta Esportiva" e o Sr. Angelo Giuliano
Acervo: Família Victor Losacco.

05 -
Victor Losacco é o homem que mais construiu carros para a Mecânica Nacional” - Gazeta Esportiva em janeiro de 1957.
Na oficina, (da dir. p/ a esq.): Victor, João ("japonês") e Pascoal (funcionários), Antônio Corvino (piloto) e Carlos.
Acervo: Família Victor Losacco.

06 - 1957 - Preparativos para o 500 Quilômetros de Interlagos
Acervo: Luiz Américo Margarido

07 - Orival e Margarido observam o padre Guimarães benzer da carretera recém terminada - 1959
Acervo da família Losacco

08 - No alto, Margarido ao volante da Maserati A6GCS e em pé Victor Losacco, em baixo, Margarido e Losacco conversam com o repórter do jornal e Angelo Juliano do ACB.
Reprodução do jornal "A Gazeta Esportiva" de 20 de março de 1957 - Acervo de Luiz Américo Margarido

09 - 5 de junho de 1959, premiação da Prova Pedro Santalucia. Victor está ao lado do amigo José Gimenez Lopes.
Acervo da família Losacco

10 - Premiação em 15 de setembro de 1960 da prova 500 Quilômetros de Interlagos .
Acervo da família Losacco


VOLTAR AO TOPO DA PÁGINA
ou
VOLTAR À PÁGINA INICIAL