500
Quilômetros de Interlagos, a experiência fracassada
Por Paulo Roberto
Peralta
A “Semana da
Velocidade”, promovida na Semana da Pátria pelo jornal “Folha de São
Paulo” consistia das provas: “3 Horas de Velocidade”, “Uma Hora de
Calouros” (a partir de 1966), sempre no domingo anterior ao dia 7 de
setembro quando acontecia a prova “500 Quilômetros de Interlagos”
fechando a semana.
Desde 1957, até 1963, a prova “500 Quilômetros” foi realizada pelo anel
externo da antiga, e maravilhosa, pista de Interlagos, sempre disputada por
carros das categorias Mecânica Nacional e Esporte.
Em 1964 a prova foi disputada por carros de Turismo, GT e Protótipos pelo
circuito completo de 7.960 metros, foram 4h17min58s com velocidade média de
117,22 Km/h, isso por pressão das fábricas que queriam usar o prestigio,
tradição e divulgação do “500 Quilômetros” como vitrine para seus
produtos, mas o anel externo não era adequado, a explicação dada é que a mudança
foi devido ao péssimo estado de conservação do anel externo, ao fato dos
carros da Mecânica Nacional estarem em “estágio terminal” de utilização
e também aos acidentes fatais com Edmundo “Dinho” Bonotti (nos treinos) e
com o tri-campeão da prova, Celso
Lara Barberis, na prova do ano anterior (63).
Já em 1965, novamente pelo anel externo, foi uma verdadeira “salada
mista”, correram carros Esporte, GT, Mecânica Nacional e também um Fórmula
3 da equipe Willys.
Em 1966, na sua nona edição, correram carros de Turismo, GT e Protótipos
pelo anel externo, a prova durou 3h28m01s com velocidade média de 144 km/h do
vencedor Luiz
Pereira Bueno.
Com o lançamento da categoria Fórmula Vê em 1967, que passava a ser a única
categoria de monopostos no Brasil, esta categoria foi escolhida para a realização
da prova “500 Quilômetros”, uma vez que a Mecânica Nacional se
encontrava em “fase terminal”, com a última prova da categoria tendo sido
realizada em 12 de junho de 1966, o “GP IV Aniversário APVC”, com apenas
5 participantes.
É claro que os Vê não iriam substituir os possantes, mas ultrapassados
carros da Mecânica Nacional, os Vê, mesmo tendo uma concepção moderna,
eram equipados com motores VW “standard” refrigerados a ar, de 1200cc com
apenas 44HP de potencia. A primeira corrida da categoria foi realizada no Rio
de Janeiro em 14 de maio, em seguida foram realizadas mais 5 corridas, todas
tinham o formato de 2 ou 3 baterias curtas.
Mesmo assim os organizadores resolveram prestigiar a nova categoria, decisão
que iria se mostrar equivocada, afinal era uma prova longa. Foi mantida a
tradição do anel externo, com 154 voltas perfazendo os 500 quilômetros. Foi
a mais lenta e demorada prova “500 Quilômetros” realizada pelo anel
externo de Interlagos.
Dentro desse cenário a décima edição estava marcada para 7 de setembro,
uma quinta-feira, nos treinos classificatórios “Cacaio” (Joaquim Carlos
Telles de Mattos) fez a pole-position, ele correria em dupla com “Marinho”
(Mario
Cesar de Camargo Filho) piloto que fazia a
ultima corrida de sua carreira.
De acordo com o Jornal do Brasil, edição de 6 de setembro: “Pela
primeira vez na pista apresentaram-se os Fórmula Vê da Equipe Landi, com
alguns dos melhores pilotos paulistas...”
Estes seriam: Jayme Silva, vencedor em 65; “Toco” (José
Fernando Lopes Martins), vencedor em 64; Luiz
Pereira Bueno, vencedor em 66; Jan
Balder; Francisco Lameirão e Elvio Ringel.
Ainda no mesmo jornal, “Luiz
Pereira Bueno, que há muito tempo não corre por ser exclusivo da Equipe
Willys, não aguentou as saudades da pista e entrou na Equipe Landi nas provas
de classificação para a corrida de amanhã. Tirou o sétimo lugar...”
Mas a prova não aconteceu na data prevista e Luizinho desistiu, e comentou:
“... é
gostozinho... mas falta alguma coisa”.
O Jornal do Brasil informava ainda que: “Maneco
Combacau, quando fazia um treino sem pretensões na pista de Interlagos foi
atingido por uma pedra deslocada pelo carro que ia à sua frente. A pedra
quebrou o óculos esquerdo e Maneco não pode correr na prova de classificação,
sendo substituído por Jan Balder, da Equipe Landi, que correu por esse motivo
para a Lemar, tirando um segundo lugar”,
e também que: “O quarto
lugar foi ocupado por Ludovino Perez Jr. da Equipe Sprint, que retornou às
pistas depois de longo tempo...”
Combacau foi atendido prontamente e não pode participou dos treinos, mas
correu em dupla com Jan Balder pela Equipe Lemar.
Dia 7 com tudo pronto, carros e pilotos na pista e nas arquibancadas um público
pequeno, em relação às provas anteriores, devido às fortes chuvas que
caiam sobre a cidade, tão fortes que os organizadores resolveram transferir a
prova para o domingo, dia 10.
No jornal O Estado de São Paulo do dia 8 tem uma nota sobre o adiamento da
prova onde diz que isso poderia beneficiar alguns pilotos, entre eles o piloto
gaucho Rafaele Rosito e o carioca Henrique Fracalanza que estavam em São
Paulo, mas seus carros não haviam chegado à capital paulista. Rafaele tinha
comprado o Aranae nº 110 de Bob
Sharp e havia participado, com o nº 43, de
duas provas, 9º lugar em São Paulo e 10º lugar no Rio de Janeiro. Mas
apesar do adiamento nenhum dos dois participou da prova.
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Bela
foto do carro Fitti-Ve de José Carlos Pace
Foto: Revista Qutro Rodas |
No
domingo, dia 10, largaram 16 carros, 9 eram modelo Fitti-Vê, fabricados pelos irmãos
Wilson e Emerson
Fittipaldi, e 7 eram modelo Aranae-Vê
fabricados pela Sprintwagen de Alexandre Guimarães, mas a lista de inscritos
tinha 23 carros. Reportagem da revista Auto Esporte nº 36 informa que: “...os
demais pilotos não compareceram porque a prova não ofereceu premio de
largada”.
Largada estilo Indianápolis, com os carros em movimento e com um Ford Galaxie
como carro madrinha, o pole-position pulou na frente e atrás as posições
foram quase todas mantidas.
No Jornal do Brasil, do dia 13, se lê: “Na
quarta volta, Jayme Silva, campeão dessa mesma prova em 1965 e esperança da
Equipe Landi, foi abalroado por Wilson Fittipaldi Jr., na saída da Curva 2. O
carro de Jayme Silva ficou com um rombo ao projetar-se num barranco”.
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Estado
em que ficou o carro de Cacaio
Foto: Revista Auto Esporte |
Na
vigésima volta “Cacaio” liderava. “Toco” já havia ultrapassado
“Maneco” (Paulo Manuel Combacau), “Totó” (Antonio Carlos Pereira
Porto Filho) vinha em quarto e “Moco” (Jose Carlos Pace) em quinto.
Ainda
no mesmo jornal: “Quem
liderava a competição até a 28ª volta era Jose Carlos Cacaio Matos, da
Equipe Lemar, seguido por um numero bem grande de concorrentes. Por esse
motivo Cacaio freava a todo momento, tentando abrir brechas para os seus
companheiros de equipe. Numa dessas freadas, seu mais direto perseguidor, Toco
Lopes, carro nº 62, atropelou o veículo de Cacaio, chegando a passar por
cima de seu capacete”.
“Toco” bateu seu pneu dianteiro no traseiro de “Cacaio” e teve seu
carro catapultado, passando por cima do de “Cacaio” e tocando seu
capacete, este se desgovernou e bateu (subiu) no barranco. Wilsinho que vinha
atrás, mas uma volta atrasado, não teve tempo de desviar e também bateu no
barranco. Observem no
filme
acima, +/- aos 1m10s, o carro de “Toco” levantando vôo,
depois há um corte e já se vê o carro de Wilsinho atravessado.
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Cacaio,
olhando para trás, na entrada
do retão
Foto: Revista Auto Esporte |
Na
Quatro Rodas nº 87, de outubro, tem escrito: “Depois
do acidente, Marinho, companheiro de Cacaio no carro 11, reclamava de Toco e
Jayme, apontando-os como “batedores de carro”. Por outro lado, Chico Landi
afirmava que o mal de Cacaio era olhar para trás. Inclusive virando o corpo.
“O que é prejudicial a um piloto”.
Eduardo
Celidonio, estava em 11º lugar quando
aconteceu o acidente, e teve seu carro, um Fitti, bastante avariado, tanto que
completou apenas 98 das 154 voltas previstas, ficando em 12º lugar, ele que
destruíra seu Aranae no treino de uma prova anterior.
Wilsinho, apesar de se envolver em dois incidentes onde perdeu voltas, chegou,
mesmo assim, em 6º lugar com 4 voltas de atraso.
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Totó
Porto numa tocada segura venceu o 500 Km de Interlagos de 1967 - Foto:
Revista Auto Esporte |
Lê-se
no Jornal do Brasil, do dia 13: “O
vencedor estava inscrito com o carro de nº 41, em companhia do volante Lian
Duarte. Ao efetuar um ensaio, porém, verificou que seu veículo tinha uma
falha no sistema de carburação. Totó recolheu-o à oficina e correu com o
de nº 33, de Ludovino Perez, que passava mal e não estava em condições de
correr”.
E também: “Depois
de combinar com o co-piloto da Sprint, Ruby Loureiro, que cederia seu posto no
meio da prova, Totó partiu no meio do bloco da frente e não mais saiu dessa
posição, correndo a prova toda sem ajuda do co-piloto, e sem deixar a pista
para descansar”.
“Totó” Porto largou em quarto, e por aí ficou até o acidente de
“Cacaio” e “Toco” quando passou a terceiro, e pouco antes da metade da
prova assumiu a primeira posição, não mais a perdendo até a vitória
final.
Na Quatro Rodas nº 87, de outubro, pode-se ler: “Emilio
Zambello, o homem das Alfas, não gostou do espetáculo... Achou que a corrida
não esteve boa porque o tipo de circuito (de velocidade) é impróprio para o
tipo de carro. Argumenta que os F-Vê, de quatro marchas, só precisaram da 4ª
(a não ser quando entravam e saiam do box) para fazer toda a prova. Na sua
opinião, o melhor tipo de prova para o F-Vê é a que determina a disputa de
várias baterias, pelo miolo”.
A opinião de Emilio
Zambello fazia sentido pois com os carros
nivelados pela baixa potência, igual para todos, era preciso dificuldades
como curvas de alta, de baixa, subidas, descidas, para valorizar e destacar as
habilidades do melhores pilotos.
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Cacaio
em primeiro, Tôco em segundo, pouco acima Avallone, mais em cima,
Pace, e por fim Maneco Combacau
Foto: Revista Quatro Rodas |
Resultado
da prova:
1)
Antonio Carlos "Totó" Porto Filho - Aranae - 154 voltas
2) José Carlos “Moco” Pace e
Carol Figueiredo - Fitti - 154 voltas
3) Paulo Manuel “Maneco”
Combacau e Jan Balder - Fitti - 153 voltas
4) Emerson
Fittipaldi - Fitti
- 153 voltas
5) Francisco
Lameirão e
Elvio Ringel - Aranae - 150 voltas
6) Wilson Fittipaldi Jr - Fitti -
150 voltas
7) Antonio Carlos Avallone - Fitti
- 149 voltas
8) Marivaldo Fernandes - Fitti -
145 voltas
9) Roberto Mendonça e “Volante
13” (Flodoardo Arouca) - Fitti - 142 voltas
10) Milton Amaral e Celso Gerbassi - Aranae - 142 voltas
11) Antonio Carlos Scavone e Renato Lenci - Aranae - 107 voltas
12) Eduardo Celidoneo - Fitti - 98 voltas
13) Ricardo Achcar e Pedro Vitor De Lamare - Aranae - 90 voltas
Agradecimentos:
Napoleão
Ribeiro -DF (Luikracing)
- Revisão
www.webng.com/formulave
(se quiser saber mais sobre a Fórmula Vê não deixe de clicar)
Site 500Km
de Interlagos
(clique em história e depois nessa prova)
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