Um pouco das lendas e das histórias do automobilismo dos anos sessenta
 

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24 Horas de Interlagos Mercedes-Benz
18/19 de agosto de 1951
 
 


A história do inicio das corridas de 24 horas, no Brasil, tem duas datas: 21 de março de
1925, com a realização da “24 Horas do Jardim Europa”, e 18 de agosto de 1951 com a realização da “24 Horas de Interlagos Mercedes-Benz”.
Sobre a prova do Jardim Europa há pouca informação. No jornal O Estado de S.Paulo do dia 21 de março de 1925 (dia da prova) saiu uma pequena noticia e nenhuma foto, leia trechos dessa noticia:
“A PROVA DE HOJE”
“Após a grande prova de turismo S.Paulo-Ribeirão Preto-S.Paulo, realizada ha alguns meses por iniciativa da Associação Estradas de Rodagem, e que juntamente com a Exposição de Automobilismo, organizada no Palácio das Indústrias...”
“Vão realizar esta prova três carros de série da marca “Fiat” modelo 501, typo Colonial, os quaes serão guiados pelos srs. G. Baroni, Marconcini e Passatore”
“Conforme já dissemos, a prova começará a ser disputada hoje, às 17 horas, partindo os concorrentes do ponto terminal dos bondes nº 45 - no fim da rua Augusta, e será concluída amanhã as mesmas horas e no mesmo local”
“O “Fiat” modelo 501 Colonial, que vae ser empregado nessa prova, é um carro de bitola larga (1 metro e 40 centímetros), que não só permite, na sua marcha, o aproveitamen
to dos trilhos dos bondes, como também, faz com que a sua marcha seja perfeitamente equilibrada, mesmo em estradas secundárias com sulcos profundos...”

Chama a atenção o fato de que para uma prova de 24 horas só há o nome de um piloto por carro, outra coisa é que são apenas três carros da mesma marca e modelo, parecendo ser mais uma promoção que uma corrida. O vencedor foi Valentim Passatore, sem indicação de tempo ou velocidade, nem de quem foi o segundo classificado.
Já a prova de 1951 foi realizada no Autódromo de Interlagos, organizada pelo Automóvel Clube do Brasil, através de sua sucursal, o Automóvel Clube de São Paulo e o recém fundado Auto Sport Club. Era uma prova de 24 horas de duração, em circuito fechado, que a imprensa dizia ser inédita, "a primeira da América".
- "Nessa prova só participei, corri eu e a Juze, eu com um cara (João Ribeiro) num Mercedes 170D a gasolina, e a Juze, com a esposa do meu parceiro, num carro a diesel. Não participei da organização, só corri, a organização foi do Automóvel Clube da época, nem lembro mais qual. De carro eu só participei dessa prova, e, se não me engano, de outra numa cidade do interior, talvez Araraquara, não tenho certeza". (Wilson Fittipaldi em 10/04/2012)
A Mercedes-Benz, através da Distribuidores Unidos do Brasil, forneceu dez carros (mod. 170D de 1.767cc) e a Comissão Esportiva do A.C.B. no dia 10, escolheu em uma reunião os 20 pilotos, e através de sorteio montou as duplas, eram 6 cariocas, 3 paulistas e 1 gaucha, esta foi indicada pela Associação Rio-Grandense de Volantes.
As duplas eram essas:
Cariocas: Oldemar Ramos/Vertori Antonio; Manuel de Teffé/Primo Fioresi; Rubem Abrunhosa/Anuar de Gois Daquer; Henrique Casini/Benedicto Lopes; Gino Bianco/Pinheiros Pires e José Ambrosio/Gerd Stoltemberg.
Paulistas: Francisco Azevedo/Francisco Marques; Claudio Daniel Rodrigues/Luciano Bonini e Rosalvo Mansur/Artur Troula.
Gauchos: ainda não se sabia, mas depois foram indicados: Catharino Andreatta/Aristides Bertuol.
Nesse dia já tinha a dupla carioca Luis Mario Plo/Gilberto Machado que iriam correr com carro particular.
No dia 13 saiu noticia de que a prova iria ter oficialização federal, dizendo que naquele dia o Gal. João Carlos Barreto, presidente do Conselho Nacional do Petróleo, e o Cel. Silvio Américo de Santa Rosa, presidente do A.C.B. teriam audiência com o presidente Getulio Vargas com essa finalidade. E foi o que aconteceu, na reunião foi instituído também o troféu “Getulio Vargas” para a dupla vencedora.
A Mercedes-Benz forneceu dez carros e também a assistência mecânica. A Shell, com apoio do Conselho Nacional do Petróleo, forneceu combustível e lubrificantes nacionais produzidos na Refinaria de Mataripe, na Bahia (a Petrobras ainda não existia, seria criada em 1953). Teriam classificação em separado os carros movidos a gasolina, e os a óleo diesel. A Pirelli forneceu os pneus, e com tudo igual para todos esperava-se que os pilotos mais experientes e habilidosos se sobressaíssem.
Do dia 10, quando foram escolhidos os pilotos, até o dia 18 quando saiu a lista diversas duplas se inscreveram com carros próprios. A largada da prova estava marcada para o dia 18 de agosto, sábado, às 16 horas e a sensação era a participação de uma dupla feminina: Juze Fittipaldi/Darly Ribeiro, sendo que seus maridos formaram outra dupla: Wilson Fittipaldi/João Ribeiro. Manuel de Teffé não pode vir, sendo substituído por Fernando Magalhães, também entre os paulistas houve a substituição de Artur Troula por Arlindo Aguiar.
Seriam dezoito as duplas inscritas, oito paulistas, nove cariocas e uma gaucha, com dez carros movidos a gasolina e oito a diesel, seriam..., porque após o sorteio dos números alguns pilotos cariocas discordaram com a forma e o prazo com que fora realizado e num ato de protesto resolveram não participar, incitando outros a fazer o mesmo, e alguns aderiram. Sairam: Pinheiro Pires, Rubem Abrunhosa, Anuar de Gois Daquer, Oldemar Ramos, Benedicto Lopes e Henrique Casini, abrindo dessa forma vaga para duas duplas paulistas: Ciro Cayres/Raphael Gargiulo e Geraldo Freitas/Alberto Rabay, e como os cariocas Gino Bianco e Vertori Antonio perderam seus pares, passaram a formar uma dupla. Saíram seis pilotos cariocas e entraram quatro paulistas, reduzindo para dezessete duplas no pelotão de largada, dez paulistas, seis cariocas e uma gaucha, com nove carros a gasolina e oito a diesel.

 

A largada teve a seguinte ordem:
2-   Luis Mario Polo-Gilberto Machado (RJ) - gasolina
4-   Fernando Coelho de Magalhães-Primo Fioresi (RJ) - gasolina
6 -  Claudio Daniel Rodrigues-Luciano Bonini (SP) - gasolina
8 -  Francisco Silva-Geraldo Bonn (RJ) - diesel
10 - Gino Bianco-Vertori Antonio (RJ) - gasolina
12 - Catharino Andreatta-Aristides Bertuol (RS)- gasolina
14 - Pascoalino Bonacorsa-Godofredo Vianna Filho (SP) - gasolina
16 - Joaquim Cardoso-Luis Vergueiro (RJ) - gasolina
18 - Francisco Landi-Sebastião Casini (SP) - gasolina
22 - Jose Ambrosio-Gerd Stoltemberg (RJ) - diesel
28 - Ciro Cayres-Raphael Gargiulo (SP) - diesel
30 - Rosalvo Mansur Francisco-Arlindo Aguiar (SP) - diesel
32 - Wilson Fittipaldi-João Ribeiro (SP) - gasolina
34 - Francisco Azevedo-Francisco Marques (SP) - diesel
36 - Geraldo Freitas/Alberto Rabay (SP) - diesel
44 - Francisdo Credentino-José Guidini (SP) - diesel
48 - Juze Fittipaldi-Darly Ribeiro (SP) - diesel


As autoridades que participaram da prova:
Arbitro de honra: cel. Silvio Américo de Santa Rosa, presidente do A.C.B.
Recepção: major Eugenio Menescal Conde
Diretor de corrida: Eduardo Santalucia
Auxiliares: Horacio Alves Ferreira, Artur Serra Jose Carvalho e Helio Wolfang
Comissários técnicos: Cesar Ramos, Armando Maia, Ivã A. Antunes e Alberto Jacobson
Comissários técnicos de pista: Armando Brasil, Rodrigo Junqueira, Celso Cruz e Maelmo Santos
Cronometristas chefes: Mario Dias e Edgar Viana
Auxiliares: Rubens Teixeira, Edgar S. Rego, Gothard Geizel, Vitor Goldemund, Mario Prieto, Lauriberio Santos, Fernando Prieto, Mario Osório, Jorge Leão, Manoel Gomes, Oto Linhares e Wolfang Mulhrause

Largada da "24 Horas" de 1951 (acervo de Paulo Scali)
32 - Wilson Fittipaldi e João Ribeiro (G)
34 - Francisco Azevedo e Francisco Marques (D)
28 -
Ciro Cayres e Raphael Gargiulo (D)
36 - Geraldo Freitas/Alberto Rabay (D)
10 - Gino Bianco e Vertori Antonio (D)

A largada foi dada ás 16 horas e na primeira volta Wilson Fittipaldi passou em primeiro, sendo ultrapassado por Pascoalino Bonacorsa na segunda, na 11ª volta fundiu o motor do carro da dupla gaucha. 
Na 20ª volta Gino Bianco assumiu a liderança, vindo em seguida Godofredo Vianna Filho, João Ribeiro e Chico Landi. Ainda na tarde de sábado Gino Bianco capotou, sem se ferir, e como não tinha mais condição de continuar os mecânicos retiraram o motor do carro capotado e o instalaram no da dupla gaucha, levando umas 7 horas para isso, mas aos 26 minutos do domingo a dupla Catharino Andreatta/Aristides Bertuol voltou à pista e à corrida. Outro capotamento aconteceu às 6 horas do domingo, Fernando Magalhães, também sem ferimentos, mas sem condições de continuar.











Chico Landi pilotou direto por 9 horas e 13 minutos parando apenas para reabastecer e trocar pneus, e quando na madrugada passou o volante para Sebastião Casini, estavam em 2º com a liderança de Claudio Daniel Rodrigues e Godofredo Vianna Filho em 3º lugar. Por volta das 3 horas Interlagos foi coberto por uma forte cerração e Godofredo aproveitou-se “de maneira espetacular” e de terceiro passou a líder, ultrapassando os carros das duplas Chico Landi/Sebastião Casini e Claudio Daniel Rodrigues/Luciano Bonini, mantendo essa posição até o final, terminou com mais de uma volta sobre o segundo. Os Franciscos: Chico Azevedo e Chico Marques terminaram em 5º na classificação geral, mas foram os vencedores na categoria diesel.
Andreatta/Bertuol mesmo tendo ficado parados por tanto tempo ainda cumpriram 201 voltas cruzando em 13º lugar, na frente da dupla feminina, que se não desenvolveu grande velocidade correu com regularidade e determinação, completando também 201 voltas.
 
Dos 17 que largaram, 14 completaram e a única desistência por quebra foi da dupla Rosalvo Mansur/Arlindo Aguiar que teve o diferencial quebrado as 10 horas (volta 171), os outros que não completaram foram os dois que capotaram.

A classificação final ficou assim:
1º)  14 - Pascoalino Bonacorsa-Godofredo Vianna Filho (SP) - gasolina - 257 voltas - média de 84,468km/h
2º)  18 - Francisco Landi-Sebastião Casini (SP) - gasolina - 251 voltas
3º)    6 - Claudio Daniel Rodrigues-Luciano Bonini (SP) - gasolina - 251 voltas
4º)    2- Luis Mario Polo-Gilberto Machado (RJ) - gasolina - 241 voltas
5º)  34 - Francisco Azevedo-Francisco Marques (SP) - diesel - 240 voltas
6º)  22 - Jose Ambrosio-Gerd Stoltemberg (RJ) - diesel - 240 voltas
7º)  32 - Wilson Fittipaldi-João Ribeiro (SP) - gasolina - 240 voltas
8º)  44 - Francisdo Credentino-José Guidini (SP) - diesel - 238 voltas
9º)  16 - Joaquim Cardoso-Luis Vergueiro (RJ) - gasolina  - 236 voltas
10º) 36 - Geraldo Freitas/Alberto Rabay (SP) - diesel - 232 voltas
11º) 28 - Ciro Cayres-Raphael Gargiulo (SP) - diesel - 232 voltas
12º)   8 - Francisco Silva-Geraldo Bonn (RJ) - diesel - 222 voltas
13º) 12 - Catharino Andreatta-Aristides Bertuol (RS)- gasolina - 201 voltas
14º) 48 - Juze Fittipaldi-Darly Ribeiro (SP) - diesel - 201 voltas

Dia 21 saiu publicado no Jornal do Brasil:
“O Circuito das 24 horas contou com a colaboração valiosa do Exercito Nacional que fez o serviço de comunicações em toda a pista e que durante a noite foi iluminada por possantes faróis sendo que as curvas se apresentaram pintadas com linhas fosforescestes. Tudo isso serviu para emprestar um aspecto verdadeiramente deslumbrante ao espetáculo que pela primeira vez foi realizado no Brasil”.
Com relação aos pilotos que se recusaram a correr a Comissão de Corridas do Automóvel Clube do Brasil resolveu punir os participantes Rubem Abrunhosa e Anuar de Góis Daquer, principais responsáveis, por 60 dias, Oldemar Ramos, Armando Silva e Banedicto Lopes que aderiram, 30 dias, e Henrique Casini que apesar de ficar alheio ao movimento não correu, recebeu advertência apenas.
Ou seja, penas inócuas, pois na época eram realizadas tão poucas corridas que cumpriram as penas sem perder nenhuma corrida.

Acrescentada dia 06 de janeiro de 2012
 
 

 


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