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São
Paulo teve o primeiro autódromo do Brasil e da América do Sul:
Interlagos,
inaugurado em 12 de maio de 1940. Mas sua história começou bem
antes, em 1926, quando o Eng. Louis Romero Sanson apresentou seus
planos para implantação de um novo bairro, o “Balneário Satélite
da Capital” e nele estava previsto a construção de um autódromo.
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O
bairro chegou a ter iniciadas suas obras, mas com a crise de 1929
nos EUA e suas consequências em nosso país, e mais as revoluções
de 1930 e 1932 no Brasil, as verbas foram reduzidas, as obras
diminuíram o ritmo e o autódromo teve seus planos engavetados. A
prática do automobilismo em São Paulo também parou por muito
tempo, só retornando em 1935, culminando com a realização de
uma prova internacional nas ruas e avenidas do Jardim América em
12 de maio de 1936 (veja
aqui), prova que terminou em tragédia, com a morte de 5
expectadores e ferimentos graves em mais 35 pessoas, além de um
decreto proibindo corridas em ruas.
- Mas
na véspera dessa prova os jornais publicaram na primeira página
um anuncio de página inteira sobre o lançamento da construção
de um autódromo no bairro do Jaguaré, zona oeste de São
Paulo.
Na parte
superior do mapa aparece o Frigorífico Continental
em cujas terras foram construidos o Parque
Continental e o Shopping Continental.
Em 27.02.1916, o frigorífico Continental Products
Company publicou uma carta aberta na primeira página
do Estadão: |
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"...O
novo bairro, Parque Continental, foi formado num
sítio pertencente ao antigo Frigorífico Wilson,
(antigo Continental) onde havia rebanhos de gado na
engorda, preparados para o abate. A área toda fica
localizada, a maior parte, no município de São
Paulo, separado por um córrego, divide com o
município de Osasco a parte menor..." |
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O
autódromo era parte de um grande empreendimento industrial a ser
implantado na região, o Centro Industrial do Jaguaré planejado por Henrique Dumont
Villares.
A
região era uma grande fazenda de 165 alqueires que havia pertencido
à Cia. Suburbana Paulista, empresa fundada por Ramos de Azevedo e
que em 1935 foi comprada pela Sociedade Imobiliária Jaguaré,
criada por Henrique Dumont Villares, engenheiro agrônomo, formado
na Bélgica, sobrinho e afilhado de Alberto Santos
Dumont, o pai da
aviação. Dumont Villares idealizou um projeto de urbanização
para a região, que era dividido em três áreas: residencial,
comercial e industrial. O plano era o centro comercial rodeado pelas residências e estas pelas indústrias.
O nome “Jaguaré” era de um ribeirão que nascia em Osasco e
desaguava no Rio Pinheiros, cruzando a região e dando-lhe o nome, e
que significa “lugar onde existem onças” em tupi-guarani (jaguar ou
jaguaretê), em referencia aos felinos que ainda habitavam a região.
Abaixo, trechos de reportagem (na grafia da época) publicada no
mesmo dia do anúncio:
“UM NOVO
BAIRRO PAULISTA
Alem
de Pinheiros, entre o Butantan e o Rio Tietê, extende-se a
ampla área do Jaguaré. Local belíssimo, optimamente
situado, onde se deparam as maiores possibilidades de expansão
da metrópole paulistana...”
“É que ali se projecta a localização de um novo bairro de São
Paulo, sob aspectos urbanisticos mais modernos e com
finalidades mais amplas e racionaes do que os até agora
abertos na cidade...”
“...Chamar-se-á assim mesmo: Centro Industrial do Jaguaré. E alem de
reunir, num conjunto harmônico, installações fabris e
armazéns de mercadorias, terá residências para operários,
casas de diversões, etc., sendo de notar a soberba pista de
corridas automobilísticas já em construcção, rodeada por
archibancadas naturaes, em ampla bacia, constituindo o maior
e melhor autódromo da América do Sul.”
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Encerrando
a reportagem havia uma entrevista com Dumont Villares, onde após
explicar todo o projeto também falava sobre o autódromo:
“-
E contribuindo no sentido de augmentar as opportunidades de diversão
dos habitantes da capital, estamos construindo uma vasta pista para
corridas de automóvel, motocycletas, etc., o que pensamos ser um
attractivo bastante forte para os forasteiros e um incentivo, assim,
para o turismo, industria tão rendosa que muitos paizes della se
utilizam quasi que exclusivamente.”
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No
mesmo jornal, mas na reportagem sobre a corrida foi publicado uma
nota sobre a visita que Dumont Villares realizou à “Commissão
organizadora” para convidar os automobilistas a visitarem na
segunda-feira após a corrida as obras da nova pista. Mas após
desfecho tão trágico da prova no domingo, essa visita, ao que tudo
indica, foi cancelada, não encontrei notícia alguma nos jornais da
semana seguinte à prova. Todos só falavam da tragédia.
Desde a fase inicial de
implantação do projeto do Centro Industrial o rio Pinheiros era
uma barreira natural que limitava o acesso de veículos e pessoas,
atrapalhando o plano. Nesse sentido a obra de construção de uma
ponte foi autorizada pelo prefeito Fabio Prado em julho de 1937,
teve seu contrato de construção assinado em novembro com a
Sociedade Imobiliária Jaguaré que iniciou as obras em dezembro do
mesmo ano.
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Notícia
publicada na Folha da Manhã do dia 26 de novembro de 1938 dizia
da conclusão da ponte, mas dizia também que apesar de pronta não
havia sido entregue ainda ao publico porque a avenida de acesso à
ela, no lado da Lapa, não estava concluída.
Com a conclusão da ponte, na década de 40 dezenas de indústrias
se instalaram no Centro Industrial incentivando o estabelecimento
de funcionários em áreas próximas, e comerciantes para atender
essa nova população iniciando dessa forma um período de
crescimento econômico e demográfico, mas então o projeto do autódromo
já havia sido abandonado, em parte por causa do acidente em 1936,
e pelos mesmos motivos: problemas de
acesso, e também por que a pista de Interlagos já ia se tornando uma
realidade.
Sendo inaugurada em 1940 após alguns adiamentos
Não há detalhes sobre a pista, mas olhando-se o desenho na
propaganda percebe-se que seria um oval.
Acrescentada
dia 29 de novembro de 2011
Revisada em 16/10/2021
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