Filho de
imigrantes italianos nasceu em São Paulo (SP) em 7 de abril de 1918,
foi o mais velho dos sete filhos do casal: 3 homens e 4 mulheres.
Começou a trabalhar aos 14 anos, escondido dos pais pois não
precisava, mas muito independente e querendo ter seu próprio
dinheiro trabalhava em um açougue, onde entre outras coisas fazia
entregas, até ser descoberto pelos pais e ter que parar.
Na juventude foi timoneiro numa flotilha de remo do Clube Floresta
(atual Clube Espéria), e lá ganhou o apelido de “mosquito”, pois era
de pequena estatura, ágil e se adaptava muito bem como patrão das
embarcações de corrida.
Estudou contabilidade e já pensando em comprar seu automóvel tirou
carteira de habilitação em 1937 aos 19 anos. Trabalhando,
economizando e guardando dinheiro comprou seu primeiro automóvel em
1939 aos 21 anos.
Interlagos foi inaugurado em 12 de maio de 1940 e ele ia assistir as
poucas provas realizadas na época, era inicio da II Guerra e o uso
da gasolina foi proibido passando a se utilizar gasogênio como
combustível. Foram realizadas duas provas em Interlagos “Prova
Automobilística Interventor Fernando Costa” (43 e 44), as duas com o
mesmo nome. Não há registros, mas ele deve ter ido assistir, pois em
matéria de um jornal nos anos 60 ele cita essa corrida.
Pouco depois, em 1944, junto com seu amigo Danilo Conti (ambos com
26 anos) alugaram um salão na Av. São João, centro de São Paulo, e
montaram uma loja de peças de automóvel, “Auto Peças Tropical”, e
assim começaram uma história de sucesso.
Em 1945 casou-se com Odete Soares e já no ano seguinte (1946), aos
28 anos, nasceu sua filha Sandra Maria.
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1945 - Casamento |
1949 - Passeando
com a
filha na Rua Direita |
1952 - Ficha de
"piloto" do A.C.B.
Acervo: Napoleão Ribeiro |
1953 - Premiação
"Circuito da Guabirotuba" - Curitiba
Fonte: Paraná Esprtivo |
Acervo de sua
filha Sandra Maria |
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Além dos negócios da loja ele comercializava automóveis. Enquanto o
sócio cuidava da loja ele ia ao Rio de Janeiro ou Minas Gerais para
procurar e comprar carros que depois vendia em São Paulo e/ou
estados do sul. Dirigia muito por essa época, sempre de maneira
muito rápida.
Por conta da loja, de seu gosto por automobilismo e de suas idas à
Interlagos ficou conhecendo e se enturmando com alguns dos melhores
pilotos da época que acabaram se tornando amigos e clientes.
A loja cresceu e no início dos anos 50 quando
Emilio Zambello montou
a “Garage Fulgor” junto com Ruggero Peruzzo (ambos imigrantes
italianos), onde Zambello cuidava da compra de peças e em função
disso ficou cliente e amigo de Juliano, que acabou por levar para a
oficina de Zambello alguns pilotos amigos:
Celso Lara Barberis, Ico
Ferreira, Godofredo Vianna Filho e outros.
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Propaganda da loja
Fonte:
Jornais da década de 50 |
1952 - Nessa época morava na Alameda Lorena e tinha um carro
esporte, um MG TC. Fez inscrição de piloto no Automóvel Clube do
Brasil e se inscreveu no “I Grande Premio Auto Esporte Clube” em
agosto. Doou a “Taça Auto Peças Tropical” para o vencedor da
categoria turismo até 1.500cc. mas se inscreveu na categoria esporte
até 2.000cc. Chegou em 2º lugar com sua MG TC de nº 24.
“I Premio Prefeitura Municipal de São Paulo” em novembro (esses
Grandes Prêmios eram divididos em provas por categorias), ele se
inscreveu em duas categorias com o carro Simca 8, nº 21: categoria turismo até
1.500cc (Prova Comissão do 4º Centenário) e na categoria Esporte até
1.250cc (Prova Presidente do Automóvel Clube do Brasil). Chegou em
1º na turismo e em 4º na esporte.
Com esse Simca, no “IV Circuito de Petrópolis” (RJ), chegou em 4º lugar na geral e em 1º na categoria
turismo até 1.200cc .
1953 - Começou
o ano correndo no “I Circuito do Maracanã” (RJ) numa prova em
homenagem à XIII Assembléia da FIAC, que representava os Automóveis
Clubes de 18 nações das três Américas, dessa vez com um Fiat 1100 nº
101. Foi vencedor na categoria turismo até 1.300cc. Sua carreira
automobilística ia se desenvolvendo muito bem.
Sem um campeonato estadual o Centauro Moto Clube promoveu o
“Campeonato de Turismo da Rádio Panamericana” do qual Juliano se
sagrou campeão na categoria turismo até 2.000cc. Participou de uma
preliminar do “II Circuito de Campinas” (SP).
No domingo 31 de maio
amanheceu chovendo, e forte, mesmo assim foi dada a largada para a
primeira prova destinada a carros de turismo e esporte (classificação
em separado):
No entanto como a chuva não passava e
“criava ameaça, para os competidores e o próprio publico...” a prova foi suspensa e a
corrida principal adiada para o dia 4 de junho, uma quinta feira, com
entrada franca. A prova, apesar de interrompida com apenas 7
das 30 voltas previstas, teve seu resultado validado. Na turismo até
1.500cc Juliano foi o vencedor foi com Fiat 1100.
Participou ainda de provas no Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do
Sul, todas com o Fiat 1100..
1954 - Iniciou novamente o ano no “III Circuito do Maracanã” (RJ), agora
com um carro Bristol, nº 90. Foi 2º na geral e 1º na turismo até
2.000cc. Com esse carro fez só mais uma corrida, na verdade duas, na
prova "2 Horas de Velocidade" participou em corridas de duas
categorias: Categoria Turismo e Superesporte, com o mesmo carro
Bristol.
Para a prova “Cem Milhas
do 4º Centenário” em Interlagos comprou uma Ferrari 212 Inter de
Celso Lara Barderis, mas
logo a vendeu ao estreante Roberto Claro que com ela obteve o 2º
lugar na 1ª etapa do Campeonato Paulista em 10 de julho.
Correu na prova em comemoração do aniversário (343 anos) de fundação
da cidade de Mogi das Cruzes, na largada assumiu a liderança que
manteve por três voltas, conseguiu se manter na pista até a 10ª
volta quando abandonou por quebra do cambio.
Próxima prova foi a "Cem
Milhas do IV Centenário" quando correu com uma Ferrari de 2.000 cc
com o seu habitual nº 12, e com ela foi o 4º lugar na geral e 3º lugar na esporte
acima de 1.500cc.
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1954 - Bristol
2 Horas de Interlagos |
1954 - Fazendo
pose ao lado da Ferrari 212 em Interlagos |
1954 - Na prova
"Cem Milhas do 4º Centenário" |
1954 - Fazendo
curva do Pinheirinho em Interlagos |
Fotos do acervo de sua
filha Sandra Maria |
1955 - A família o pressionava a parar de correr, mas mesmo assim
participou em março do “I Circuito de Pirajuí” (SP), corrida de rua,
com um carro Lancia Aurélia B20, nº 12, na categoria esporte
internacional. Foi 6º lugar na geral e 2º na categoria. Trocou sua
Ferrari por outra, modelo 165MM, e participou do “II Premio
Prefeitura de São Paulo” em dezembro, essa prova marcava a
reabertura do anel externo e as provas foram realizadas por esse
circuito. Correndo com o nº 11 chegou em 10º lugar na geral e em 2º
na categoria esporte até 2.000cc.
Foi sua ultima participação em corridas, parou de correr mas
não abandonou o esporte.
TABELA DE PARTICIPAÇÕES E RESULTADOS (Colaboração
de Napoleão Ribeiro) |
Data |
Prova |
Carro |
Nº |
Classificação |
24/08/1952 |
Prêmio Paulo Machado de Carvalho - Interlagos (SP) |
MG TC 1.250cc |
24 |
2º na geral e 2º na S-1.5 |
15/11/1952 |
Prova Comissão do 4º Centenário - Interlagos (SP) |
Simca 8 1.089cc |
21 |
4º na geral e 1º na T-1.5 |
15/11/1952 |
Prova Presidente do Automóvel Clube do Brasil - Interlagos
(SP) |
Simca 8 1.089cc |
21 |
5º na geral e 4º na S-1.25 |
30/11/1952 |
IV Circuito de Petrópolis - Turismo - Petrópolis (RJ) |
Simca 8 1.089cc |
21 |
4º na geral e 1º na T-1.2 |
21/04/1953 |
I Circuito do Maracanã - Turismo - Rio de Janeiro (RJ) |
Fiat 1100 1.221cc |
101 |
1º Lugar |
10/05/1953 |
Premio Prefeitura Municipal de São Paulo - Turismo -
Interlagos (SP) |
Fiat 1100
1.221cc |
121 |
12º na geral e 4º na T-1.5 |
24/05/1953 |
1ª Etapa do Campeonato de Turismo da Rádio Panamericana
- T-2.0 |
Fiat 1100
1.221cc |
12 |
1º Lugar |
31/05/1953 |
II Circuito de Campinas - prova preliminar - Campinas (SP) |
Fiat 1100 1.221cc |
12 |
10º na geral e 1º na T-1.5 |
14/06/1953 |
2ª Etapa do Campeonato de Turismo da Rádio Panamericana -
T-2.0 |
Fiat 1100
1.221cc |
12 |
2º Lugar |
21/06/1953 |
III Prêmio Crônica Esportiva - Circuito da Quinta da Boa
Vista (RJ) |
Fiat 1100 1.221cc |
101 |
1º Lugar - T-1.3 |
26/07/1953 |
Prêmio Automóvel Clube do Brasil - Turismo - Interlagos (SP) |
Fiat 1100
1.221cc |
12 |
4º na geral e 2º na T-1.5 |
02/08/1953 |
3ª Etapa do Campeonato de Turismo da Rádio Panamericana
- T-2.0 |
Fiat 1100
1.221cc |
12 |
1º Lugar |
07/09/1953 |
I Prêmio da Independência - Turismo - Interlagos (SP) |
Fiat 1100
1.221cc |
12 |
3º na geral e 2º na T-1.5 |
27/09/1953 |
II Circuito do Maracanã - Turismo - Rio de Janeiro (RJ) |
Fiat 1100 1.221cc |
101 |
2º na geral e 1º na T-1.3 |
11/10/1953 |
Prova Paraná Esportivo - Circuito da Guabirotuba - Curitiba
(PR) |
Fiat 1100 1.221cc |
101 |
1º Lugar na S-1.5 |
25/10/1953 |
Prêmio Cinquentenário do Grêmio FP - Circuito da Redenção -
POA (RS) |
Fiat 1100 1.221cc |
12 |
T-1.2 - AB |
03/04/1954 |
III Circuito do Maracanã - Turismo - Rio de Janeiro (RJ) |
Bristol 1.991cc |
90 |
2º na geral e 1º na T-2.0 |
02/05/1954 |
2 Horas de Interlagos (SP) |
Bristol 1.991cc |
90 |
Turismo - 1º lugar
Superesporte -
9º lugar |
07/09/1954 |
I Prova de
Velocidade Fundação da Cidade - Mogi das Cruzes (SP) |
Bristol 1.991 cc |
? |
AB |
28/11/1954 |
Cem Milhas do IV Centenário - Interlagos (SP) |
Ferrari 2000 cc |
12 |
4º Lugar |
29/03/1955 |
I Circuito de Pirajuí (SP) |
Lancia Aurélia B20 1754cc |
12 |
6º Lugar |
11/12/1955 |
II Prêmio Prefeitura Municipal de S. Paulo - Interlagos (SP) |
Ferrari 166MM 1.950cc |
11 |
10º na geral e 2º na S-1.5 |
1956 - Passou a diretor da Comissão Desportiva Estadual do Automóvel
Clube do Brasil - Seção São Paulo. A história dessa mudança está
em uma reportagem publicada na Folha de São Paulo no mês de agosto
de 1960 :
Acho um pouco fantasioso. A prova, que não dizem qual foi,
pode ter
sido a “Cem Milhas do IV Centenário” realizada em novembro de 1954,
a ultima em que Juliano chegou em 4º lugar. Em 1955 participou de
duas provas e depois só vamos ter notícias dele em 1956 já nomeado
como integrante da Comissão Desportiva Estadual do Automóvel Clube
do Brasil - Seção São Paulo, que era composta por:
Francisco
Marques; Osvaldo Fanucchi; João Luiz de Andrade; Mario Glauco Patti
e ele, mas que por falta de apoio para a realização de competições
renunciou coletivamente em maio de 56.
Em julho saiu no jornal:
“A única novidade da semana foi a presença de Pedro Santalucia em
São Paulo. O chefe do Departamento de Corridas do A.C.B. veio
escolher nomes para a constituição da nova Comissão Desportiva de
São Paulo. Missão bastante difícil. Não sabemos do resultado do
trabalho de Pedro Santalucia, mas acreditamos que não tenha sido dos
melhores, porque não são todos que se interessam e têm tempo para
ocupar a presidência do órgão...”
-
Folha de São Paulo (22/07/1956)
Pedro Santalucia acabou nomeando outra comissão e dela faziam parte
4 membros, entre eles: Eloy Gogliano e Ângelo Juliano,
“... elementos que, se quiserem, poderão mesmo trabalhar com
eficiência para o beneficio do próprio automobilismo...”
-
Folha de São Paulo (29/07/1956)
Não encontrei como ele chegou à presidência da Comissão, por eleição ou
indicação, mas na Revista 4 Rodas de setembro de 1961 tem uma
reportagem e lá diz:
“... em julho de 1956, quando o Sr. Ângelo Juliano tomou posse na
presidência da Comissão Desportiva Estadual do Automóvel Clube do
Brasil (Sucursal de São Paulo), era programa de sua meta desportiva
a realização de um torneio sul-americano de automobilismo...”.
Não só o torneio, como nunca houvera um campeonato regular em
São Paulo, Juliano também tinha como meta o “I Campeonato Paulista
de Automobilismo”, que teria, e efetivamente teve, 7 provas, todas
realizadas com muito sucesso, os pilotos se animaram. O veterano
Arlindo Aguiar que havia se retirado das competições em 1952
retornou e numa reportagem disse:
“- ... aguardava que o automobilismo saísse da fase parada em que se
encontrava. Felizmente isso veio com a gestão do Sr. Ângelo Juliano
na Comissão Desportiva Regional neste feliz 1957. O automobilismo
ganhou muito entusiasmo,... já temos um calendário seguro e que se
executa à risca e com perfeição.”
- Gazeta Esportiva (22/06/1957)
A partir de 56 sua loja passou a ser o verdadeiro QG do
automobilismo, apesar de uma placa na escada dizendo:
“Proibido
discutir assuntos automobilísticos. Eles só podem ser discutidos das
20 às 22 horas, na sede do ACB, na avenida Brigadeiro Luiz Antônio.”
Eloy Gogliano, membro da comissão e também presidente do Centauro
Moto Clube, se uniu à Wilson Fittipaldi e inspirados na “Mille
Miglia” italiana criaram e realizaram a “I Mil Milhas Brasileiras”
em novembro, Juliano por sua vez motivado pelo sucesso dessa prova e
pretendendo reerguer a categoria Mecânica Nacional, criou outra:
“500 Quilômetros de Interlagos”, inspirada na “500 Milhas de
Indianápolis”, usando apenas o anel externo do autódromo.
1957 - Sobre a Mecânica Nacional tem uma matéria sobre Juliano
publicada em 1960 dizendo:
“... em 1956, como foi dito, não existia praticamente automobilismo
em São Paulo. Faltavam carros e, consequentemente, faltavam pilotos.
Ângelo Juliano, porém, encontrou uma solução. Durante quatro meses
seguidos correu o Brasil inteiro a procura de carros velhos, tipo
Grand Prix ... comprava com seus próprios recursos... com os chassis
todos em São Paulo e distribuídos
(vendidos)
tomou a segunda
providencia: importou 23 motores Corvette e 3 Cadillac...”
- Folha da Manhã (28/08/1960)
Desses carros o que tenho detalhes é o de
Luiz Américo Margarido,
Juliano comprou a
Talbot Lago T26C
de Pinheiro Pires (RJ), que antes
havia pertencido ao francês Jean Achard e nela instalou um dos
motores Cadillac, vendendo-a depois para Margarido que a estreou com
um 5º lugar na quinta prova do Cinquentenário do ACB em agosto.
A idéia da prova “500 Quilômetros” foi abraçada pela empresa Folha
de São Paulo que junto com o Departamento Desportivo (Juliano) organizou e
conseguiu patrocínio da COFAP; Metal Leve e Willys Overland do
Brasil. Marcada para o dia 7 de setembro fazia parte das
comemorações da Independência do Brasil.
No lançamento da prova em junho o Gal. Santa Rosa, presidente
do Automóvel Clube do Brasil, declarou:
“Indiscutivelmente os paulistas dão mais uma mostra de que são
pioneiros. Sem iniciativas particulares como esta que é tomada não
poderiam, efetivamente, existir em nossa terra promessas de dias
melhores para o automobilismo e para a indústria nacional. O A.C.B.
sente-se orgulhoso de prestigiar essa realização...”
- Folha da Tarde (23/06/1957)
Antes do final do ano os amigos já tinham transformado o apelido
“Mosquito” em “Mosquito Elétrico”. Perguntado certa vez se conhecia
Ângelo Juliano, Caetano Damiani respondeu:
“- Ângelo Juliano? Claro que conheci, era o “Mosquito Elétrico”,
ele não parava, era agitado, nervoso, sempre fazendo alguma coisa,
dentro ou fora do automobilismo.”
No entanto Juliano não conseguiu realizar o “Torneio Triangular
Sul-Americano” em 57.
1958 - Foi fundada a Associação Brasileira de Volante (ABV) e
Juliano foi um de seus fundadores e presidente:
“- O movimento é de todos os volantes do Brasil ... Vamos lutar
por nossas reivindicações e interesses: casos de acidentes, seguro
para o volante, defesa de nossos interesses junto ao Automóvel Clube
do Brasil e, principalmente, criar a mentalidade de classe entre os
corredores.
A ABV funcionará em defesa de seus associados tanto no Brasil como
no exterior, onde competimos e temos interesses também.”
- Tribuna da Imprensa (08/01/1958)
Lançou o “II Campeonato Paulista de Automobilismo” com 7 provas,
além do “500 Quilômetros de Interlagos” e a prova internacional.
O campeonato foi novamente um sucesso, o “500 Quilômetros” teve
manchetes como essa da Folha da Noite:
“Completo êxito dos 500 Quilômetros de Interlagos”.
Já a prova internacional deu muito, mas muito trabalho, Juliano teve
que fazer inúmeras viagens à Montevidéu e à Buenos Aires para
tratativas com a Associação Uruguaia de Volantes e o Automóvel Clube
Argentino para escolha dos pilotos, definição do regulamento, de
custos e pagamentos, teve datas remarcadas, pilotos trocados, etc...
Só no final do ano ficou tudo resolvido e a primeira prova do “I
Torneio Triangular Sul-Americano” para carros da Mecânica
Nacional foi realizada em Interlagos no mês de
novembro, as duas outras foram no início de 1959, a de Montevidéu
seria dia 18 de janeiro, mas foi adiada para 22 de fevereiro (veja
porque) e a de Buenos Aires foi em 1 de março.
1959 - Em maio se demitiu dos cargos de vice-presidente da Diretoria
e de presidente da Comissão Desportiva da Associação Brasileiro de
Volantes (ABV), continuando apenas como conselheiro.
Em agosto pediu afastamento da presidência da Comissão Desportiva
Estadual do Automóvel Clube do Brasil (Sucursal de São Paulo) para
tentar competir na Europa. Embarcou em 20 de agosto com o amigo
Chico Landi. Retornou antes de Chico, sem ter corrido, mas com
muitos contatos com pilotos e dirigentes visando realizar provas
internacionais no Brasil. Aqui chegando retomou os contatos com
uruguaios e argentinos para realização do torneio internacional.
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1958 -
Entregando troféu para Luiz Américo Margarido
Acervo:
Família Margarido |
1959 - Em
trabalho na Comissão Desportiva
Fonte: Carros a Vista |
1959 -
Conversando com Antonio Mendes de Barros
Fonte: Carros a Vista |
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1960 - "II
Circuito de Piracicaba"
Baby Barioni, Arnaldo Ricciardi, presidente da Comissão
Organizadora, Angelo Juliano, represente do A.C.B. e Salgot
Castillon, prefeito municipal.
Fonte: A Província |
1960 - Realizou,
em Interlagos, a primeira etapa do “II Torneio Triangular
Sul-Americano” no mês de janeiro, ficando as outras duas para maio
em Buenos Aires e Montevideu.
Abriu o “III Campeonato Paulista de Automobilismo” com o “II Circuito de
Piracicaba”:
“... mostrou-se entusiasmado com a competição afirmando que
espera reunir mais de trinta carros. Salientou que o fato de ser
essa a prova de abertura da temporada oficial de São Paulo e ainda
de contar pontos para o campeonato paulista teve influencia decisiva
para aumentar o interesse dos pilotos que desejam manter-se fiéis à
disputa do campeonato e consequentemente, de participar de todas as
provas correspondentes ao certame.”
- Jornal dos Sports - RJ (11/03/1960)
Nas festividades de inauguração de Brasília foi realizado um Grande
Premio, idealizado por Manuel de Teffé:
“Quanto ao êxito técnico do “G.P. Presidente Juscelino
Kubitschek” não tenho duvidas. Entreguei a organização a conhecidos
e “experts” no assunto, Francisco Perdigão e Euclides de Brito,
ambos da Comissão Desportiva do Automóvel Clube do Brasil e Ângelo
Juliano, presidente da Comissão Estadual, seção de São Paulo, do ACB.
São homens experientes e de uma dedicação ilimitada...”
- Correio da Manhã - RJ (07/04/1960)
Na realização do GP, Juliano foi designado como comissário do ACB,
sendo o árbitro de largada da prova principal, mas...
“... Sem a autorização da cronometragem, que ainda tomava
providencias preliminares para segurança de controle da prova, o Sr.
Ângelo Juliano, precipitando-se, autorizou a partida. Disso resultou
grande confusão ... não fosse a presteza com que os rapazes
comandados por Murilo Alves se recuperaram para controlar a corrida
com a mesma eficiência de sempre, mas a partir da segunda volta. O
tempo global da prova possibilitou o calculo de tempo para a
primeira volta.”
- Ultima Hora - RJ (25/04/1960)
Em junho esteve no Rio de Janeiro com o Gal. Santa Rosa apresentando
os nomes de Aldo Daprat, Agnaldo Araújo de Góes Filho, José Gimenez
Lopes e Wilson Kagnani para a Comissão Desportiva em São Paulo. O
Gal. Santa Rosa aprovou e o manteve na presidência.
1961 - Em janeiro foi realizada no autódromo de Interlagos (SP) a
primeira etapa do “III Torneio Triangular Sul-Americano”, a seguinte
seria em Buenos Aires. Seria, mas...
“... os brasileiros, sem argumentos que pudessem ser considerados
sequer aceitáveis, deixaram de participar (e provocaram o
cancelamento) da segunda rodada do Torneio Sulamericano que devia
ser efetuada em Buenos Aires... foi cancelada em vista da “ausência
dos brasileiros”. Tal cancelamento “em cima da hora” ocasionou um
prejuízo de 520 mil pesos ao Automóvel Clube Argentino.”
- Folha de São Paulo (10/12/1961)
Na verdade os pilotos brasileiros indicados:
Ciro Cayres,
Celso Lara Barberis,
Antônio Carlos Aguiar e
Camillo Christofaro estavam sem
carro à altura para enfrentar os “platinos”. Tentaram até a ultima
hora, mas sem auxilio oficial optaram por não ir. Não foi “de
repente”, foi enviado mensagem e as datas foram adiadas “sine-die”,
depois foram remarcadas para 5 e 12 de novembro, mesmo assim o
problema não foi resolvido
Foi fundada a Federação Paulista de Automobilismo (FPA) em julho.
Pouco depois, em agosto, foi fundada a Confederação Brasileira de
Automobilismo (CBA) (clique e veja mais)
Depois da fundação da CBA a Sucursal São Paulo do ACB foi
transformada em Automóvel Clube Estadual de São Paulo (ACESP)
ficando como seu presidente Oscar Malzone, logo após Juliano pediu
demissão da presidência da Comissão Desportiva, saindo também os
demais membros:
“ O Sr. Ângelo Juliano ocupava o posto de presidente da Comissão
Desportiva desde 1956, quando elaborou um programa que, concretizado
à risca, fez renascer, não apenas em São Paulo, mas em todo o país,
o automobilismo esportivo...”
- Folha de São Paulo (27/09/1961)
Ocupava também a presidência do Conselho Deliberativo, da qual não
se afastou, então o Automóvel Clube Estadual o enviou à Buenos Aires
para tentar a realização do “IV Torneio Triangular Sul-Americano”,
afinal ele era “velho” conhecido dos “”hermanos”, além de criador do
Torneio.
1962 - O “IV Torneio Triangular Sul-Americano” acabou não
acontecendo, Juliano não chegou a um acordo com argentinos e
uruguaios.
O ACESP havia comprado a sede do ACB em São Paulo, e em 7 e 8 de
abril realizou o Festival Automobilístico ACESP que constava de 8
provas, em Interlagos.
A briga pelo mando do automobilismo continuava, o ACB detinha,
ainda, a filiação à FIA, sendo que a CBA reivindicava essa filiação,
disputa que se refletia em São Paulo.
1963 - Aconteceram eleições no Automóvel Clube Estadual e é reeleito
Oscar Malzone, tendo como vices, Ângelo Juliano e
Piero Gancia.
Em 7 de setembro na prova “500 Quilômetros de Interlagos”, na qual
Ângelo era o diretor de prova, aconteceu um acidente fatal com
Celso
Lara Barberis, de quem Juliano era muito amigo:
“- Tenho a certeza de que Barberis morreu feliz. Deixou sua vida
na pista de automobilismo para a qual sempre viverá.”
- Correio da Manhã - RJ (10/09/1963)
Participou em novembro da organização do “Rallye Salvador-Rio”, do
qual fez o levantamento de todo o percurso
(1.670 Km) e foi o Diretor Técnico. Patrocinado pelo DNER (hoje: DNIT) que pretendia
mostrar
com a prova ser possível ir de Salvador (BA) até o Rio de Janeiro em dois dias
sem precisar ultrapassar os limites de velocidade das estradas. Foi
um sucesso.
1965 - Foi eleito presidente da Associação Paulista dos Volantes de
Competição (APVC)
1966 - O Automóvel Clube Estadual de São Paulo (ACESP) mudou o nome
para Automóvel Clube Paulista (ACP) e teve novas eleições:
“ Depois de mudar de nome, o Automóvel Clube Estadual de SP mudou
também de presidente: sai Oscar Malzone, que sempre procurou
entravar o automobilismo, e entra Ângelo Juliano, um lídimo
esportista que sem duvida acabará com as ultimas briguinhas. Sua
luta será para a pacificação total do nosso automobilismo, pois isso
ele sempre desejou.”
- Correio da Manhã - RJ (21/08/1966)
A tão esperada pacificação ente ACB e CBA estava dando sinais de que
iria acontecer, em agosto o Gal. Santa Rosa emitiu uma carta
manifesto:
“O Automóvel Clube do Brasil não abre mão de sua filiação
Internacional, entretanto, está disposto a ceder, em caráter
irretratável, o poder desportivo à Confederação Brasileira de
Automobilismo. O ACB se abstém de participar de corridas, passando a
exercer somente as demais atribuições estatutárias, que a filiação
internacional lhe confere. Em tal caso, a pacificação far-se-ia com
o sacrifício do Automóvel Clube do Brasil em omitir-se da prática de
seu desporto, porém sem abrir mão de prerrogativas que lhe pertencem
há mais de 50 anos.”
- Correio da Manhã - RJ (28/08/1966)
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1967 - Premiação
da "Mil Milhas" para Luiz Pereira Bueno
Fonte: Gazeta Press |
1967 - Em uma reunião na sede do ACB com o Gal. Silvio Américo Santa
Rosa, presidente do ACB, Amílcar Laurindo Ribas, presidente da
Comissão Desportiva Internacional do ACB, Oscar Muller, presidente
da Federação Carioca de Automobilismo, Dr. Carlos Muller, dirigente
do Automóvel Clube da Guanabara, Mário Ferreira Dias, presidente do
Automóvel Clube da Guanabara e Ângelo Juliano, representante do
Automóvel Clube Paulista, assinaram um protocolo selando um
acordo provisório.
Primeiro efeito do acordo foi o pedido do ACB à Fédération
Internationale de L’Automobile (FIA) para conceder anistia aos
pilotos brasileiros punidos internacionalmente por participarem de
corridas promovidas por entidades sem vinculo ao ACB, a lista de
pilotos paulistas foi levada ao ACB por Juliano, que sempre
procurava se posicionar ao lado dos interesses dos pilotos.
1969 - Por unanimidade e pela terceira vez consecutiva Juliano foi eleito
presidente
do Automóvel Clube Paulista (ACP).
1970 - Foi finalmente assinado o acordo de pacificação do
automobilismo. Acordo assinado em 26 de maio de 1970 por Mário Amato
representando o presidente da CBA, Mauro Salles, que por razões
profissionais estava nos EUA, e pelo presidente do ACB, Gal. Silvio
Américo de Santa Rosa. Com esse acordo a filiação esportiva junto à
F.I.A. passava à CBA ficando os assuntos relativos à circulação
internacional de veículos de turismo com o ACB, uma vez que por
decisão judicial o mando nas corridas nacionais já era da CBA desde
1965.
Filiou o ACP à Federação Paulista de Automobilismo para continuar
promovendo provas.
Em dezembro foi diretor da prova “Copa Brasil” e disse sobre a
política complicada, suja e cheia de interesses que
estava dominando o automobilismo (em sua opinião):
“- De cada dez pessoas que estão no automobilismo, nove são
delinquentes que querem viver às custas dele e um está por engano. A
salvação é gente nova, para mudar tudo.”
- Revista Placar (jan/1970)
Os jornais, em geral, elogiaram muito a organização da prova:
“Ângelo Juliano, presidente da entidade que deu “show” de
organização na ultima “Copa Brasil Internacional de Automobilismo.”
- Diário da Noite - SP (06/01/1971)
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1971 -
Entrevista após Copa Brasil
Fonte: Diário da Noite (RJ) |
1971 - Dando
bandeirada para Luiz Pereira Bueno no "XII 500 Quilômetros"
Fonte: Internet |
1971 - Promoveu pelo ACP e foi o diretor de prova do "XII
500 Quilômetros de Interlagos" em 7 de setembro, que teve vitória da dupla
Luiz Pereira Bueno e Lian Duarte com o
Porsche 908/2 da Equipe Hollywood.
1972 - Em novas eleições foi eleito vice-presidente do ACP na chapa
de Cármine Maida.
Foi a Portugal contatar pilotos europeus para correr a prova “500
Quilômetros de Interlagos”. A equipe portuguesa Team Palma veio ao
Brasil, além de pilotos italianos, alemães, suíços e argentinos, num
total de 17 estrangeiros.
Conforme relatos de sua filha, eles fecharam a “Auto Peças Tropical”
na época do
governo de Juscelino Kubitischek (31 de janeiro de 1956 - 31 de
janeiro de 1961), sem no entanto precisar datas, disse apenas que
com a chegada da indústria automobilística não compensava manter a
loja e alugaram o prédio.
Quando da fundação do ACP eles ocuparam um casarão que era do ACB na
Av. Brigadeiro Luiz Antônio, com o progresso da região os donos do
imóvel quiseram vender ao ACP, mas não houve interesse. Juliano
então soube de três senhoras de idade que queriam vender um imóvel na Av.
Brasil e se interessou, oferecendo ao ACP. Junto com os diretores do
Conselho Deliberativo resolveram comprar, depois de uma reforma e
feitos todos os tramites legais, a prefeitura aprovou e o ACP se
mudou e abriu a nova sede em 9 de Novembro de 1969. Passou a ser a
menina dos olhos dele, considerava uma de suas grandes realizações.
Depois do ACP, de onde saiu por volta de 1974, foi sócio de uma agencia VW no Alto da Lapa em São
Paulo (SP).
Depois da agencia VW, ainda nos anos 70, resolveu montar uma indústria de rodas de liga
leve, em Várzea Paulista, modelo que havia trazido de Milão (IT),
mas por esse tempo começou a enfisema pulmonar, creio que quando
chegaram as maquinas para fazer as rodas e como não teve entendimento com
o sócio, acabou desistindo e vendendo o prédio e tudo
mais para o “Rodão”, e ficou parado, vivendo dos alugueis e da compra
e venda de carros, em sua casa ou na loja de um amigo na Rua Barão de
Limeira.
Nas eleições para 1990 do ACP, aos 72 anos, indicado e incentivado por
Cármine Maida e Morales Filho (ex presidentes) se candidatou tendo
Emilio Zambello como
vice, e ganharam, voltando assim ao clube à que tanto havia se dedicado.
Ficou até 1993 quando veio a falecer. Em seu lugar assumiu
Emilio Zambello.
Em 1983, aos 65 anos, numa aventura extraconjugal engravidou uma
mulher, mas manteve segredo disso até 1993 quando já hospitalizado e
na UTI, numa visitação apareceu o garoto, já com 10 anos, e a mãe, ai
se desculpou, pediu perdão à família, e disse que não gostaria de deixar o
garoto desamparado, então a filha prometeu que se o exame DNA
confirmasse ele teria todos os direitos. Confirmada a paternidade
ele recebeu o sobrenome do pai.
Por essa época Ângelo Juliano faleceu, aos 75 anos de idade, vitima de enfisema pulmonar em
17 de novembro de 1993 no Hospital São Camilo,
sem ver seu pedido realizado. (relatos de sua filha em 2018)
"- Ângelo Juliano, querido amigo e figura
esquecida, sem ele acho que não haveria corridas depois de 1955. O
Ângelo era o cabeça do automobilismo, organizava as corridas, tomava
conta de tudo e até dava as bandeiradas de partida e chegada.
Brincando chamava-o de “mosquito elétrico”. era um grande amigo, um amor de pessoa, quando corri em Monza ele
estava lá junto com Chico Landi." -
Fritz D'Orey (pelo Messenger em 2018)