Uma visão dos nossos históricos anos sessenta e um pouco antes

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Página acrescentada em 15 de fevereiro de 2008.  -  Atualizada em dezembro de 2020
 

Graziela Fernandes
(atualmente Graziela Santos)
por Paulo Roberto Peralta

Graziela/1965

Ficha de inscrição no Automóvel Club

Nasceu em 13 de junho de 1940 em Assuncion.
P
araguaia por nascimento mas brasileira de coração, tinha sangue italiano nas veias, sua mãe era italiana. 
Na pré-adolescência quis, pediu e ganhou uma pequena moto de 50cc. Já adolescente fez o Curso Normal e, gostando muito de motores e velocidade, fez também um curso Técnico de Engenharia de Motores. 
Nasceu no Paraguai, mas na primeira oportunidade mudou-se para o Brasil, e, já naturalizada, repete até hoje que se considera brasileira pelo tanto que gosta do país. 
Morando no Rio de Janeiro e possuindo um carro
esporte marca Willys Interlagos, conversível, inscreveu-se em uma prova feminina, preliminar da “100 Milhas da Guanabara”, onde correu patrocinada pela concessionária Cássio Muniz, que cuidou da preparação do carro.

Peralta e Graziela em 2007

Morava no Rio de Janeiro e querendo sempre estar perto de automóveis e motores tentou trabalhar na FNM, mas não conseguiu, depois tentou em São Paulo e conseguiu na Willys Overland. Feliz da vida, mudou-se imediatamente para São Paulo e começou a trabalhar no Depto. de Engenharia Experimental como piloto de testes, testava tudo que seria lançado um ou mais anos depois. Os engenheiros introduziam modificações e os pilotos testavam.

1965 - Renault 1093 Grupo II em Piracicaba 1965 - Renault 1093 Grupo III em Piracicaba

Por essa época corriam na Equipe Willys, Wilson Fittipaldi e seu irmão Emerson Fittipaldi, José Carlos Pace, o "Moco", e o Luiz Pereira Bueno. Tentou correr pela equipe, mas não podia porque trabalhava na fábrica, então a Willys lhe cedeu um Renault 1093 para correr, o carro era da fábrica, mas não da Equipe, mas era a Equipe que preparava o carro. Nessa época quem ajudou muito, ensinando, apurando seu dom natural de correr, foi Luiz Pereira Bueno, um piloto muito técnico e rápido. 
Sua primeira corrida com esse carro foi em Interlagos numa prova feminina, chegou em 3º lugar, depois correu em Piracicaba onde participou de duas corridas, Grupo II e Grupo III.

Correu de Kart em 1966. Numa ida à fábrica de volantes que o Emerson e o Wilsinho tinham, viu um Kart Mini no chão, nunca tinha visto, e na conversa surgiu o convite:
”- Olha, no fim da semana tem corrida pelo Campeonato lá em Ribeirão Preto, vai para lá que te emprestamos o Kart.”
Foi, e lá chegando passou primeiro pelo kartódromo, quando viu aqueles carrinhos e a velocidade que andavam, pensou em desistir, afinal só tinha corrido em carros de turismo, mas como era tarde resolveu pernoitar na cidade e quando chegou ao hotel, repórteres de televisão, de jornal, revista, estavam todos esperando por ela, a “boneca que ia correr”. 
”- Eu não pude mais cair fora, como eu ia falar que nunca tinha andado?” Recorda.
Lá foi ela então, treinou no sábado, no domingo correu, e chegou em 3º lugar. 
Da categoria estreante já saiu na 1ª corrida, pois pegou pódio. Depois fez 2 de novatos, e por pontos passou para profissional. Aí não correu mais, não tinha como conciliar com seus outros interesses.
Em 1966 correu o "Mil Km de Brasília" em dupla e com a Berlineta do “Tigrão” da Torke (Luiz Carlos Fagundes), mas foi a Equipe Willys que preparou o carro. Não terminaram, o carro quebrou quando faltavam apenas duas horas para o final.
Tinha também uma de passeio modelo Berlineta, particular, que tirou zero na fábrica, com motor mais possante.
No "GP IV Aniversário da APVC" participou, com  o Renault 1093, de duas provas no mesmo dia, a prova do Grupo II (2º lugar) e da prova do Grupo III (3º na gategoria)

Graziela dando aula de mecânica para mulheres

Em 1967, mesmo não correndo, não se afastou do automobilismo, por exemplo, foi quem pilotou o carro madrinha no Circuito de Piracicaba, um Ford Galaxie 500.
Saiu da então Ford-Willys quando a Chrysler a convidou em 1967 para montar um curso de mecânica para mulheres, iniciou o curso, só que na época,
paralelamente, existia o Curso Marazzi de Automobilismo que em 68/69 foi patrocinado pela Ford, que a chamou para fazer o curso voltado para mulheres. E lá foi ela para a Ford, o Expedito Marazzi fazia o curso para homens e ela um voltado para as mulheres. Fez sucesso, teve muita procura.

1968 e 69 o Autódromo de Interlagos ficou fechado para reformas, nesse período com o autódromo fechado e já desligada da Ford-Willys não competiu, mas sempre continuou ligada ao mundo dos automóveis.

Das mulheres que participavam de corridas na época ela diz:
”- Fui a única a seguir carreira, a Lulla, a Marise até fizeram algumas corridas, mas as outras só faziam prova feminina.”
Depois da Ford foi trabalhar numa concessionária Volkswagem na Av. Ibirapuera em São Paulo, a Itapuã, como gerente de vendas de novos e usados. Comprou um Karman Ghia com motor Porsche, mas o câmbio não aguentava, era curto, muito bom para arrancadas.

1969 - Moco, Graziela e Ernayde Cardoso
na prova 3 Horas. da Guanabara
Acervo de Sidney Cardoso
1970 - Mil Quilômetros de Brasília
A
cervo de Sidney Cardoso

Como era muito amiga do casal Lulla e Piero Gancia e também de Emilio Zambello da Equipe Jolly-Gancia comprou uma Alfa GTV de 1600cc. e sempre acompanhando a equipe acabou sendo convidada para correr. Logo arrumou um patrocinador, a Valvoline.

1969 - GP Rodovia Presidente Kenenedy

1970 - X Mil Milhas Brasileiras

1970 - Copa Brasil - 2a Etapa - Interlagos

Mas sua primeira prova pela equipe, a "Prova Rodovia Presidente Kennedy" (RS) foi com seu próprio carro, seria para correr com um carro da equipe, o carro havia sido oferecido para ela, mas Rafaele Rosito (RS), que estava 1 ponto atrás na disputa pelo Campeonato Gaúcho, pediu um carro e eles  tinham três carros, o do Zambello, o do Piero e mais um, que seria dela, então propuseram preparar sua Alfa particular e o carro da equipe foi para Rosito. A Jolly-Gancia conseguiu:1º com Zambello, 2º com Rosito e 4º com Graziela. Quem chegou em 3º foi Bertuol (RS), que disputava com Rosito (RS) o Campeonato Gaucho:
”- Na última curva ele me passou, quase me jogou fora, mas não interessa, corrida é corrida. A diferença, nossa acho que foi de 3 ou 4 seg.” 

Depois passou a correr com a Alfa da equipe, mas pintada com as cores de seu patrocinador, a Valvoline, sua prova primeira foi a “X Mil Milhas Brasileiras de 1970”, e convidou Carlos Alberto Sgarbi para correrem em dupla, chegaram em 7º lugar na geral, com 64 carros disputando.
Na época onde a Equipe Jolly-Gancia ia, ela era sempre a atração:
"Quem é a Graziela? Onde está a Graziela?”

Com 23 anos de idade, convidou ninguém menos do que Ciro Cayres, consagrado piloto, para correrem em dupla a
 ”12 Horas de Interlagos“ de 1971, mas na corrida o cambio quebrou com Ciro ao volante e não terminaram. a prova.
Em 71 também participou , sozinha, da: "Corrida dos Campeõas" e “VI 6 Horas de Interlagos”, essa pelo anel externo e em 3 baterias, chegando em 7º lugar na geral.
Depois mais três provas: "300 Quilômetros de Tarumã"; "XII 500 Quilômetros de Interlagos" e "1ª Etapa da Copa Brasil". Ai saiu da Equipe Jolly Gancia.
- Porque parei na Jolly-Gancia? Porque proibiram correr carro importado, que se não, teria continuado sempre, a equipe era uma maravilha.”
Sua penúltima prova pela equipe foi o "XII 500 Quilômetros de Interlagos" em 1971 onde chegou em  14º na geral e 5º lugar na Div. 5

Quando a Jolly-Gancia parou, seu patrocinador, a Valvoline, tinha uma equipe na StockCar e a convidou para correr.
" - Experimentei o Opala, mas naquela época sair de uma Alfa e entrar num Opala era um horror, mesmo pisando fundo, parecia que o Opala não saía do lugar perto do arranque e torque do Alfa. Parecia que algo estava errado, não era mais a mesma sensação. Aí, parei.” diz Graziela, que também sentia falta do ronco do motor.
 
Parou, mas sempre possuiu moto possante, veloz, outra de suas paixões. Aí conheceu seu marido e se casaram em 1973, não trabalhou mais,
mas não virou dona de casa e nem teve filhos, começaram a abrir uma fazenda, o que não é um trabalho fácil. Como precisavam de um meio de locomoção rápido, ela aproveitou para realizar outro sonho de juventude, tirou brevê e compraram um avião monomotor, voou 7 anos com ele, depois compraram um Sêneca, 2 motores, voou mais 18 anos. Foi a primeira mulher a conseguir a licença mais graduada do Brasil, a PLA (Piloto de Linha Aérea). Foi examinadora de pilotos por muito tempo, no Brasil inteiro. Tirou licença de co-piloto de LearJet, jatinho bi-reator que faz até 900 Km/h . Voou por 31 anos, com um total de 7.000 horas de vôo.

1983 - XIII Mil Milhas Brasileiras
Mas ai já como Graziela Santos

Em 1983, meses antes da "Mil Milhas" seu marido, Carlos Alberto dos Santos, quis correr em dupla com ela e como era uma corrida longa, boa, compraram um carro pronto, o Opala StockCar de Zeca Giaffone que havia sido preparado por Jayme Silva, mas como ele tinha sua equipe, então foi Vinicius Losacco quem preparou e deu assistência de pista. 

1983 - 12 Horas do Rio de Janeiro

Naquele ano ainda participou em dupla com Maria do Carmo Zacarias com um Fiat 147 da "12 Horas do Rio de Janeiro", em Jacarepaguá, largaram em 44º lugar mas não chegaram ao final da competição, falha mecânica nessa que acabou sendo sua ultima prova automobilística.

Com gasolina nas veias, quando no ano de 1990 a convidaram para fazer o Campeonato de Off-Shore, barco, aceitou. Fez o Campeonato Brasileiro de Off-Shore de 1990 e se saiu muito bem, ficou em 3º lugar na categoria Off-Shore.
“- Parei porque pararam as corridas de Off-Shore. Teve um tempo que parou, proibiram, senão eu teria continuado, era uma maravilha.”

Por todo esse tempo teve moto Kawasaki Ninja de 900cc., avião (por 25 anos - 74 a 99), e sempre carros com motores possantes. Isso nunca mudou, estava no sangue.
Quando em 1995, a mesma equipe, agora com barcos da categoria Fórmula 1, tinham 3 barcos, mas 1 dos barcos, o piloto italiano estava na Europa e não conseguiu vir, então a convidaram, era uma final de Campeonato na Represa de Guarapiranga em São Paulo e estavam na frente do campeonato, naturalmente que ela aceitou. A corrida era no domingo, o convite foi na quinta, na sexta arrumou macacão, capacete, tudo, aí treinou no sábado, correu no domingo e chegou em 3º lugar.
“- As corridas sempre foram uma paixão, tenho uma verdadeira paixão por velocidade.”

Graziela faleceu no dia 20 de novembro de 2021 aos 81 anos de idade, em São Paulo.


Clique no link e veja uma entrevista dela ao vivo : https://youtu.be/tLsacFMDutA


Tabela de participações e resultados
 (com a colaboração de Napoleão Ribeiro e Ricardo Cunha)

26/07/1964 - 100 Milhas da Guanabara/RJ - Prova Feminina - Barra da Tijuca - Willys Interlagos 998cc nº 19 - 3º Lugar
19/06/1965 - Prova Feminina - Interlagos/SP - Renault 1093 845cc nº 23 - 3º Lugar
08/08/1965 - V Circuito de Piracicaba/SP - Grupo II - Renault 1093 845cc nº 23 -
8º na geral e 2º na G II
08/08/1965 - V Circuito de Piracicaba/SP - Grupo III - Renault 1093 845cc nº 84 - 9º na geral e 2º na G III
01/05/1966 - II 1000 Quilômetros de Brasilia/DF - Eixo Monumental - Willys Interlagos 998cc nº 68 - C/Luiz Carlos Fagundes -
AB -18º na geral e 6º na GT/PT
12/06/1966 - GP IV Aniversário da APVC - Prova Feminina - Interlagos/SP - Renault 1093 845cc nº 166 - 2º Lugar
12/06/1966 - GP IV Aniversário da APVC - Interlagos/SP - Renault 1093 845cc nº 166 -
16º na geral e 2º na G III
                                Reformas em Interlagos - 1968/69
27/07/1969 - Prova Rod. Pres. Keneedy - Lageado/RS - Alfa Romeo GTA 1.570cc nº 33 - 4º Lugar
22/11/1970 - X Mil Milhas Brasileiras - Interlagos/SP - Alfa Romeo GTA 1.570cc nº 33 - C/Carlos Sgarbi - 
7º na geral e 3º na D3
06/12/1970 - Copa Brasil - 1a Etapa - Interlagos/SP - Alfa Romeo GTA 1.570cc nº 33 - 12º Lugar
13/12/1970 - Copa Brasil - 2a Etapa - Interlagos/SP - Alfa Romeo GTA 1.570cc nº 33 - 
14º Lugar
10/01/1971 - Preliminar da Formula 3 - 1ª Corrida - Interlagos/SP - Alfa Romeo GTA 1.570cc nº 33 - 9º Lugar
17/01/1971 - Preliminar da Formula 3 - 2
ª Corrida - Interlagos/SP - Alfa Romeo GTA 1.570cc nº 33 - 10º Lugar
25/01/1971 - Preliminar da Fórmula 3 - 3ª Corrida - Interlagos/SP - Alfa Romeo GTA 1.570cc nº 33 - 10º Lugar
21/03/1971 - 12 Horas de Interlagos/SP - Alfa Romeo GTA 1.570cc nº 33 - C/Ciro Cayres - D5 - 
AB
23/05/1971 - Corrida dos Campeões - Interlagos/SP - Alfa Romeo GTA 1.570cc nº 33 - 10º na geral e 1º na D5
04/07/1971 - 6 Horas de Interlagos/SP - Alfa Romeo GTA 1.570cc nº 33 -
7º na geral e 4º na D5
01/08/1971 - 300 Quilômetros de Tarumã/RS - Alfa Romeo GTA 1.570cc nº 33 - 8º na geral e 5º na D5
07/09/1971 - XII 500 Quilômetros de Interlagos/SP - Alfa Romeo GTA 1.570cc nº 33 -
14º na geral e 5º na D5
11/12/1971 - 1ª Etapa da Copa Brasil - Interlagos/SP - Alfa Romeo GTA 1.570cc nº 33 - 15º na geral e 4º na D5
22/01/1983 - XIII Mil Milhas Brasileiras - Interlagos/SP - Opala 4.093cc nº 21 - C/Carlos Alberto dos Santos (Cala) -
AB
10/07/1983 - 12 Horas do Rio de Janeiro/RJ (Marcas e Pilotos) - Jacarepaguá - Fiat 147 1.297cc nº 35 - C/Maria do Carmo Zacarias - AB


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