Simca "Norma Bengell"
A existência
desse carro é cercada de mistério, mas existir, ele existiu.
O Simca Spyder, também chamado de “Ventania” ganhou o
apelido de “Simca
Norma Bengell”
depois que foi usado por essa atriz no
episódio “A Grã-Fina de Copacabana” do filme “As Cariocas” em 1966
(veja cena do filme abaixo) e ela também fez a apresentação dele no
autódromo de Jacarepaguá (RJ), há uma história de que foi num dia
que a equipe Jolly-Gancia estava treinando e que a mulher ao lado da
atriz é Lulla Gancia, a confirmar.
Tentando levantar sua história localizei reportagens na revista “4
Rodas” e no jornal “O Estado” que o dão como construído no
Departamento de Competição da Simca do Brasil, e também de que
Anísio Campos desenharia o modelo definitivo.
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Um dos primeiros
esboços de Anisio Campos |
Também há a informação
que o protótipo andou na pista de Interlagos pela primeira vez na
segunda quinzena de fevereiro de 1966 nas mãos de:
Ciro Caires,
Jaime Silva e
Toco Martins.
Fui então procurar o ex-piloto Toco Martins e qual não foi minha
surpresa quando ele me disse:
“- Nunca sentei a bunda nesse carro, e outra, esse carro nunca esteve
no Departamento de Competições, não sei quem o construiu”.
Dias depois procurei o também ex-piloto Jaime Silva e ouvi dele:
“- Eu era chefe de mecânica do Departamento de Competições e, posso
afirmar, esse carro não foi construído lá e nem nunca esteve lá. E
mais, nunca pilotei esse carro”.
Ambos disseram que o publicado não era verdade, nenhum deles
conhecia ou teria pilotado o carro.
Foi Toco quem arriscou um palpite:
“-
O Eng. Pasteur as vezes exagerava um pouco, talvez ele tenha
passado essas informações à revista e ao jornal para valorizar a Simca”.
Após o teste, segundo a revista, o carro parou com junta de cabeçote
queimada, mas segundo o jornal o carro parou por uma falha na
suspensão. Informações desencontradas sobre o mesmo teste.
Mas quem construiu o carro?
O Departamento de Competições não foi, Anísio Campos ao ser
consultado disse não se lembrar do carro, mas a reportagem do jornal
dá uma dica, num trecho diz:
“Para fazer o novo automóvel, com a
carroceria de Adão Brito Daher, os homens da Simca encurtaram...
para poderem casá-lo perfeitamente à carroceria”.
Já na revista tem: “...para andar recebeu uma carroceria de fiberglas arranjada às pressas no Departamento de Competições”.
Ou seja, tudo indica que
foi feito improvisadamente e às pressas, antes da Chrysler tomar
conta.
O fato é que o carro existiu, e tem uma fala de Chico Landi na
revista: “- Essa carroceria que está aí é só para fazer a plataforma
andar. Vai mudar tudo. Estamos interessados, por enquanto, apenas em
testar a plataforma, suspensão, comportamento do motor, cambio, etc”.
A plataforma usada no “pré-protótipo” (termo que Chico usava) era a
do Simca Chambord encurtada de 2,69m para entre eixos de 2,20m (na
revista) ou 2,23m (no jornal), suspensão dianteira tipo McPherson (a
mesma dos carros Simca), mas rebaixada, suspensão traseira (a mesma
também) foi modificado a inclinação dos amortecedores, no spyder era
quase na vertical.
O motor era o Simca V8 do modelo Tufão, preparado, com 2505cc e
potencia aproximada de 115 HP; caixa de cambio, provisória, de 3
velocidades, mas com a possibilidade de ser usado um desmultiplicador
(pesado)
ou uma caixa de 4 velocidades, alavanca de cambio no chão, ao
contrário dos carros de série onde eram na coluna de direção.
Os freios eram hidráulicos a tambor nas 4 rodas (jornal) ou a disco
na dianteira e a tambor nas traseiras (revista). As rodas, copiadas
do Abarth, foram fabricadas pela “Rodabras” em chapa.
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O painel de instrumentos do protótipo foi aproveitado dos carros de
série, nada adequado a um modelo esportivo, para melhorar foi
usado um volante esportivo e acrescentado um conta-giros na coluna de direção.
A principal preocupação era aproveitar ao máximo as peças nacionais,
de linha, como dizia Chico Landi à revista:
“- A Simca quer fazer um carro nacional, mesmo, com toda a mecânica
aqui... agora vamos fazer uma berlineta nacional. Para vender a quem
quiser. E ganhar competições”.
Havia, claro, a intenção de participar de corridas e de expor o
carro no “V Salão do Automóvel”, realizado em novembro no Salão de
Exposições no Ibirapuera. O plano era, segundo a revista, fazer 5
exemplares para o Departamento de Competições e em seguida fabricar
em pequena série para venda ao publico.
Mas nada disso aconteceu, a Chrysler International já era dona da
Simca na França, e em 66 comprou também a Simca do Brasil, mantendo
o nome Simca e a diretoria, mas já com novas diretrizes, o que incluía
o desinteresse em competições, então o projeto foi abandonado e
pouco depois o próprio Departamento de Competições foi desativado.
O ano de 66 foi de transição, ainda se usava a marca Simca, foi
lançado o modelo Esplanada de desenho com influencia americana,
diferente da linha anterior, e em 67 a diretoria foi destituída e
substituída por executivos da Chrysler e a marca Simca deixou de
existir.
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1967 em
Interlagos |
O spyder ficou abandonado na fábrica até ser comprado em meados de
67 pelo piloto
Roberto “Argentino” Gomez que finalmente o estreou em
corridas participando da “II 100 Milhas de Interlagos” em 1 de
outubro de 1967, chegando em 11º na geral e em 6º na categoria
Protótipo Força Livre.
Ele comentou comigo que chovia naquele dia e
parece que quem construiu o protótipo se esqueceu de fazer drenos no
assoalho (afinal o carro era conversível) e a cada parada de
reabastecimento tinham que tirar a água acumulada.
Com o fechamento de Interlagos em 1968 para reformas ele optou por
vender o carro, e é ai que se perde a pista de seu paradeiro, pois
Roberto não se lembra do nome do comprador, só se recorda que ele era do
Paraná.
Há um trabalho de Pós-Graduação em História de autoria de Ramon de
Lima Brandão na Universidade Federal de Juiz de Fora: "O
Automóvel no Brasil entre 1955 e 1961: A invenção de novos
imaginários na era JK" de onde tirei esse texto:
"...o
engenheiro Jean Jaccques Pasteur, presidente da Simca do Brasil,
sabia que sua posição na empresa era instável; assim, como forma de
criar alguma coisa nova apresentou em julho de 1966 um protótipo de
carro esportivo de dois lugares com carroceria em fibra de vidro e
mecânica do Simca Emisul, denominado “Ventania”. A apresentação
ocorreu no Autódromo Internacional do Rio de Janeiro com ampla
cobertura da imprensa e a presença da atriz Norma Bengell.
Inclusive, o carro seria utilizado no filme “As Cariocas”, realizado
naquele ano. A idéia de Pasteur era produzir o esportivo “Ventania”
em Minas Gerais, revivendo assim o projeto da fábrica de Santa
Luzia. Alguns acionistas remanescentes do grupo mineiro inicial
apoiariam a idéia e os projetistas do carro chegaram a ocupar um
pequeno escritório no local onde se planejava sua produção".
Se quiser ver o texto inteiro
clique aqui.
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Foto do teste
Reprodução jornal "O Estado" |
Foto do teste
Reprodução revista "4 Rodas" |
Fotos da
apresentação em Jacarepaguá
Reprodução jornal O Globo - Suplemento de automóveis |
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