Paixão
não se explica, se vive
Algum tempo atrás, em 2003, quando houve a morte da mãe dos irmãos
Schumacher, inúmeras pessoas se escandalizaram com a decisão dos
dois em participar da corrida de Imola saindo diretamente do velório
para a pista. Muitas páginas de jornais, sites e revistas foram
gastas para debater o assunto. Mas aqui mesmo, em terras tupiniquins, aconteceu um caso muito
semelhante que nem ao menos chegou às páginas dos jornais ou
revistas,
na época não existia Internet. Eu mesmo só
fiquei sabendo ao conversar com
Luis Américo Margarido para sua página
no site.
Corria o ano de 1956, quando
Wilson Fittipaldi (o “Barão”), pai do
Emerson
e do Wilsinho, e Eloy Gogliano (do Centauro Motor Clube)
criaram as Mil Milhas Brasileiras. Wilson ia ao autódromo de
Interlagos de táxi e para isso procurava seu amigo Luiz Américo
Margarido, que mesmo sendo proprietário de uma frota ainda guiava um
deles. Seus táxis faziam ponto na Praça da Republica, então o centro
nevrálgico de São Paulo. O "Barão", conhecendo suas habilidades ao volante, o convidou e
incentivou a participar. Margarido então começou, de táxi mesmo, a
dar umas voltas na pista sempre que ia levar o “Barão”, e após
muitas derrapadas e protestos de pilotos que diziam “se esse chofer
de praça participar eu não participo, ele é um perigo”, comprou de
Caetano Damiani uma carretera Chevrolet 6 cilindros para poder
correr. Mas, antes fez uma prova de estréia. E foi aí que o vírus da
velocidade o pegou definitivamente.
As Mil Milhas foram realizadas no dia 24 de novembro de 1956, um
sábado, e Margarido estava inscrito em dupla com Manuel Luis
Canteiro. Mas... fatalidade: na sexta-feira anterior à prova seu pai
veio a falecer. Margarido, após passar uma noite inteira no velório
e ir ao enterro no sábado, tomou um banho e foi direto ao autódromo
alinhar sua carretera para a largada, que foi dada às 19 horas. E após pouco mais de 16 horas de prova, cruzou a linha de chegada
ocupando o 14º lugar entre os 31 carros que largaram, e sem nenhuma
derrapada.
Foi uma vitória pessoal que dedicou, sem dúvida, ao pai.
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