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Página acrescentada em 1 de março de 2011.
 

Benedicto Lopes 


Nascimento: 11/11/1904  -  Falecimento: 9/08/1989

Benedicto Lopes após vitória no Chapadão de 1937
Acervo: 
Fernando Lopes

Benedicto Moreira Lopes, o “campineiro voador”, filho do maestro José Moreira Lopes e Dna. Anna dos Santos nasceu em 11 de novembro de 1904 à Rua José de Alencar em Campinas (SP), fez seus primeiros estudos no Grupo Escolar Francisco Glicério e desde cedo, criança ainda, gostava muito de carros e tinha curiosidade de saber como funcionavam, então logo na adolescência começou a trabalhar em uma oficina mecânica, por sua opção, pois o pai queria que fosse musico. Mas se saiu bem. Tinha dois irmão, José e Caçulino, que faleceu antes dele começar a correr.
Casou-se com Alayde da Silva Lopes, por volta de 1930 aos 26 anos e em 1931 nasceu seu primeiro filho, depois teve mais duas filhas.
Quando da Revolução Constitucionalista de 1932, ele também se alistou e serviu no Setor de Transportes como Sargento. Ao finalizar a revolução, em outubro, voltou a trabalhar de mecânico.
Há uma história de que comprou 50 jipes do Exército, no Rio de Janeiro, e os levou à Campinas, reformou e vendeu com bom lucro. (Obs.: O mais provável é que tenham sido caminhões, pois em 1933 não existiam jipes, só foram lançados em 1940). Não há registros de que foram realmente 50, mas foram o suficiente para abrir sua própria oficina com o lucro. Mas as viagens para trazer podem também ter-lhe causado problemas renais, que o acompanharam a vida toda.
Na oficina conheceu o Comendador Dante di Bartolomeu, dono da Equipe Excelsior onde corriam Chico e Quirino Landi, e numa viagem de Campinas à Piracicaba (+/- 70 km). Dante, impressionado com sua destreza ao volante, sugeriu que experimentasse participar de corridas de automóveis. Era 1934 e próximo da realização do II GP Cidade do Rio de Janeiro, no Circuito da Gávea, Dante lhe levou uma Bugatti para participar. Benedicto aceitou e se inscreveu.
A corrida foi realizada no dia 3 de outubro de 1934 e dela também participou a Equipe Excelsior com Chico Landi numa Bugatti e Dante numa Alfa Romeu. Benedicto abandonou na 2ª volta com problemas mecânicos em seu carro. Faltava um mês para completar 30 anos de idade nessa sua corrida de estréia.
Trecho de uma entrevista com Benedicto Lopes publicada no Correio Popular de 9 de fevereiro de 1975:
“- De qualquer forma foi uma experiência tão espetacular que, no ano seguinte, isto é, em 1935, resolvi me mudar definitivamente para o Rio, porque senti que ali poderia me realizar como corredor”.

Duas fotos de seu Ford "Adaptado de corrida" na Gávea/35

Fotos copiadas na Internet

Para o III GP Cidade do Rio de Janeiro no ano seguinte, em 2 de junho, ele preparou um Ford "adaptado de corrida” a partir de um Ford V8 1934, era dele e do parceiro Luiz Tavares de Moraes, que correu ao seu lado como auxiliar, nessa época era comum ainda os pilotos levarem um mecânico para auxiliar na eventualidade de um problema. Na primeira volta faleceu Irineu Correa, vencedor no ano anterior e favorito para essa corrida.
Notícia no jornal A Gazeta de 7 de junho de 1935:
“Desaparecido tão tragicamente o maior favorito da prova, o povo procurou outro patrício para fazê-lo seu preferido. Não foi difícil encontrar em Benedicto Lopes, piloto do V8 nº 66, o elemento desejado, pois este, dando prova de sua habilidade e coragem, vinha liderando a prova há muito, quando ao fim da 21ª volta, já aplaudido em sua passagem como provável vencedor, teve o azar de chocar-se com outro concorrente que havia atravessado o seu carro em meio a estrada!
Foi o segundo golpe sofrido pelo público, que até hoje, considera o hábil volante da “66” como o vencedor moral do “Circuito de 1935”
.
O vencedor foi o argentino Ricardo Caru, a primeira vitória de sua carreira, ele que já era chamado de o “eterno segundo” pelos seus conterrâneos.
Trecho de reportagem do Diário do Povo do dia 6 de junho de 1935, depois, portanto, da prova da Gávea:
“Benedicto Lopes, que teve brilhante actuação com o seu V8, tão conhecido do publico campineiro, está preparando seu possante carro para o mesmo circuito do Chapadão. Correrá como seu ajudante, Tavares de Moraes”.
Nos jornais ele era chamado de a “sensação brasileira do auto-sport...” .
Sobre o acidente dele na Gávea tem um texto no Diário do Povo de 12 de junho de 1935:
Benedicto teve a sua machina seriamente danificada, com um prejuízo de três contos de réis. A companhia Ford reconhecendo nelle o vencedor moral da corrida, forneceu-lhe todas as peças necessárias à reforma do carro que agora já está em completa forma novamente”.

Benedicto Lopes ao volante
e Luiz Tavares de Moraes
 
 
Grid na prova do Chapadão/35: 
2 - Renato Segades Viana (Chevrolet)
4 - Angelo Gonçalves (Chevrolet)
6 - Chico Landi (Excelsior)
10 - Benedicto Lopes (F
ord)
Acervo: Napoleão Ribeiro

Campinas, aproveitando a realização da Gávea, se preparava para promover no dia 16 do mesmo mês o “I GP Cidade de Campinas” nas ruas sem pavimentação do Bairro do Chapadão, que por causa de sua terra vermelha era às vezes chamado de “Circuito Vermelho”, mas ficou conhecido mesmo como “Circuito do Chapadão”, e convidando as equipes de Portugal e Argentina dariam um caráter internacional à prova, mas a prova foi transferida para o dia 23 e só pilotos brasileiros participaram. Benedicto não concluiu a prova.
Trecho de outra reportagem do mesmo jornal, mas do dia 25 de junho, após a prova do Chapadão:
Benedicto Lopes mantém-se em 2º lugar, sempre ovacionado pela assistência, até a 25ª volta. Infelizmente desde a 20ª volta se despensara o tanque do carro e o ajudante estava fazendo toda a carreira debruçado para traz, a segural-o. Isto não seria nada se na 25ª volta não se partisse o eixo de direção do carro do audaz volante campineiro, que felizmente nada soffreu no desastre”.
Já no dia 26 era publicada uma notícia dando conta que o povo de Campinas faria o movimento “Um carro para Benedicto M. Lopes” visando angariar fundos para a compra de um verdadeiro carro de corrida para ele:

Reprodução: A Gazeta - 26/6/35

No inicio de 1936, em fevereiro, participou do “Quilômetro de Arrancada do Rio de Janeiro” disputado na Av. Epitácio Pessoa, onde foi 1º colocado em duas categorias: Turismo abaixo de 5,0 e Categoria Ford, com incrível velocidade, por essa época passou a ser chamado de o “campineiro voador”.
Depois dessa vitória foi competir em Poços de Caldas (MG) no GP Thermal, em março, mas não concluiu a prova por falta de gasolina, disse seu filho numa entrevista ao site “Nobres do Grid”:
“- ...foram ver o tanque e acharam um monte de pedacinhos de borracha dentro”.
Não era para ser, mas acabou sendo sua ultima corrida com o Ford adaptado.
Em 1936, Chico e Quirino Landi também se mudaram para o Rio de Janeiro.
Em junho de 36 estava inscrito para o IV GP Cidade do Rio de Janeiro, na Gávea, chegou a treinar, mas seu nome foi vetado pelo Departamento Médico por causa de uma forte gripe (correria ainda com o Ford).
No mês seguinte aconteceu o I GP Cidade de São Paulo no circuito do Jardim América, então um bairro nobre de São Paulo, a prova foi no dia 12 de julho para aproveitar a presença dos pilotos estrangeiros que vieram para a Gávea.
Trecho de notícia no Tribuna de Santos em dia 7 de julho:
“Segundo soubemos, alguns corredores cariocas não puderam ser acceitos porque suas inscripções chegaram demasiadamente tarde. Trata-se de Cicero Marques Porto e Benedicto Lopes”. (também correria com o Ford).

A Alfa Romeo de Helle Nice no 
I GP Cidade de S.Paulo/36
Acervo: Pedro Bittencourt da Oficina Artesanal

Ficou de fora das duas grandes corridas internacionais, mas esteve presente nos eventos, tanto que após a corredora francesa Helle Nice se recuperar do acidente na linha de chegada da prova em São Paulo, ele a convenceu de vender o carro acidentado para ele. Era um Alfa Romeo 8C chamado pela imprensa de “Flecha Azul” e que havia custado 110 mil liras e não estava no seguro, por isso não compensava levá-lo de volta à Europa, até mesmo porque ela já não tinha certeza de continuar, ficou muito abalada com as mortes causadas pelo acidente (5). Diz uma reportagem que ele pagou 25 contos de réis.  

"O estado em que ficou a frente da Alfa Romeo de Hellé Nice, após o trágico acontecimento"
Reprodução: Tribuna de Santos - 13/7/36

Depois de reformar o carro ele o estreou na “Subida de Petrópolis”, em março de 1937, foi 2º colocado, correu depois, em junho, o V GP Cidade do Rio de Janeiro (veja filme dessa corrida) onde chegou em 6º lugar, e por ter sido o melhor brasileiro classificado foi convidado a correr em Portugal.
Numa entrevista ao Correio Popular de 9 de fevereiro de 1975 ele dizia:
“- Assim como no Brasil, o automobilismo começava a ferver, na Europa e nos EUA não se falava em outra coisa. Incentivado pelos meus amigos Sábato D’Angelo, Arnaldo Borghi e outros, aceitei convite para participar de duas corridas em Portugal. Meti minha “baratinha” num navio e lá fui eu, novamente com a cara e coragem, desta feita para o meu batismo internacional”.
No mesmo jornal ele também contava: “O falecido presidente Getulio Vargas era um grande fã do automobilismo. Ele não perdia uma corrida quando estas eram disputadas no Rio, e isso me animou a ir até ele por intermédio do deputado Barreto Pinto, para pleitear uma verba especial para prêmios aos corredores brasileiros, porque era flagrante a nossa inferioridade diante dos estrangeiros, e os prêmios em dinheiro, na maioria das vezes acabavam ficando prá eles. O presidente foi formidável diante de minha solicitação e estabeleceu uma verba de 150 contos de réis para ser distribuída entre os corredores brasileiros melhor classificados."
Ele foi e participou das duas provas: VI Circuito de Vila Real e III Circuito do Estoril. O automobilismo português, na época, era tão ou mais fraco que o brasileiro, a prova de Vila Real, 25 de julho, contou com nove participantes e Benedicto chegou em 3º lugar. Foi vencida por Vasco Sameiro, que havia chegado em 4º lugar na Gávea um mês antes.
Na do Estoril, 15 de agosto, havia só cinco participantes e foi vencida por Manoel de Oliveira com Benedicto em segundo.
Trecho de texto extraído de um site português que se baseia na revista “Stadiun” da época:
Com uma moldura humana considerável, apesar de, tal como era referido na reportagem da revista Stadium, os inscritos terem ficado aquém do esperado, sobretudo em quantidade, este circuito do Estoril de 1937 contou com a presença de alguns pilotos e automóveis interessantes da categoria corrida. De entre eles será de destacar a de Manoel de Oliveira, com um Ford V8 de 3000 c.c. Especial, preparado por Eduardo Ferreirinha; Edward Rayson num Maserati 4CM, um carro com motor de 4 cilindros em linha com 1.496 c.c. e compressor e que representava o British Racing Drivers Club; Jorge de Monte Real correu com o Bugatti 35C (chassis #4954, adquirido a Alfredo Marinho Júnior); Henrique Lehrfeld no seu habitual Bugatti 35B e o piloto brasileiro Benedito Lopes que alinhou com um Alfa Romeo 8C 2300 Monza de cor amarela e verde, e foram apenas estes cinco pilotos que alinharam para a corrida. De entre os vários ausentes será de destacar a de Vasco Sameiro, que havia ganho a corrida disputada antes em Vila Real, ao volante de um Alfa Romeo 8C 2300 Monza, e que, devido a uma avaria no seu automóvel ficara retido em Braga”

Treinos para a prova do Estoril/37

Na prova do Estoril/37

Alfa na prova do Estoril em Portugal

Da esquerda para a direita: Monte Real, Henrique Lehrfeld, Manoel de Oliveira, Rayson e Benedito Lopes, todos os 5 participantes na prova do Estoril

Acervo: Revista Stadiun

Tais fatos não tiram méritos de Benedicto, ele foi, competiu e se classificou, e com um carro pintado de verde/amarelo. Na Europa foi o segundo brasileiro a competir, antes dele Manuel de Teffé já havia participado de provas em meados dos anos 20. Teffé nasceu em Paris em 30 de março de 1905, mas com cidadania brasileira, pois seu pai, Sr. Oscar de Teffé, era embaixador do Brasil na França. Antes deles Irineu Correa, petropolitano, havia corrido nos EUA, uma corrida regional, mas correu e venceu, isso em 1920.
Fala-se de uma possível participação de Benedicto em uma prova em Pescara na Itália, mas as duas possíveis provas foram a Copa Acerbo, realizada no mesmo dia da prova do Estoril, e a Targa Abbruzo, e não consta o nome de Benedicto.
“- ...o livro "Settant'anni di gare Automobilistche in Italia" que lista os pódiums de todas as corridas realizadas na Itália até 1965, não lista Benedicto Lopes”. (Carlos de Paula)
Apenas um mês depois, não esqueçam que as viagens eram de navio e demoravam, estava de volta para disputar em sua cidade natal o II Circuito do Chapadão, em 19 de setembro, agora com um verdadeiro carro de corrida, venceu a prova diante de aproximadamente 80 mil pessoas, ganhando 15:000$000 (15 contos de réis).
Em 1975 ele dizia numa entrevista ao Correio Popular de 9 de fevereiro:
“- Naquela altura eu já vinha usando o carro que havia comprado um ano antes da corredora francesa Helle Nice, que se acidentara numa prova na corrida da Avenida Rebouças, em São Paulo (na verdade Av. Brasil). Para muitos o carro teria ficado imprestável, mas não tive dúvidas em comprá-lo por 25 contos de réis, e depois de reformá-lo participei de 12 corridas (na verdade 11), inclusive a “Volta do Chapadão”, ganhando a maioria”.
Trecho copiado de A Gazeta do dia 20 de setembro de 1937:
“Benedicto Lopes, vencedor da prova, embora correndo com carro evidentemente superior aos demais, nem porisso deixou de fazer excellente corrida, em que poz em evidencia sua maestria no domínio do volante. A regularidade com que correu e a segurança com que transpoz os lances difficeis da prova, demonstram ser elle um mestre, e justo, o bom nome de que goza nos círculos automobilísticos do paiz e de fora”.

Benedicto e sua Alfa antes do Prova Commércio e Industria/37
Foto copiada na Internet

Sua primeira corrida em 1938 foi no dia 23 de abril no Circuito da Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro, e também com uma bonita vitória, a outra corrida foi em 12 de junho, o VI GP da Cidade do Rio de Janeiro, e ele participou, mas não completou, como também não completou a Prova Commércio e Indústria realizada em 9 de outubro nas ruas do Bairro do Pacaembu em São Paulo.

"Benedicto Lopes e o seu carro, que não quis submeter ao exame da comissão técnica e por isso não participará da
“I Gávea dos Nacionais”

Reprodução: A Gazeta - 26 de maio de 1938

Nesse ano (38) houve também, na Gávea, em 29 de maio o I Circuito da Gávea Nacional, mas Benedicto não participou em função de uma desavença entre ele e o A.C.B.
Essa notícia de A Gazeta em 24 de maio de 39 esclarece:
“Benedicto Lopes condicionara sua inscrição na Gávea Nacional, desde que não tivesse que levar seu carro ao Instituto de Tecnologia.
Não era possível atender a exigência do piloto patrício, posto que implicava num desrespeito ao regulamento da prova, passando então Benedicto a exigir fosse o exame em questão feito em sua garage, não pela pessoa que habitualmente os faz, mas por outro técnico.
Com isso não se conformou a Comissão Esportiva, que mui justamente prestigiava a pessoa do Diretor do Instituto de Tecnologia, pessoa de cuja competência não se pode duvidar. Benedicto, influenciado por maus amigos, insistiu em não se submeter ao exame feito pelo dr. Heraldo de Souza Mattos.
Diante do impasse, Benedicto Lopes resolveu retirar as inscrições de suas duas “Alfas”. A Comissão Esportiva no entanto, abriu mão do direito que lhe assistia de não restituir a importância das inscrições, mandando que fosse devolvida a referida quantia, uma vez deduzidos os vinte por cento regulamentares”
.
A outra Alfa referida era a de Luiz Tavares de Moraes, seu parceiro desde 1935.

"Benedicto Lopes que solucionou seu incidente com o ACB e será, com Nascimento Junior, um dos concorrentes nacionais mais cotados"
Reprodução: A Gazeta - 9 de junho de 1938

"O volante nacional Benedicto Lopes, antes de iniciar a eliminatória"
Reprodução: A Gazeta - 10 de junho de 1938

 

1940, A Maserati na oficina dos Santilli, na Lapa em S.Paulo (SP)
Acervo: Guilherme Santilli 

No I Circuito de Piracicaba (SP), sua primeira corrida em 1939, ele novamente não completou. Por causa das dificuldades impostas pela II Guerra no Rio só foi realizado o II Circuito da Gávea Nacional e Benedicto chegou em 2º lugar.
Em 1940 a guerra continuava a impedir a viagem dos estrangeiros para disputar a Gávea, que foi nacional outra vez e Benedicto não participou, nesse ano só fez a corrida inaugural do Autódromo de Interlagos em 12 de maio, onde chegou em 4º lugar. Foi sua ultima prova com Alfa Romeo. Na prova seguinte, o VII GP da Cidade do Rio de Janeiro em setembro de 41, quando foi usado álcool anidro como combustível, pois havia escassez de gasolina por causa da II Guerra, chegou em 8º lugar com seu novo carro, uma Maserati. A II Guerra durou de 39 até 45, então essa foi a última Gávea, as corridas foram drasticamente reduzidas e as poucas realizadas eram de carros turismo movidos a gasogenio, Benedicto então parou, em 42 operou o estomago e em 45 nasceu sua ultima filha, só retornou às corridas em 47 quando participou de três provas, sendo que a da Quinta da Boa Vista (RJ) foi com vitória. Largou na frente e na 6ª volta atropelou um espectador, seu carro rodou 180º, Gino Bianco que vinha em 2º freou e seu carro atravessou na pista, ambos voltaram, com Bianco em primeiro, mas Benedicto o passou e venceu.

Estreando sua nova Maserati em Petrópolis (RJ) em 1948
Foto copiada na Internet

Em 1948 fez cinco provas, as quatro primeiras com a Maserati quando conseguiu 4º, 3º, 2º e 1º lugar respectivamente, a vitória foi no circuito de rua de Petrópolis (RJ), onde largou em último lugar por não ter feito a prova de classificação, depois vendeu sua Maserati para Chico Marques.
Trecho de matéria publicada em 9 de fevereiro de 1975 no Correio Popular:
“E foi justamente nessa prova que levou o “cano” dos organizadores, não recebendo o premio de 58 contos de réis a que fez jus, como ganhador da prova”.  
Na mesma matéria ele dizia:
“- Sem podium, coroa de louro, champagne, até mesmo fotografias, como é que poderíamos reclamar o prêmio? Tudo tinha que ser mesmo na base da confiança”.
A quinta prova do ano foi o I Premio Crônica Esportiva Paulista em setembro, quando usou uma “velhusca” Alfa Romeo P2, (fabricada de 24 a 30) e foi o 3º colocado, atrás de Chico Marques com sua ex Maserati.
Entre 1949 e 1951 ficou sem correr, dedicando-se a sua oficina.
Em janeiro de 1952 participou de duas provas, uma em São Paulo, 6º lugar, e a da Gávea, sua 11ª edição, que deveria ter acontecido em 1951, 8º lugar apesar de ter batido na traseira de um retardatário na 13ª volta (de 15) e parado. No ano seguinte, foi à Porto Alegre (RS) participar do Premio Cinquentenário do Grêmio Foot Ball Porto Alegrense, ainda como um piloto carioca, mas a corrida foi marcada pelas chuvas, na data prevista chovia demais e foi adiada por uma semana, mesmo assim a corrida foi debaixo de chuva forte, onde muitos pilotos desistiram em meio a diversas derrapadas, ele inclusive.
Comprou uma Ferrari 166MM e participou do XIII GP da Cidade do Rio de Janeiro, que deveria ter acontecido em 1953 mas só foi realizado em 4 de janeiro de 1954, sua ultima edição, e dessa vez destinado a carros esporte apenas. Ia bem, entre a 8ª e a 12ª volta estava em 10º lugar, quando começou a chover e até a 17ª volta vários pilotos desistiram, inclusive ele.
Foi a ultima prova da Gávea e sua penúltima corrida, a última foi em grande estilo, venceu em abril, o III Circuito do Maracanã com a Maserati 6CM. Tinha 49 anos e meio de idade, e vinte de carreira quando parou.
Três meses depois ficou doente, retornou à Campinas (SP) onde montou uma oficina na Av. Moraes Salles, perto do Clube Concordia, onde tentou ganhar a vida novamente como mecânico, só que agora com um nome consagrado. Inicialmente como representante Studebaker e depois com DKW Vemag.
Sua ulcera o levou a um longo e caro tratamento, com internações inclusive.
Em 1956 foi organizada em sua homenagem, e também para arrecadar fundos, uma prova, o “Prêmio Benedicto Lopes” no dia 12 de agosto em Interlagos. Foi composta de provas de Turismo, Mecânica Nacional e Esporte (correram juntas, classificação em separado) e TFL (carreteras).

Foto do final
dos anos 60
Acervo:
Fernando Lopes

“Depois dessa última corrida..., nunca mais, como diz revoltado, foi lembrado pelos amigos, a não ser em 1956, quando o Automóvel Clube do Brasil organizou a prova “Benedicto Lopes”, em Interlagos, para angariar fundos e ajudá-lo”. Matéria publicada em 24 de outubro de 1982 no Correio Popular.
O que ele não percebeu é que como sua geração parou com bastante idade, ele mesmo com praticamente 50 anos, alguns já estavam “indo embora”, ficaram poucos, muito poucos, e o povo, mas o povo não tem memória.
Foi tocando sua oficina até que em 1987, doente, já sem conseguir trabalhar e com uma minguada aposentadoria foi levado por Chico Amaral, ex-prefeito de Campinas e na época Dep. Federal, à Brasília para uma audiência com o então presidente José Sarney, dessa reunião resultou um projeto de lei que lhe concedeu uma pensão de 10 salários mínimos por “serviços prestados ao esporte nacional”.
Faleceu em 9 de agosto de 1989 aos 84 anos e nove meses de idade em Campinas (SP), sua terra natal.
Em 10 de julho de 2009, quando quase se completava 20 anos de sua morte, a Prefeitura de Campinas instituiu por lei municipal, o “Dia do Antigomobilismo e do Antigomobilista Piloto Benedicto Lopes”, comemorado desde então no último domingo de julho.

“O ronco dos motores é como se fossem as batidas do meu coração”. Costumava dizer.

Agradecimentos:
Napoleão Ribeiro (Brasília), Augusto Sanchez (Campinas) e Fernando Lopes (Santos)

  
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