Página acrescentada em 09 de fevereiro de
2007.
Victor Losacco
por
Paulo Roberto Peralta
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Foto nº 01
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Victor
nasceu no Bairro do Braz, em São Paulo (SP), no dia 6 de Janeiro de
1914, filho do empresário Fillipo Losacco, natural de Gravina -
Bari, na Itália, que veio para o Brasil como imigrante e depois de
ter negócios de aluguel de carros e “jardineiras” e devido também às
aptidões mecânicas de seu filho Nicola, acabou por abrir uma oficina
mecânica.
Victor já aos 11 anos começou a trabalhar na “F.N. Losacco
Officina Mechanica” de seu pai e seu irmão, que ficava na Rua
Ribeiro de Lima, 43, Bairro do Bom Retiro, isso foi em 1925, mesmo
ano em que Nicola participou pela primeira vez de uma competição
automobilística disputada na então deserta Avenida Paulista.
Em 1938, aos 24 anos e já com bastante experiência, abriu uma
oficina mecânica em sociedade com o irmão Nicola na Rua Augusta,
Bairro da Consolação, onde ficaram por 5 anos.
Em 1942, aos 28 anos, casou-se com Felícia e tiveram 2 filhos:
Felipe e Vinicius.
Durante a II Grande Guerra (1939-1945) no Brasil o racionamento de
gasolina imposto pelo governo obrigou os motoristas a converterem
seus carros para funcionar com gasogênio (gás obtido por meio da
queima de carvão coque). Nessa época Victor foi um dos pioneiros,
instalava um aparelho por ele desenvolvido que patenteou e fabricou
até que a guerra e o racionamento terminaram.
Ano
seguinte os irmãos mudaram a oficina para um prédio próprio, maior
e melhor, na Rua 13 de Maio, 134, no bairro da Bela Vista (o
famoso “Bixiga”). Durante
esse tempo todo, seu irmão Nicola além de trabalhar na oficina
mecânica também
corria com um Fiat Millecento preparado por eles, e chegou a campeão
nos anos de 1948 e 1949 na categoria 1.100cc. (campeão aos 50 anos
de idade).
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Foto nº 02 |
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Foto nº 02 a |
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Foto nº 02 b |
Em 1951
Victor comprou um Allard J2 equipado com motor Ford e após uma
corrida pilotado por Ciro Cayres
trocou o motor por um Cadillac, que foi preparado com a instalação
de pistões especiais, por ele mesmo fabricados. No fim de 1953 mudou
a carroceria (carenagem) e Ciro o re-estreou na prova “GP IV
Centenário de São Paulo”, realizado em janeiro de 1954, mas não
concluiu a prova. Esse carro acabou sendo vendido em 1956 para
Aguinaldo de Góes Filho que
com ele obteve sua primeira vitória.
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Foto nº 03 |
Em
1955 construiu um carro para a categoria “Mecânica Nacional”
com chassi tubular totalmente nacional, contando com suspensão
dianteira independente, molas espirais de carga regulável e barra
de torção também com pressão ajustável, motor Oldsmobile Rocket
V8 com quatro carburadores duplos Solex, entre outros preparos. Foi
o primeiro carro inteiramente construído por ele.
Em geral, na época,
aproveitavam-se o chassi de um carro tipo “Grand Prix” (Fórmula)
adaptando-se motores V8 de carros americanos, que eram mais fáceis
de comprar e manter. Ciro o estreou em abril de 1956 na corrida de Abertura da
Temporada do ACB, chegando em 8º lugar na geral, depois dessa prova
o
carro foi vendido para Alfredo
Santilli que o estreou em agosto de
1956, prova “Prêmio Benedicto Lopes” em Interlagos, e depois de
participar de duas temporadas e de correr o "GP Juscelino Kubitschek"
em abril de 1960, em Brasília, o vendeu para Jaime Guerra.
Montou
para Ciro Cayres uma Ferrari
“Mecânica Nacional” com motor Corvette V8 alimentado por 3
carburadores duplos, e foi com esse carro que em 1957 Ciro
estabeleceu o recorde de volta em Interlagos: 3’37’’, que permaneceu
valendo por 10 anos, sendo batido somente em 1967 quando os irmão
Fittipaldi estrearam o protótipo Fitti/Porsche na classificatória
para "Mil Milhas Brasileiras" daquele ano: 3’31,8’’.
Com essa Ferrari/Corvette e durante o “I 500 Quilômetros de
Interlagos” em 1957, corrida pelo anel externo da antiga pista de
Interlagos, uma roda se desprendeu e atingiu pessoas que assistiam a
prova na Curva 3 (local proibido), uma moça faleceu e em função
disso o Ministério Público apresentou denuncia na 22ª Vara Criminal
contra o piloto, Ciro, e seu preparador, Victor, por homicídio
culposo. Mas o relator, Sr. Hildebrando Dantas de Freitas, do
Tribunal de Alçada, baseado no laudo do IPT (Instituto de Pesquisas
Tecnológicas) que concluía que o rompimento do eixo deveu-se à
fadiga, em conseqüência da própria corrida, sendo portanto
imprevisível, mandou arquivar o processo por inexistir justa causa
para a denuncia.
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Foto nº 04 |
Foto nº 05 |
Foto nº 06 |
Também em
1957 construiu a
famosa carretera nº 82 para José Gimenez Lopes
(veja
aqui) que com ela
disputou a segunda edição
da Mil Milhas Brasileiras ao lado de Chico Landi. Ainda em 1957
montou um carro da categoria “Mecânica Nacional” chassi
Maserati com motor V8 Corvette para Luis Américo Margarido e também
fez a troca do motor 6 cilindros da carretera de Margarido por um
motor V8 Corvette, além de diversas outras modificações,
deixando-a em condições de disputar com as melhores da época.
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Foto nº 07 |
Antes da
“IV Mil Milhas Brasileiras” de 1959, Losacco fez uma reforma na
carretera
de Luiz Américo Margarido,
e, inclusive, seu
irmão mais novo, Orival, que também trabalhava na oficina, foi com
Margarido até a Igreja de São Cristóvão (padroeiro dos
motoristas) para benzer a carretera e depois amaciar o motor em Interlagos.
Margarido havia sido vice-campeão em 1957 com essa carretera e
queria deixá-la mais atualizada, mas não adiantou muito, na
madrugada capotou a carretera num de seus raros acidentes..
Em
1960 fez a preparação da Maserati/Lancia V6 de Alcindo Ribeiro de
Barros, carro que depois, em 1964, Alcindo vendeu para seu primo
Ricardo
Rodrigues de Moraes, o “Al Capone”.
Esta
é apenas uma pequena amostra dos carros preparados e/ou construídos
nas oficinas desses excelentes preparadores e construtores.
Em 1960
Victor transformou a oficina em uma Autorizada Vemag (fabricante dos
carros DKW), e ao final daquele ano começou a construção de sua nova
oficina, agora no Bairro de Pinheiros, à Rua Alves Guimarães, e em
1961 vendeu a concessão Vemag e alugou o prédio da oficina.
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Impressionante foto: Nicola Papaleo desesperado, com as mãos na cabeça
e Gimenez Lopes caído |
Mas, fatalidade... em 7 de setembro de 1961, na prova “IV 500
Quilômetros de Interlagos”, estava nos boxes dando assistência à
dois pilotos: Roberto Gallucci
e Alcindo Ribeiro de Barros, quando na pista aconteceu um “quase”
acidente na curva 3, os carros de Ciro e Jaime Guerra tocaram pneus,
era uma corrida realizada pelo anel externo, prova muito veloz.
Assustado Jaime entrou nos boxes e atropelou Victor e José Gimenez
Lopes. Victor não resistiu aos ferimentos e faleceu aos 47 anos de
idade, Gimenez teve a perna ferida gravemente, mas sobreviveu.
Ironia, Jaime pilotava o primeiro carro de Mecânica Nacional
construído inteiramente por Victor.
Segundo explicações de Jaime, como ele havia capotado em uma prova
anterior e quebrado o tornozelo não teve força suficiente para frear
o carro (na verdade assustado com o "quase acidente") entrou rápido demais nos boxes
(não
havia limitação de velocidade e nem como controlar caso houvesse).
Muito querido por todos do meio automobilístico, foi homenageado
pouco depois, em fevereiro de 1962, com uma prova que levava seu
nome: “Prêmio Victor Losacco”.
Faleceu
sem ver sua nova oficina concluída, mas anos mais tarde seu filho
Vinicius abriu no local uma nova oficina dando continuidade à obra
do pai. Atualmente ma oficina está no bairro do Butantã.
A
família Losacco, como vimos, está no automobilismo desde 1925 e já
tem uma longa tradição nas pistas, quer como preparadores, quer como
pilotos, começou com Nicola correndo, com Victor preparando e
construindo, e depois, seu filho Vinicius participou de provas como
piloto nos anos 70 e também se tornou um excelente preparador, seu
neto Giuliano, filho de Vinicius, foi uma das revelações do
automobilismo brasileiro, tendo sido bicampeão da Stock Car, venceu
em 2004 e 2005.
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Foto nº
08 |
Foto nº
09 |
Foto nº 10 |
Legenda
das fotos
01 - Victor ao lado do carro de José Gimenez Lopes
Acervo da família Losacco
02 - O carro Allard/Cadillac recém reformado, ganhou carenagem nova
e diferente na oficina de Victor Losacco, que aparece à direita do
carro, no final de 1953
Acervo: Napoleão Ribeiro
02 a - Ciro com o Allard/Cadillac em Pirajui (SP) em 1955. Carro já
modificado por Victor em 1953
Foto cedida por Roberto Stoppa
02 b -
"100 Milhas do IV Centenário" -
Carro nº 8 o carro Allard original. Ao seu lado está o
44 que é o Allard modificado por Vivtor em fins de 1953.
Acervo: Napoleão Ribeiro
03 - Suspensão dianteira do "Eclipse Especial/Oldsmobile"
construído por Victor em 1955
Detalhe de foto cedida por Guilherme Santilli
04 - Victor
mostrando um comando de válvulas do motor Skoda sendo preparado, ao
repórter da "Gazeta Esportiva" e o Sr.
Angelo Giuliano
Acervo: Família Victor Losacco.
05 - “Victor
Losacco é o homem que mais construiu carros para a Mecânica
Nacional” -
Gazeta Esportiva em janeiro de 1957.
Na oficina, (da dir. p/ a esq.): Victor, João ("japonês") e Pascoal
(funcionários), Antônio Corvino (piloto) e Carlos.
Acervo: Família Victor Losacco.
06 - 1957 - Preparativos para o 500 Quilômetros de Interlagos
Acervo: Luiz Américo Margarido
07 - Orival e Margarido observam o padre Guimarães benzer da
carretera recém terminada - 1959
Acervo
da família Losacco
08 - No alto, Margarido ao volante da Maserati
A6GCS e em
pé Victor Losacco, em baixo, Margarido e Losacco conversam com o
repórter do jornal e Angelo Juliano do ACB.
Reprodução do jornal "A Gazeta Esportiva" de 20 de
março de 1957 - Acervo de Luiz Américo Margarido
09 - 5 de junho de 1959, premiação da Prova Pedro Santalucia.
Victor está ao lado do amigo José Gimenez Lopes.
Acervo da família Losacco
10 - Premiação em 15 de setembro de 1960 da prova 500
Quilômetros de Interlagos .
Acervo da
família Losacco
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