- I Grande Prêmio Cidade de Belo
Horizonte
- 14
de agosto de 1949
Circuito
da Pampulha
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Interlagos,
em São Paulo (SP), era na década de 40 o único autódromo
brasileiro, mas nem por isso não existiram corridas pelo Brasil
afora, elas eram realizadas em ruas e/ou estradas. Em Minas Gerais
corria-se, à época, pelo “Circuito da Pampulha” que
circundava a Lagoa da Pampulha, com cerca de 20 quilômetros, em
Belo Horizonte. e só lá pelo final dos anos 60, e nos anos 70
foi que o automobilismo mineiro viveu seus melhores momentos
correndo no circuito improvisado em volta do estádio do Mineirão.
Mas no ano de 1949 o “Automóvel Clube do Brasil” organizou,
com suporte e apoio da prefeitura, uma grande corrida com carros
modelo “Grand Prix”, que no ano seguinte passariam a se chamar
Formula 1 na Europa e Mecânica Nacional no Brasil, foi a prova
“I Grande Premio Cidade de Belo Horizonte”, que pretendia
reeditar em MG o sucesso do “Circuito
da Gávea” disputada desde o ano de 1933 no Rio de Janeiro e
contou com a grande maioria dos pilotos da categoria em atividade
na época. Convém ressaltar que a categoria reunia principalmente
pilotos paulistas e cariocas, pouquíssimos mineiros, enquanto que
no Rio Grande do Sul e outros estados do sul do Brasil a preferência
dos pilotos era por carreteras e corriam principalmente em
estradas.
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O
conjunto arquitetônico da Pampulha foi projetado pelo jovem
arquiteto, na época, Oscar
Niemeyer por encomenda do então prefeito de Belo Horizonte
(MG), Juscelino
Kubitschek, e construído entre 1942 e 1944. O projeto
consistia de um conjunto de edifícios em torno do lago artificial
da Pampulha: um cassino, uma igreja, uma casa de baile, um clube e
um hotel. À exceção do hotel, o conjunto foi inaugurado em 16
de maio de 1943, na presença do presidente Getúlio
Vargas e do governador do estado, Benedito
Valadares.
Jorge
Pedrosa, Gilberto Afonso Albuquerque e Artur Serra, da sucursal do
Automóvel Clube do Brasil em São Paulo estiveram em Belo
Horizonte a fim de assistir e prestigiar a prova.
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- "A
prova reunirá os ases do automobilismo brasileiro, entre os
quais o campeão Chico
Landi, Henrique Casini, Anuar de Gois Daquer, Rubem Abrunhosa e
Gino Bianco(...) A realização da prova está despertando o mais
vivo interesse. Há tempos que não se realiza uma competição de
tal vulto na capital mineira e, por esse motivo espera-se que
numerosa assistência compareça ao circuito da Pampulha”.
(Folha da Manhã - 13/08/1949)
Henrique Casini estava inscrito para correr em parceria com
o luso-carioca Antonio Fernandes da Silva
(veterano das corridas da Gávea)
na Alfa Romeo adquirida de Chico Landi e vendida à Fernandes
especialmente para essa corrida por 320 mil cruzeiros, iriam
fazer 5 voltas cada um.
A
prova estava marcada para o dia 14 de agosto e contou com 21
carros no grid de largada para realizarem 10 voltas pelo circuito
de aproximadamente 20 quilômetros e contou com a presença do
prefeito, Dr. Otácilio Negrão de Lima.
“A
largada teve lugar às 14, tomando logo a dianteira do pelotão o
volante português Antonio Fernandes. Entretanto o nacional
Francisco Landi a uns 500 metros depois assumiu a frente do mesmo,
mantendo-se esta até a 8ª volta quando a mesma foi interrompida(...)” (Jornal do
Brasil - 16/08/1949)
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Fonte:
Revista Cruzeiro |
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Largaram 21 carros e ao final da primeira
volta todos passaram pela cronometragem, mas na segunda faltou
um,
Antonio Fernandes da Silva , ele
capotou, rolou por um barranco e seu carro se incendiou, o piloto
teve a perna esmagada e foi levado ao Hospital São José onde precisou ter
a perna amputada.
“As
causas do desastre são por todos ignoradas. No entanto,
palestrando com alguns mentores do Automóvel Clube do Brasil,
nossa reportagem foi informada que a velocidade possa ter sido a
causa fatal da ocorrência. Fernandes da Silva, ao que tudo indica
entrou com bastante violência em uma curva, após uma reta. Ao
trocar a marcha talvez atrapalhou-se e perdeu o controle do carro.
O volante, pelos sinais no chão, freou violentamente sua maquina.
Deu várias viravoltas e em seguida projetou-se contra o gradil de
uma ponte. A parte traseira da Alfa-Romeo arrancou dois pilares de
cimento armado e depois rolou no barranco completamente
incendiada. Com a queda, o carro foi partido em três partes,
ficando cada uma delas bastante distante da outra. Com exceção
do motor nada mais se aproveitará co carro fatídico.
O carro sinistrado é a Alfa-Romeo de 3000 cilindradas que
pertenceu a Chico Landi e que tantas glorias deu ao conhecido
campeão do automobilismo brasileiro. Foi adquirida pelo carioca
Henrique Casini que a seguir a vendeu a Antonio Fernandes.”
(Folha da Manhã - 16/08/1949)
Pouco
depois, quando transcorria a quarta volta ocorreu mais um acidente
grave, desta vez com o piloto mineiro Otacílio Rocha (havia
participado, entre outros, do GP Getulio Vargas em 1941) que
perdeu a direção, subiu no meio fio e bateu num poste, vindo a
falecer. Neste acidente ficou também ferido um Guarda-Civil com
alguma gravidade, mas sem risco de morte, além de algumas pessoas
sem nenhuma gravidade.
No Jornal do Brasil, do dia 16, estava assim:
“Ao
completar a 3ª volta, tentou passar a frente de Raphael Gargiulo,
tendo então perdido a direção e se projetado de encontro a um
poste, resultando do desastre perder a vida com fratura na base do
craneo”.
Já
na Folha da Manhã do mesmo dia, e mais confiável, pois teve um
repórter no local e uma matéria muito mais ampla e detalhada,
dizia:
“Cumpria-se
a quarta volta da corrida e, pela curva próxima do “box” passavam
o mineiro Otacílio Rocha por dentro e o carioca Gino Bianco por
fora. Ambos iam em grande velocidade. O mineiro entrou muito e
bateu no meio fio. O carro subiu para o passeio, onde se
encontravam postadas centenas de pessoas. Houve um desvio rápido
do volante e o carro chocou-se contra um poste de iluminação pública,
derrubando-o. Otacílio Rocha foi atingido em cheio pelo poste e
ficou gravemente ferido. Quando era encaminhado para o hospital, não
resistindo aos ferimentos que recebeu na cabeça, faleceu na ambulância(...)
no acidente ficou ferido um guarda-civil que se encontrava de
serviço no local(...) ficaram ainda feridas algumas pessoas, porém
sem nenhuma gravidade. Essas,
quando se deu o acidente, procuraram fugir do local, ferindo-se
então na correria”.
A
prova, inicialmente prevista para 10 voltas, não chegou ao seu
final. O chefe de polícia, Campos Cristo, ficou muito
impressionado com os dois acidentes e mais ainda com a multidão
que fugia ao controle e começava a invadir a pista na ânsia de
ver mais de perto a disputa, e então no inicio da 8ª volta
determinou que fosse interrompida, Manuel de Teffé, presidente da
Comissão Esportiva do Automóvel Clube do Brasil e Pedro
Santalucia, superintendente de pista acataram a determinação e
deram a bandeirada ao fim da volta, ficou a prova reduzida então
em 2 voltas, mas teve seu resultado validado.
“...
afirmou
que assim procedera porque encontrava-se o publico sem garantias,
o mesmo ocorrendo com os corredores, pois os assistentes
constantemente atravessavam a pista”.
(Jornal da Manhã - 16/08/1949)
“Foi
dos mais infelizes o desfecho do I Grande Premio Cidade de Belo
Horizonte, em virtude do policiamento deficiente e do mau
isolamento do publico, um dos concorrentes teve morte trágica e
outro ficou gravemente ferido, tendo a perna direita amputada
minutos após o desastre que o vitimou. Outras pessoas sofreram
ainda ferimentos leves e um guarda-civil foi transportado em
estado grave para o hospital”.
Assim começava a matéria da Folha da Noite do dia seguinte à
corrida.
“Para
as oito voltas, num total de 164.400 metros, Chico Landi marcou o
tempo de 1 hora, 23 minutos, 13 segundos e 7 décimos. Chico Landi
foi ainda o autor da melhor volta, com 9 minutos e 4 décimos”.
(Folha da Manhã -
16/08/1949)
Dos
21 que largaram apenas dez completaram a prova, 9 não terminaram,
por quebras ou pequenos acidentes, e mais os dois que se
acidentaram gravemente.
Assim ficou o resultado:
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1)
Chico
Landi (paulista)
2) Francisco
Marques (paulista)
3) Gino
Bianco (carioca)
4) Amaral Junior (paulista)
5) Antonio Parra (paulista)
6) Aurélio Ferreira (carioca)
7) Raphael
Gargiulo (paulista)
8) Pascoalino Buonacorsa (paulista)
9) Nino Stefanini (carioca)
10) Valdré Tassini (mineiro)
Somente os três primeiros completaram as oito voltas, os demais
completaram 7 voltas.
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- “O
Sr. Artur Serra, da sucursal do Automóvel Clube do Brasil em São
Paulo, e que se encontrava como dirigente da prova achava-se bem
próximo do local do acidente. Falando à reportagem das FOLHAS
aquele esportista adiantou que Otacílio Rocha, num gesto heróico
arremeteu sua máquina contra o poste preconcebidamente e dessa
maneira evitou matar um numero incalculável de assistentes. Se não
tivesse agido dessa maneira Otacílio Rocha poderia ter outra
sorte, mas muitas mortes se lamentariam, dada a velocidade do
carro”.
(Folha da Manhã - 16/08/1949)
No
dia seguinte, às 20 horas nos salões da prefeitura foram
entregues os prêmios pelo prefeito,
Dr. Otácilio Negrão de
Lima:
"Os
principais classificados, além de taças e medalhas, receberam os
seguintes prêmios em dinheiro: 1º lugar - Cr$ 50.000,00; 2º -
Cr$ 25.000,00; 3º - Cr$ 15.000,00; 4º - Cr$ 10.000,00; 5º - Cr$
5.000,00; 6º - Cr$ 3.000,00. Valdré Tassini, por ser o primeiro
classificado mineiro recebeu o premio de 10.000,00 cruzeiros”.
(Folha da Manhã - 16/08/1949)
Assim como o Grande
Premio Cidade de São Paulo, realizado em 1936 pelas ruas de
São Paulo, e que terminou em tragédia, esse Grande Premio
também não teve continuidade devido também ao seu final
trágico.
Veja mais sobre os acidentes
clicando aqui.
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Otacílio Rocha, a vitima |
Chico Landi, o
vencedor |
Chico Marques, o
2º lugar |
Fonte: Revista
Cruzeiro |
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Antes da
prova teve a visita do
Deputado Federal,
Juscelino Kubtischek.
Notem que a inscrição Casini está no capo do carro
acidentado. |
Aspecto da prova passando pela barragem
Fonte: Revista Cruzeiro |
Acrescentada
dia 1 de outubro de 2011 (atualizado em 25/09/2015 e 11/04/2018)
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