Nasceu em
Curitiba (PR) como Haroldo Guimarães Bastos Vaz Lobo, filho de
Manoel Vaz Lobo e Dna. Idylia Guimarães Bastos Vaz Lobo, em 6 de
outubro de 1926. Eram quatro irmãos, sendo ele o mais novo. Seu pai
veio a falecer em 28 de novembro de 1931, quando Haroldo tinha 5 anos,
deixando a esposa grávida e nasceu no ano seguinte (1932) mais uma irmã
(Marly), passando então a serem 5 irmãos. Em 25 de fevereiro de 1935
faleceu a irmã Regina, voltando a ser 4 irmãos, mas ele não era mais o
caçula.
Desde muito jovem teve atração pela velocidade motorizada, começando
ainda adolescente (15 anos) a competir em corridas de motocicletas.
No prefacio do calendário da Mahle Metal Leve de 2008 ele explica
como foi:
“- ...comecei minha carreira ainda “guri”, como se chamam os
garotos no sul... a equipe tinha medo de algum acidente com um menor
de idade e fez uma exigência. Eu precisava obter uma autorização
especial para correr. Minha mãe, dividida entre a preocupação com o
filho e o perigo que representavam o veículo e as pistas da época,
acabou sendo vencida pela minha insistência. Ela me questionava
sobre o perigo e eu repetia, convicto, que não havia nenhum. Os
colegas também ajudaram nessa missão de convencimento. Sem mais
argumentos, ela assinou a carta autorizando minha participação nas
provas. Segui minha carreira, e estou aqui, vivo, provando que ela
acertou ao ceder aos meus apelos.”
Suas primeiras provas foram com uma moto NSU de 100cc na categoria
até 120 cc. No ano de 1941 obteve uma vitória e três segundos
lugares, sempre no Velódromo Boa Vista, no Bacacheri (Curitiba - PR)
Era muito bem quisto nas pistas e em 1947 já com 21 anos, mas ainda
chamado de “o garoto”, participou em 1947 e 48 de categorias maiores com uma Victory 1.200 cc, e foi o vencedor em uma prova na
categoria até 350 cc com uma B.S.A. em 2 de outubro de 1949 no
Velódromo Boa Vista, no Bacacheri,
“Localizado em aprazível setor do arrabalde do Bacacheri, o
Velódromo Bela Vista, conta com uma pista de 1.640 metros,
atualmente em ótimas condições...”
- Diário da Tarde (16/08/1948)
Depois disso só vamos ter notícias dele em 1953 como um dos
idealizadores e incentivadores da criação de um clube para gerir o
automobilismo no estado, fato que se concretizou em 9 de maio de
1953 com a fundação do Automóvel Clube do Paraná (ACP), mas não
assumiu nenhum cargo na diretoria.
Há uma referencia no site
www.automanianet.com.br de que durante
algum tempo antes de começar a correr de automóveis ele levava,
rodando, automóveis novos de São Paulo para uma revenda em Curitiba,
onde ia aprimorando sua pilotagem.
Como em janeiro daquele ano estava programada a primeira prova
automobilística de Curitiba, talvez mesmo do estado, Haroldo tratou
de preparar um carro para o evento. Em uma época em que as cifras
eram geralmente inatingíveis, Haroldo comprou um Ford Coupé 1940, em
estado de novo. Em entrevista ao site Autoracing ele disse:
“- Quando comprei esse carro desmontei-o inteiro. Chamaram-me de
criminoso. Era o melhor carro para preparar. Um 1937 era muito leve.
Um 1934 pior ainda”.
A prova foi o “I Circuito Cidade de Curitiba” realizada em 18 de
janeiro e tinha Haroldo apontado como um dos favoritos, haviam 11
inscritos e a bandeirada de largada foi dada por
Chico Landi.
“Pelo seu valor, são apontados como grandes favoritos, os
volantes: Haroldo Vaz Lobo e Euclides Bastos (Perecera). Ambos
deverão correr com carros adaptados, não se sabendo com positividade
qual deles vencerá...”
- O Dia (20/01/1953)
Mas nos jornais só aparecem os três primeiros colocados e Haroldo
não está entre eles. “Perereca” venceu.
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Comemorando a
vitória
Calendário Metal Leve 2008 |
Em 1953 aparece no noticiário Haroldo participando de algumas
gincanas automobilísticas com um carro Mercury, e também a notícia
da participação dele no “Grande Premio Joinville” (SC) em 8 de
março, mas só há a indicação do vencedor: Euclides Bastos
(Perecera), a classificação de Haroldo é desconhecida.
Em outubro
participou e venceu a prova “Edmundo Dal Lago” categoria até 4.000
cc no “Circuito de Guabirotuba” (Curitiba - PR) ao volante de um
Morgan 3.000cc, e poderia ter vencido também a terceira prova do
programa: “Centenário da Emancipação Política do Paraná” para carros
adaptados (força Livre).
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A prova de Força
Livre quase
vencida também
Fonte: Calendário Mahle Metal Leve 2008 |
“O volante Haroldo Vaz Lobo, que foi o vencedor da segunda prova,
foi o que mais impressionou a todos, pois talvez que se não tivesse
rebentado as borrachinhas do freio de seu carro, teria vencido
também a terceira prova, uma vez que vinha até a altura em que se
deu o acidente, na dianteira e com boa diferença...”
- Paraná Esportivo (12/10/1953)
Descendo a rua Mal. Floriano em direção à avenida que hoje é chamada
Linha Verde, ficou sem freio ao cruzar a linha férrea quando
arrebentou um flexível do freio da sua carretera Ford Coupe 1940
nº5, vendo que não faria a curva à esquerda que estava próxima, ele
e seu co-piloto acenaram desesperadamente para a multidão que se
aglomerava nesse ponto para que abrisse caminho, notando que algo de
anormal acontecia, o povo correu e a carretera passou direto, indo
parar distante, sem atropelar ninguém. Mas o destaque da prova se
deu na cerimônia de entrega dos prêmios quando Haroldo
“...cedeu, atenciosamente, o troféu que lhe coube: “Edmundo Dal
Lago”, à viúva daquele grande companheiro, lamentavelmente
desaparecido em acabrunhador desastre”
- Paraná Esportivo (14/10/1953)
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II Circuito do
Tarumã com José Vera
Fonte: http://ruiamaraljr.blogspot.com.br |
1954, Adir Moss, piloto de carretera e vereador em São José dos
Pinhais, além de seu amigo, o convidou a participar de uma prova no Dia
de Reis na cidade. Ele relutou, mas
“...devido a persistência do convite... concordando que participaria
com a condição de numa eventual vitória, o premio seria destinado ao
segundo colocado, pois à ele interessava somente o esporte em
primeiro plano e com elos de amizade...”
Pois bem, participou e venceu, e o premio foi para Paulo Vaccari que
chegou em segundo. Adir Moss chegou em 4º lugar.
Ainda em 1954 abandonou a “I Prova Paraná Esportivo”, Curitiba-Ponta
Grossa, ida e volta, com o dínamo quebrado (abril) e foi 4º lugar no
“I Circuito do Tarumã” (Curitiba - PR) (maio), ambas com sua
carretera Ford Coupe1940.
No “II Circuito do Tarumã” realizado no local da Exposição
Internacional do Café e em prol da Campanha Nacional do Câncer
Haroldo venceu com uma carretera Chevrolet de seu amigo José Vera,
que atuou como co-piloto.
Três meses depois da primeira prova no Tarumã ele venceu novamente, o agora “III Circuito do Tarumã” com
sua carretera Ford 1940 nº 5 (agosto).
Na realização do “I Circuito Cidade São José dos Pinhais” participou
e venceu nas duas categorias: Turismo, em dupla com Cirilo Previde
com Ford nº 17, e Força Livre, em dupla com Carlito Kumel com sua
carretera Ford 1940 nº 5 (novembro).
1955, foram três provas:
“II Prova Paraná Esportivo”, Curitiba-Ponta Grossa, ida e volta,
abandonou na 1ª parte da prova com o motor fundido de sua carretera
Ford nº 5 (maio).
“Volta do Passeio Publico”, chegou em 5º lugar (setembro).
“II Circuito Cidade São José dos Pinhais”, 2º lugar fazendo dupla
com Cirilo Previde em sua carretera Ford, dessa vez com o nº 2
(dezembro).
1956, foram só duas provas:
“III Prova Paraná Esportivo”, Curitiba-Ponta Grossa, ida e volta, 4º
lugar na categoria Força Livre com sua carretera Ford nº 5
(setembro).
“I Mil Milhas Brasileiras”, em Interlagos (SP), fazendo dupla com
Rosalvo Mansur (SP), chegaram em 20º lugar em sua carretera Ford nº 58
(novembro).
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Volta do
Passeio Publico - 1955
Fonte: AutomaniaNet |
Mil Milhas 1956
Fonte: Diário do Paraná |
Antes da V
Mil Milhas Brasileiras (1960)
Raul Wigner, Breno Fornari, Haroldo Vaz Lobo
Fonte: http://ruiamaraljr.blogspot.com.br |
Vistoria para V Mil Milhas Brasileiras Fonte: http://ruiamaraljr.blogspot.com.br |
1957, foi uma única prova:
“II Mil Milhas Brasileiras”, em Interlagos (SP), em dupla novamente
com Rosalvo Mansur (SP) em sua carreera Ford nº 58 (novembro). Não
terminaram, fundiu motor na 10ª volta quando estavam em 4º lugar,
mas, fora da prova, cedeu peças de sua carretera para a dupla
paranaense Euclides Bastos (Perereca) e Germano Sloeguer que
acabaram chegando em 12º lugar.
1958, três provas:
“I Quilômetro de Curitiba” (Prova Automobilística Paraná Esportivo),
realizada em 1 de fevereiro, que teria 10 categorias, mas em 3 delas
não teve participantes inscritos, Haroldo participou em quatro
delas: 1º lugar na 1ª Cat. com VW 1954; 7º lugar na 5ª Cat. com Ford
1951; 7º lugar na 8ª Cat. com Cadillac 1956 e 2º lugar na 10ª Cat.
com sua carretera Ford Coupe1940.
“Circuito Festa da Uva” em Caxias do Sul (RS) se inscreveu mas sua
carretera quebrou ainda nos treinos em Curitiba, nem foi à
Caxias do Sul.
“III Mil Milhas Brasileiras”, em Interlagos (SP), fazendo dupla com
Raphael Gargiulo (SP), chegaram em 20º lugar em sua carretera Ford
nº 58 (novembro).
1959, participou apenas da “IV Mil Milhas Brasileiras”, em
Interlagos (SP), fazendo dupla com José Cury (PR), chegaram em 12º
lugar em sua carreera Ford nº 50 (novembro).
1960,
foram três provas:
“Quilômetro Lançado” onde participou em duas categorias: 2º lugar na
2ª Cat.com DKW 1959 e 7º lugar na 5ª Cat. Com Mercury 1954 nº 116
(junho)
“500 Quilômetros de Porto Alegre” (RS) fazendo dupla com o gaúcho
Júlio Andreatta da Escuderia Galgos Brancos, chegaram em 6º lugar em
uma carretera Ford nº 6 (outubro)
“V Mil Milhas Brasileiras”, em Interlagos (SP), fazendo dupla com
Júlio Andreatta (RS), chegaram em 13º lugar em uma carretera Ford nº
60 (novembro).
1961, o ano se iniciou com ele recebendo o título de Volante do Ano,
eleito por jornalistas especializados.
Em corridas participou de
duas:
“III Circuito Cidade São José dos Pinhais”, chegou em 1º lugar com
sua carretera Ford Coupe1940 (janeiro).
“VI Mil Milhas Brasileiras”, em Interlagos (SP), fazendo dupla com
Dante Carlan (RS), abandonaram, em sua carretera Ford com o nº 13
(novembro).
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Fonte: Paraná
Esportivo |
III Circuito
Cidade São José dos Pinhais - 1961
Fonte: Correio do Paraná |
III Circuito
Cidade São José dos Pinhais
Fonte: Diário do Paraná |
III Circuito
Cidade São José dos Pinhais - 1961
Fonte: Ultima Hora |
1962, iria participar de uma prova:
“V Circuito Cidade São José dos Pinhais”, nessa prova a comissão
organizadora exigiu dos participantes a assinatura de um compromisso
de responsabilidade pela integridade física dos assistentes, fato
que não foi aceito por três volantes: Haroldo, Paulo Buso e Dante
Carlan (RS), mas os mesmos alinharam e foram retirados momentos
antes da largada, causando confusão e decepção entre os torcedores.
Nesse ano, no mês de julho Haroldo recebeu uma suspensão:
“Vaz Lobo suspenso por um ano - A diretoria do Automóvel Clube do
Paraná suspendeu por um ano o corredor Haroldo Vaz Lobo, alegando
indisciplina cometida na ultima competição patrocinada pela
entidade. A suspensão será de um ano, a contar do dia 24 de junho,
data da competição que motivou a penalidade.”
- Diário do Paraná (31/07/1962)
1963, em abril saiu a seguinte noticia:
“O corredor Haroldo Vaz Lobo que foi perdoado pelo Automóvel
Clube d Paraná, depois da pena que sofreu deverá estar presente à
prova 500 Quilômetros de Lajes (SC) a ser efetivada ainda este mês
naquela cidade.”
Diário do Paraná (5/4/1963)
Não há indicação do motivo do perdão, mas não participou dessa prova.
1964, apenas uma corrida;
“6 Horas de Curitiba”, participou em dupla com Claudio Gaya e
chegaram em 9º lugar, com carretera Ford 1940 nº 6 (novembro). O
circuito tinha os boxes no triângulo formado pela Rua Conselheiro
Dantas, Avenida Kennedy e Marechal Floriano. Dali os carros seguiam
pela Mal. Floriano, entravam pela Getúlio Vargas, desciam a
Brigadeiro Franco, à direita na Rebouças, depois esquerda em frente
ao Joaquim Américo, depois Brasílio Itiberê, Desembargador
Westphalen e Avenida Kennedy, até entrar de novo na Mal. Floriano.
1965, participou de três corridas:
“Rodovia do Café”, BR-104, prova que fazia parte das festividades de
inauguração da estrada pelo presidente Castelo Branco, acontecida em
25 de julho . Correu com carretera Chevrolet nº 60 em dupla com
Francisco Zeni e chegaram em 8º lugar na geral (agosto).
“VII Mil Milhas Brasileiras”, em Interlagos (SP), fazendo dupla com
Francisco Zeni, chegaram em 18º lugar correndo com uma carretera
Chevrolet/Corvette nº 5 (novembro).
“II 6 Horas de Curitiba”, participou em dupla com Francisco Zeni,
mas abandonaram por quebra da carretera Chevrolet nº 5 (dezembro).
Essa
segunda edição da prova ocorreu em um trecho da antiga BR-116, hoje
Linha Verde, entre o Tarumã e o Jardim Botânico, ida e volta. O
traçado tinha duas grandes retas e dois cotovelos, nada mais.
1966, participou novamente da prova “Rodovia do Café” com sua
carretera, mas já contra muitos carros nacionais e renomados
volantes nacionais, como Chico Landi,
Camillo Christofaro,
Jayme
Silva e outros. Foi 2º lugar na categoria Força Livre e 10º lugar na
geral (dezembro).
1967, participou de uma única corrida, a “Prova Governador Paulo
Pimentel” mais conhecida por Subida da Serra da Graciosa realizada
em 29 de janeiro.
Foi o segundo piloto a se inscrever e disse sobre o perigo a se
enfrentar na Serra do Mar:
“- O perigo existe em qualquer prova e, acredito, já participei
de provas mais difíceis, notadamente as que se realizavam na estrada
velha de Curitiba-Ponta Grossa e que apresentavam maiores
dificuldades. Além do sinuoso traçado da estrada, havia, ainda, as
péssimas condições do leito da rodovia, de macadame.”
- Correio da Manhã (29/01/1967)
“- Tenho certeza de que os paranaenses terão uma ótima colocação
na 1ª Prova de Subida da Montanha, pelo conhecimento que têm do
trecho.”
- Correio da Manhã (29/01/1967)
1968, finalmente depois de 15 anos participando de provas
automobilísticas Haroldo se inscreveu para a “Prova Gov. Paulo
Pimentel” que inaugurou a Rodovia do Xisto em 4 de fevereiro e foi
realizada entre Curitiba e São Mateus do Sul, ida e volta. Não
concluiu o percurso com sua carretera Ford Coupe 1940 nº 8
(fevereiro). Parou de competir depois dessa prova com 42 anos de
idade.
Haroldo foi casado e teve um filho, Marcelo, que começou no kart,
mas logo a esposa disse:
“- Não o incentive que isso é perigoso.”,
dizia Haroldo divertindo-se.
Em 2007 participou do evento “Carreteras Históricas” promovido em
Passo Fundo (RS) por Paulo Trevisan do
Museu do Automobilismo
Brasileiro, onde foi um dos homenageados, e deve ter sido a última
homenagem recebida por ele em vida, ano seguinte veio a falecer. Foi
também uma das ultimas vezes que pilotou sua carretera.
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2007 -
Encontro Carreteras Históricas
Foto do autor |
Carreteras
Históricas - Passo Fundo (RS)
Foto do autor |
Sua
carretera sempre mantida em perfeitas condições
Fonte: Tribuna do Paraná oOnline |
Começou a correr de automóveis em 1953, de motos havia começado em
1941, e só parou aos 42 anos, por influências externas:
“- Parei, mas não por mim, não me deixaram mais.”
- disse durante aquele evento.
Em outra declaração disse:
"-
O perigo andava ao lado, mas a coragem era o nome do meio desses
pilotos. Em São Paulo as carreteras eram chamadas de cadeiras
elétricas. Você tem que conhecer muito o carro ... Não era qualquer
pessoa que podia correr com esses carros ...”
Haroldo morreu no dia 2 de agosto de 2008, um sábado, aos 82 anos,
ele sofria de diabetes e foi vítima de uma parada
cardiorrespiratória em sua casa em Curitiba.
Colaboração: Ricardo Cunha