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Página acrescentada em 1 de agosto de 2014.
 

Norberto Jung

Nascimento: 19/06/1903  -  Falecimento: 11/06/1976

Norberto Jung (1927)

Nascido em Porto Alegre (RS) no dia 19 de junho de 1903, Norberto Jung era filho único do casal Guilherme Jung Filho e Ida Carneiro Jung, ambos descendentes de imigrantes, ele de alemães, ela de portugueses.
Seu pai se dedicava a importação e comercio de tecidos
. Buscando melhorias na relação comercial, a família Jung viajou para a Alemanha na infância de Norberto, onde permaneceu durante dois anos, tempo em que aproveitaram para conhecer a Europa.
Ainda jovem aprendeu e começou a se dedicar ao comercio de automóveis, onde se saiu muito bem. Em 1925, aos 22 anos de idade, se casou com Noemi Teixeira de Carvalho e tiveram um único filho.
A sua paixão por automóveis fez com que se inscrevesse na primeira competição automobilística realizada em Porto Alegre, o “Quilômetro Lançado” em 15 de novembro de 1926. Na prova os competidores tinham 600 metros para acelerar e em seguida um quilômetro para serem cronometrados. Jung participou com um Dodge na categoria de 3 a 4 litros. Venceu a prova na sua categoria ficando empatado com C. Monzel, que também competiu com um Dodge, ambos fazendo o mesmo tempo com velocidade média de 101,124 km/h.

Circuito de Outono (1927)

Sua segunda participação em corridas de automóveis ocorreu em 13 de maio de 1927 quando a AER (Associação Estradas de Rodagem do Rio Grande do Sul) promoveu a primeira corrida de rua de Porto Alegre, o “Circuito de Outono”. Para dar um caráter nacional ao evento, foi convidado o piloto petropolitano Irineu Corrêa, que venceu a prova ao volante de um Studebaker, Norberto Jung ficou em 4º lugar em sua categoria com seu Dodge nº 5.
Já dispondo de experiência em competições preparou um Dodge para a segunda edição do “Quilômetro Lançado” que foi disputado em 20 de novembro de 1927. Na verdade se inscreveu com dois carros, já que os carros largavam individualmente,
obtendo os dois primeiros lugares, ficando o carro de nº 5 em primeiro e o de nº 17 em segundo. Ambos os carros eram da marca Dodge, sendo que o de nº 15 (adaptado de corrida) teve uma preparação especial, o chassi foi encurtado, a carroceria fabricada em alumínio, além de um dispor de um motor Dodge preparado da mesma forma dos que competiam em Indianápolis (USA). Cruzou a linha de chegada marcando o melhor tempo a nível nacional para esse tipo de corrida à época: 139,534 km/h.
Nessa época, Norberto se associou ao amigo Armando Ribeiro e em 1928 fundou a revenda de automóveis “Ribeiro Jung” que logo depois em 1931 tornou-se revendedor Ford. A Ribeiro Jung é atualmente a segunda mais antiga revenda da marca no Brasil. Mais antiga do que ela só a Sonnervig, de São Paulo, que foi fundada em 1927.
As provas eram raras naquele final de década e ele envolvido na revenda teve uma participação na Prova Pelotas-São Lorenço-Pelotas, em 5 de abril de 1931, quando não se classificou, correndo com um Ford “A”. Só voltou a correr "prá valer", ainda de Ford "A", no “Raid Montevidéu-Porto Alegre-Montevidéu” em 1934 promovido pelo “Centro Automovilista del Uruguay” entre os dias 28 de março e 2 de abril num percurso de 2035 Km. de estradas precárias. A prova foi dividida em 4 etapas, Jung venceu a duas primeiras, chegou em segundo na terceira e na quarta ele com problemas com o freio e com a caixa de cambio chegou em quarto. Nessa etapa dos 16 carros que largaram só quatro chegaram a cruzar a linha de chegada devido ao mau tempo. Na classificação geral Jung ficou em 4º lugar.
Em 24 de fevereiro de1935, competindo com um Ford V8, Norberto foi obrigado a abandonar, por problemas mecânicos, na prova Porto Alegre Cidreira, que foi vencida por Olyntho Pereira com carro idêntico.
O Touring Club do Rio Grande do Sul foi fundado em 21 de março de 1935 e passou então a gerir as provas e campeonatos de carros de competição no Estado. Foi neste ano, meses depois que a Scuderia Galgos Brancos foi fundada pelos pilotos Norberto Jung, Oscar Bins, Olyntho Pereira e João Caetano Pinto. A Scuderia era "fechada", não se permitia a entrada de outros pilotos na equipe.

GP Farroupilha, o vitorioso Norberto Jung em seu Ford V8 adaptado

GP Farroupilha: Olyntho, Jung e Bins

A estréia da equipe aconteceu na prova em homenagem ao centenário da Revolução Farroupilha acabou por ficar conhecida como “Grande Premio Farroupilha” e foi realizada no dia 15 de novembro de 1935, reservada aos “adaptados de corrida”, o local escolhido para a disputa foi bairro Cristal, de Porto Alegre, ainda pouco habitado naquela época. O Circuito tinha 15 Km de extensão e contou com a participação do carioca Hugo Teixeira de Souza e do uruguaio Ramon Sierra, mas foi Jung quem venceu com seu Ford V8 adaptado. Sob os aplausos da multidão foi carregado até a tribuna de honra onde foi cumprimentado pelas autoridades presentes, entre elas o governador do estado Flores da Cunha. Em 2º e 3º chegaram os outros pilotos da Scuderia Galgos Brancos: Olyntho Pereira e Oscar Bins respectivamente.
No ano seguinte, 1936, Jung, Oscar Bins e Olavo Guedes levaram suas “baratinhas Ford” ao Rio de Janeiro para disputar o internacional “IV Grande Premio Cidade do Rio de Janeiro”, ou como ficou popularmente conhecido, o “Circuito da Gávea”. Jung, um estreante na prova, chegou em 5º lugar, numa prova que teve 3 carros Grand Prix nas primeiras colocações.

Subida da Montanha - Força Livre

Ainda em 1936 foi fundada a “Associação dos Volantes do Rio Grande do Sul” que em 4 de agosto promoveu a prova de “Subida do Caracol”, no Morro Bela Vista em Porto Alegre, dividida em 3 baterias: carros standard fabricados até 1931, standard acima de 1931 e Força Livre (adaptados). Jung se inscreveu com 3 carros e foi segundo com Ford V8 na categoria acima de 1931 e 2º e 3º na Força Livre.
Nessa essa época Jung era muito popular, tanto entre o público como entre os pilotos, vários deles tinham seus carros preparados em sua oficina, entre eles: Oscar Bins, João Caetano Pinto, Abelardo Jacques Noronha e Adalberto Moraes, esse era mecânico nas oficinas da Ribeiro Jung.
A Associação dos Volantes promoveu, apoiada pela Empresa Jornalística Caldas Junior, o “I Grande Premio Folha da Tarde” no Circuito do Cristal em 14 de fevereiro de 1937. Para abrilhantar o evento foram convidados alguns pilotos de fora do Rio Grande do Sul, sendo Nascimento Junior, Irahy Corrêa, Chico e Quirino Landi de São Paulo e Luiz Tavares de Moraes do Rio de Janeiro. Nessa prova, apesar de liderar com larga vantagem até a 7ª volta, Norberto Jung teve que abandonar com o tanque de combustível furado ficando parado na Av. Juca Batista, não sem antes estabelecer a melhor volta da prova com a média de 113,969 km/h. O vencedor foi Nascimento Junior, com um Ford V8 Adaptado.

Chegada à Porto Alegre depois de vencer o Raid, com esposa e filho - 37

Animado com sua performance, se inscreveu na prova promovida pelo “Centro Automovilista del Uruguay” que ficou conhecida como “Raid Montevideu-Rio de Janeiro” e tinha um percurso de 3200 km divididos em 8 etapas e reunindo pilotos de países sul-americanos. Jung venceu a maratona e se consagrou nacionalmente, sendo recebido pelo presidente Getúlio Vargas, gaúcho e fã de automobilismo como ele .

Gávea 37 - Benedicto Lopes, Jung e Nascimento Junior

Ainda em 1937 Jung estava em 6 de junho na largada do “V Circuito da Gávea” com seu Ford V8 adaptado enfrentando os estrangeiros e suas máquinas Grand Prix, claro que não conseguiu vitória, ficou em 9º lugar, Benedicto Lopes foi o melhor brasileiro na prova, chegou em 6º lugar com seu Alfa Romeo modelo Grand Prix. No ano seguinte participou, em 17 de abril, do Circuito do Cristal, quando se classificou em terceiro lugar.
Ainda em 1938, Norberto Jung participou das duas provas disputadas na Gávea, na primeira, em 29 de maio, abandonou logo após completar a 1ª volta e, na segunda, seu infortúnio foi ainda maior, tendo abandonado antes de completar a primeira volta.
Em 28 de dezembro participu do Raid “Montevidéu-Rivera-Montevidéu”, classificando-se em 3º lugar.
Em fevereiro de 1939 obteve vitória numa das últimas provas da década de 30, a prova “Porto Alegre-Tramandaí”. Nessa prova Catharino Andreatta que já fazia parte da Scuderia Galgos Brancos chegou em 2º lugar.
Em setembro de 1939, Jung colocou seu Ford V8 “adaptado de corrida” num caminhão e se deslocou para São Paulo onde seria inaugurado o primeiro autódromo da América do Sul: Interlagos, Mas a prova foi cancelada devido às fortes chuvas. A inauguração acabou acontecendo no dia 12 de maio do ano seguinte (1940), mas dessa vez Jung levou seu carro de avião, e apesar de muito bem preparado chegou em 9º lugar na geral e em 3º na categoria “adaptados” levando um premio de 6:000$000 (seis contos de reis) e o troféu “Commendador Sabbado D’Angelo”.

Circuito da Charqueada - 41

Em 1940 mais um abandono, no “Raid Rio de Janeiro-Porto Alegre” em comemoração ao bicentenário de Porto Alegre, ainda nesse ano venceu o “Circuito da Charqueada”. Em seguida estava marcada a “Grande Prova Getúlio Vargas” e Jung enviou uma carta para Herbert Moses, presidente do Automóvel Club do Brasil. Trecho de notícia publicada no jornal “A Noite” do dia 30 de abril informava que ele:... permitiu-se o direito de censurar os integrantes da Comissão Esportiva, classificando-os de tecnicamente incompetentes para dirigir ou organizar a prova “Getulio Vargas”. Foi além Jung, aconselhou Moses a contratar um técnico argentino, pois só assim aquela prova poderia ser levada a bom termo”.
Sua carta foi considerada um ato de indisciplina e o Cap, Sylvio Santa Rosa, presidente da Comissão Esportiva o suspendeu por seis meses em nível nacional.
Nesse mesmo ano, na época em que seria disputado “Circuito da Charqueada” aconteceram muitas chuvas e consequentes inundações que resultaram em 40 mil desabrigados, uma tragédia. A Associação dos Volantes, o Touring Club e o jornal Folha da Tarde resolveram promover o “Circuito do Cristal” em junho em beneficio dos desabrigados. Só que as constantes chuvas provocaram o adiamento da prova por diversas vezes, até que foi realizada em 29 de junho, mesma data da “Prova Getúlio Vargas”, motivo pelo qual nenhum piloto gaúcho participou do evento nacional. Norberto Jung venceu brilhantemente a prova beneficente.
As provas rareavam e a seguinte foi em 15 de fevereiro de 1942 o “Circuito de Vacaria”, com vitória de Catharino e Jung em segundo.

Correndo de gasogênio em 43
Calendário Metal Leve 2003

A crise gerada pela Segunda Guerra Mundial levou o governo a proibir a circulação de veículos movidos a gasolina, então a saída foi usar o gasogênio como combustível, inclusive nas corridas. Gasogênio é o nome do combustível obtido pela queima de carvão, ou lenha, e era chamado de “gás pobre” gerado num “trambolho” de quase 100 Kg preso na traseira dos automóveis.
Novamente o Touring e o jornal Folha da Tarde organizaram a primeira prova desse tipo em solo gaúcho no dia 18 de julho de 1943, o “Circuito do Cristal”. Alinharam 30 pilotos, entre eles Jung com seu Ford usando gasogênio Berta. A vitória ficou com Catharino Andreatta e Jung classificou-se em 4º lugar. No ano seguinte, em 10 de setembro, uma nova corrida com gasogênio, novamente no Circuito do Cristal, com nova vitória de Catharino e Jung classificando-se dessa vez em 3º lugar.
Passados os horrores da guerra o automobilismo gaúcho retomou suas atividades, mas Jung havia abandonado as pistas, mas não se afastou das competições, continuou participando como delegado do Automóvel Clube do Brasil.
No final da década de 40, Jung envolveu-se em um acidente de trânsito resultando em múltiplas fraturas no braço esquerdo. Como a medicina ortopédica da época ainda não tinha os recursos atuais, os médicos optaram pela amputação do membro.
Depois de um período de recuperação e adaptação ele voltou a dirigir normalmente, até mesmo carros sem ajustes especiais para amputados. Teve uma vida normal, não abandonando as cavalgadas inclusive, outra das suas paixões. Continuou também suas atividades na Ribeiro Jung S/A.
Um reconhecimento dos automobilistas a esse grande piloto veio com a realização no dia 9 de setembro de 1951 da prova "Norberto Jung", com largada na cidade de Erechim\RS, passando por Cruz Alta\RS e terminando em Passo Fundo\RS. Sagrou-se vencedor o piloto Aido Firnardi, o "Rei das Curvas", representante desta última cidade.
Norberto Jung faleceu em 11 de junho de 1976 dias antes de completar 73 anos.

Exceto onde indicado as fotos foram "emprestadas" dos livros:
"Automobilismo no tempo da carreteras" de Paulo Renner e Luiz F. Andreatta
"Automobilismo Gaucho - Levantando Poeira" de Gilberto Menegaz
Colaboração de Luiz Fernando Jung

 

 

 

  
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